Tributo aos 90 anos de Ariano Suassuna terá espetáculo e filme

Luiz Carlos Vasconcelos prepara espetáculo com a Barca dos Corações Partidos e Eduardo Belmonte dirige filme sobre o artista

Matheus Rangel Abner Barbosa

Ariano Suassuna durante aula-espetáculo em BH, em 2000 - Foto: Carlos Altman/EM/DA Press

Durante o lançamento do livro O decifrador, de Alexandre Nóbrega, que reúne fotografias de Ariano Suassuna, o escritor e dramaturgo paraibano, então aos 85 anos de idade, pediu que as homenagens a ele fossem postergadas para o seu aniversário de nove décadas. “Eu vou estar vivo”, prometeu a Andrea Alves, produtora de teatro.

Dois anos depois, em 2014, um acidente vascular cerebral hemorrágico impediu Ariano de cumprir o combinado. Andrea, por sua vez, manteve o trato, e, neste ano, tira do papel o tributo que preparou para o artista na comemoração dos 90 anos de seu nascimento – celebrados em 23 de julho – sob a forma de um espetáculo musical.

A peça, que ainda não ganhou título, na verdade nunca esteve só no papel: ocupou também a mente e o coração dos integrantes da companhia Barca dos Corações Partidos, que, desde o ano passado, iniciaram o processo de pesquisa para compor o material. Os ensaios já começaram, embora a linearidade e o formato da história ainda não estejam definidos.

Tudo o que se sabe é que “será uma homenagem que ele gostaria de ver”, diz Andrea, baseada no denso universo criado por Ariano e na personalidade irreverente. Livros, poesias, textos e apresentações do escritor estão sendo estudados, e os atores fizeram excursão por Taperoá – cidade onde ele morou com a família antes de se mudar para o Recife –, passando pela fazenda Carnaúba e pela Pedra do Ingá, também na Paraíba.

“Não estamos remontando uma obra específica dele, mas construindo algo novo. Vamos tratar do legado artístico de Ariano, mas claro que a pessoa dele é tão grande quanto a obra. Estamos estudando a história de vida, histórias que contava, porém, o mais importante é entender em quais lugares o público o reconhece dentro desse contexto”, afirma o ator Eduardo Rios, escalado para a peça, sobre as diversas facetas de Suassuna.

O roteiro será de Bráulio Tavares, a direção de Luiz Carlos Vasconcelos e a trilha sonora de Chico César. “Luiz escreve uma cena e criamos algo em cima, então Chico cria uma melodia e Bráulio bota letra.
Os próprios atores também criam letras. O que temos agora é um arquivo de pérolas e momentos interessantes de cenas, textos e coisas do Ariano que queremos botar na peça e ainda estamos descobrindo como tudo se encaixa”, conta Eduardo.

O escritor paraibano Ariano Suassuna, autor do clássico Auto da Compadecida, morreu em 2014, aos 87 anos - Foto: Edu Simões/DivulgaçãoAULAS-ESPETÁCULO O espetáculo deve estrear em junho, no Rio de Janeiro. Responsáveis por ajudar a popularizar a obra de Ariano, as famosas aulas-espetáculo também inspiram tributo artístico ao dramaturgo: elas são a base do filme (de título provisório) Riso de Ariano, que está em fase de desenvolvimento. O projeto é da produtora GroupCine, em parceria direta com a família do artista. A direção fica por conta de Eduardo Belmonte, conhecido por filmes como Entre idas e vindas (2016) e Se nada mais der certo (2008), e o roteiro é assinado por Tatiana Maciel e o marido, o também pernambucano João Falcão.

Na trama, as histórias contadas por Ariano nas aulas-shows serão reimaginadas e representadas em forma de contos. As filmagens ocorrerão no segundo semestre, no Rio de Janeiro, e a previsão é de que chegue às telas ainda neste ano – primeiro no Nordeste. “São histórias que a gente cata nas aulas-espetáculo. Ele contou várias histórias, então nós pegamos e as dramatizamos, fazemos como se fossem curtas, pequenas histórias dentro do filme. Ainda não sabemos se teremos um Ariano dentro do enredo, porque falta fazer um tratamento final do roteito”, observa João Falcão.

O objetivo da GroupCine é que o longa-metragem se transforme em uma série para a televisão, cuja exibição deve ocorrer na Globo ou em algum dos canais da Globosat. O elenco ainda não está definido, mas irá abarcar tanto nomes conhecidos quanto iniciantes. A produção é nacional e promete incluir artistas de todo o país.

Foi em Garanhuns, Pernambuco, a 230 quilômetros de Recife, que Ariano Suassuna promoveu sua última aula-espetáculo, poucos dias de morrer. Uma semana antes, encantou mais de 1,3 mil pessoas com outra apresentação, desta vez no Teatro Castro Alves, em Salvador, na Bahia. Estava rodando o país com o projeto Arte como Missão.
No palco, fazia homenagens, contava piadas e compartilhava contos provenientes das próprias obras. Dava uma aula de história da arte partindo do legado cultural brasileiro, afirmando que, daí, vem toda a inspiração para criar. Muitas vezes acompanhado de música e dançarinos, aproveitava para comentar sobre – ou alfinetar – ícones da cultura pop, como Michel Jackson, Lady Gaga, Calypso e o reality show global Big brother Brasil.

 

 

Nova Fronteira prepara lançamento póstumo


A obra Romance de Dom Pantero no palco dos pecadores, dividida em duas partes (O jumento sedutor e Palhaço tetrafônico) é resultado de anos de trabalho de Ariano e será publicada postumamente neste ano, como forma de tributo ao aniversário de 90 anos do autor, pela editora Nova Fronteira. O selo pretende relançar também, ainda em 2017, o clássico A pedra do reino.

Obras culturais em diversos formatos ajudam a perpetuar o imenso legado do dramaturgo Ariano Suassuna. Em janeiro deste ano, as ruas do Recife ganharam uma estátua do dramaturgo como parte do Circuito da Poesia, na Rua da Aurora. Em dezembro de 2014, o Teatro Arraial, na Boa Vista, foi rebatizado para homenagear o artista e passou a se chamar Teatro Arraial Ariano Suassuna.

Em 2015, foi inaugurado o Museu da Casa de Ariano, na antiga residência do escritor no Centro de Taperoá, na Paraíba, onde viveu antes de se mudar para o Recife. O objetivo é preservar o local que abrigava os objetos cênicos usados na gravação da minissérie da Globo A pedra do reino, em 2007, adaptação televisiva da obra do dramaturgo.

.