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Bauman se estabeleceu como um dos maiores pensadores da atualidade

Filósofo e sociólogo polonês criou conceito de 'modernidade líquida', sobre a efemeridade das relações na sociedade contemporânea

Redação EM Cultura

Zygmunt Bauman faleceu ontem aos 91 anos, em Leeds, na Inglaterra. - Foto: Eloy Alonso/Reuters 20/10/10


Autor de uma das obras mais influentes da contemporaneidade, o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman morreu ontem, aos 91 anos, em Leeds, na Inglaterra. Criador do conceito de ''modernidade líquida'', que descreve as novas formas de relações sociais na pós-modernidade, escreveu dezenas de livros, que tiveram desdobramentos em várias campos de estudo, da política à filosofia, com especial interesse pela cultura. Até o fechamento desta edição, a causa da morte ainda não tinha sido divulgada.

Nascido em 19 de novembro de 1925, em Poznan, na Polônia, Bauman deixou seu país natal quando criança, fugindo com a família para a antiga União Soviética. Serviu na Segunda Guerra Mundial e, mais tarde, foi expulso do país pelo Partido Comunista, em uma confusão marcada pelo antisemitismo envolvendo conflitos em Israel. Ele se mudou para Tel Aviv. Retornou à Polônia, onde lecionou na Universidade de Varsóvia. Em 1971, mudou-se para Leeds, onde permaneceu a maior parte da sua carreira como professor e pensador. Até o fim da vida, manteve-se muto ativo até seus últimos dias.

Sua obra, que ganhou proeminência nos anos 1960, foi reconhecida com diversos prêmios, entre eles o Príncipe de Asturias de comunicação e humanidades, em 2010. Seus trabalhos teóricos abriram um vasto campo de estudos para as mais diferentes áreas, com muito foco no individualismo e a efemeridade das relações – e até mesmo a revolução que as mídias digitais trouxeram para o mundo atual. ''Tudo muda rapidamente. Na sociedade contemporânea, nada é feito para durar'', escreveu, resumindo o cerne de seu pensamento, que descreve a instabilidade dos valores e a incerteza que perpassa as relações tanto pessoais como institucionais.

Um dos maiores filósofos e sociólogos do fim do século 20 e início do século 21, Bauman teve grande parte das obras traduzidas para o português e publicada pela Editora Zahar

. Seu livro lançado no Brasil, foi A riqueza de poucos beneficia todos nós?, que critica a lógica do capitalismo neoliberal e a concentração de riqueza.

Este aspecto foi também tema de um recente diálogo com o papa Francisco. Os dois se encontraram no ano passado em Assis, na Itália, por ocasião de um evento inter-religioso para a paz. Após o evento, Bauman destacou a necessidade do diálogo na sociedade mundial atual. ''Uma cultura de diálogo, a igual distribuição dos frutos da terra e do trabalho. O papa Francisco disse que este diálogo deve estar ao centro da educação de nossas escolas para dar instrumentos para resolver os conflitos de maneira diferente da qual estamos habituados a fazer'', ressaltou aos presentes.

Antes da notícia, a Editora Zahar já planejava para este mês o lançamento de uma nova obra, Estranhos à nossa porta, uma reflexão sobre a crise migratória na Europa. Segundo a editora, Bauman analisa nesse livro as origens, os contornos e o impacto desse ''pânico moral'' que os refugiados despertam em algumas pessoas.

Casado com Janine Lewinson-Bauman desde a época do pós-guerra, Bauman deixa três filhas.


BIBLIOGRAFIA


Confira livros do filósofo editados no Brasil


. A cultura no mundo líquido moderno
. A ética é possível num mundo de consumidores?     
. Amor líquido
. A riqueza de poucos beneficia todos nós?     
. Aprendendo a pensar com a sociologia
. A sociedade individualizada
. Babel - Entre a incerteza e a esperança       
. Bauman sobre Bauman -  Diálogos com Keith Tester        
. Capitalismo parasitário - E outros temas contemporâneos    
. A arte da vida
. Cegueira moral - A perda da sensibilidade na modernidade líquida
. Comunidade - A busca por segurança no mundo atual
. Confiança e medo na cidade
. Danos colaterais
. Em busca da política     
. Ensaios sobre o conceito de cultura
. Estado de crise
. Estranhos à nossa porta
. Europa - Uma aventura inacabada
. Globalização: as consequências humanas
. Identidade -  Entrevista a Benedetto Vecchi       
. Isto não é um diário     
. Legisladores e intérpretes
. Medo líquido     
. Modernidade e ambivalência     
. Modernidade e Holocausto     
. Modernidade líquida     
. O mal-estar da pós-modernidade
. Para que serve a sociologia?
. Diálogos com Michael Hviid Jacobsen          
. Sobre a fragilidade dos laços humanos
. Sobre a ética pós-moderna
. Sobre educação e juventude    
. Sobre modernidade, pós-modernidade e intelectuais
. Tempos líquidos
. Vida a crédito -  Conversas com Citlali Rovirosa-Madrazo
. Vida em fragmentos     
. Vida líquida
. Vida para consumo -  A transformação das pessoas em mercadoria       
. Vidas contadas e histórias vividas
. Vidas desperdiçadas     
. Vigilância líquida
. 44 cartas do mundo líquido moderno