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Veja história do coletivo Los Carpinteros, que expõe no CCBB

Grupo de artistas se conheceu durante aula no Instituto Superior de Artes (ISA), em Havana, no início da década de 1990

Pablo Pires Fernandes
Obra Cidade transportável, marco da história de Los Carpinteros - Foto: CCBB/divulgação
O Instituto Superior de Artes (ISA), em Havana, foi o centro criativo de uma geração de artistas cubanos e o ponto para onde convergiram Marco Castillo, Dagoberto Rodríguez e Alexandre Arrechea, que viriam a formar o trio Los Carpinteros, coletivo que segue atualmente com os dois primeiros. A época era de extrema carência econômica, o que contrastava com a abundância intelectual e artística da universidade em Cuba.


Rodolfo de Athayde, curador da exposição Objeto vital, que será aberta na quarta-feira (1) no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Belo Horizonte, destaca a importância de René Francisco, artista e professor do ISA. Ele teve papel central na formação dessa geração de autores – sobretudo na obra do Los Carpinteros – por sua maneira livre de lidar com a arte sob a censura do governo socialista.


“Nós nos conhecemos em 1992 e nos unimos para um exercício específico de aula, mas logo ficaram umas ideias por resolver e isso nos fez continuar trabalhando”, conta Marco Castillo. “Hoje, 25 anos depois, estamos na mesma situação. Temos dois ou três projetos em que colocamos toda a nossa energia e um arquivo de ideias que ainda estamos tentando resolver”, brinca.

LABORATÓRIO Dagoberto Rodríguez revela que a ideia de trabalhar como coletivo sempre os atraiu. Funciona como uma espécie de laboratório artístico, em que ambos trazem ideias em função do nascimento de uma nova obra. “Discutir temas, soluções conceituais, colaborar e dialogar são características de nosso processo de trabalho”, explica. Desde o início da carreira, a aquarela é um elemento de diálogo entre os integrantes de Los Carpinteros, além de servir como o primeiro momento no processo de criação.


O curador Rodolfo de Athayde destaca dois momentos da trajetória do coletivo, que estão representados na exposição do CCBB. No primeiro, que ele chama de “Objetos de ofício”, a produção está relacionada aos ofícios e expressa o lado da carpintaria, pois muitas obras são realizadas em madeira. O segundo momento ocorre quando os autores começam a mostrar trabalhos no exterior, passando a frequentar bienais e a ter maior contato com outros artistas.


Para Athayde, Cidade transportável marca o momento de passagem entre uma fase e outra. “É uma obra de transição, pois evidencia que já não é mais possível fazê-la de maneira artesanal, implica algum tipo de trabalho industrial”, observa.

URBANIDADE Na segunda fase, a qual o curador denomina “Objetos possuídos", a obra de Los Carpinteros começa a ganhar “mais universalidade, fica mais descontextualizada”

. “São objetos relacionados ao conceito de urbanidade, com maior grau de simbolismo, já que estão vinculados a objetos de uso industrial do cotidiano ou à própria arquitetura, algo mais concreto. Tem a ver com a desconstrução de camas, sofás e carrinhos de supermercado, por exemplo”, analisa.


O curador destaca que os trabalhos, geralmente, expõem uma preocupação vinculada ao urbano e à arquitetura. “Muitos são objetos realizáveis, projetos que poderiam se tornar um prédio real – como o Capacete –, obras que trazem um conceito, que levam a subversão do objeto ao plano arquitetônico, sugerindo que qualquer coisa pode virar a estrutura de uma casa, um prédio ou uma cidade ou ainda influir no conceito arquitetônico urbano de forma geral”, conclui.