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Roberto Bolaño terá mais uma obra póstuma lançada

Atualmente reverenciado por leitores de todo o mundo, obra do escritor chileno, que morreu 2003, é intitulada O espírito da ficção científica e foi escrita em 1984

Alexandre de Paula-Especial para o EM
O escritor chileno Roberto Bolaño, que deixou um arquivo de mais 14 mil páginas manuscritas - Foto: Julian Martin/AFE/AP

A morte nem sempre é um ponto final. Para o escritor chileno Roberto Bolaño, de fato, deixar a vida não significou o fim da obra. Muito pelo contrário, na verdade. O maior clássico de Bolaño, 2666, por exemplo, só foi publicado depois da partida do escritor, aos 50 anos, em 2003, que deixou instruções para isso. Agora, um novo Bolaño chega postumamente às mãos do público com a edição de O espírito da ficção científica.

Apesar de não ter sido publicado até então, O espírito da ficção científica foi uma das primeiras obras em prosa escritas por Bolaño, que só começou a publicar aos 43 anos. O autor chileno escreveu o romance em 1984 e o ambientou na Cidade do México, um dos diversos lugares em que morou antes de se fixar na Espanha nos últimos anos.

Ainda sem data para sair no Brasil (mas com publicação já confirmada e prevista para fevereiro, pela Companhia das Letras), O espírito da ficção científica foi lançado na Feira Internacional do Livro de Guadalajara e marca também a mudança de editora da obra do autor na Espanha. Durante toda a vida, Bolaño publicou pela Anagrama, mas agora a família preferiu a Alfaguara (no Brasil, um braço da Companhia das Letras). A casa vai lançar neste e no próximo ano 21 títulos do autor.

Na coletiva de lançamento da obra, a viúva de Bolaño, Carolina López, falou com a imprensa sobre a decisão de publicar o livro.
Ela fez a si mesma a pergunta incontornável: Se Bolaño estivesse vivo, teria publicado esse romance? “A premissa é falsa porque ele não está. Mas é possível que não, porque publicaria o que estivesse escrevendo, mas certamente estaria contente por ser publicado agora”, respondeu Carolina

ESPÓLIO

Ela explicou também a organização do arquivo do escritor, que deixou mais de 14 mil páginas em várias pilhas de papel. Cadernos, pastas, livros de poemas, cartas e recortes compõem o acervo, que foi digitalizado. Carolina acredita que o acesso permite entender um pouco de como funcionava o processo de Bolaño.

A razão para tanto material, explicou, é que o autor escreveu muito entre 17 e 43 anos. Ela contou também que o livro publicado agora era um manuscrito com assinatura do escritor. “O manuscrito tem sua assinatura e uma data (1984), algo que outros originais não têm”, disse.

Segundo a viúva, O espírito da ficção científica não foi, de maneira alguma, uma montagem feita por editores ou pela família. “Nunca comprometeríamos o prestígio de Roberto publicando coisas incertas. Tampouco vamos dizer que O espírito da ficção científica vai fazer sombra a uma obra como 2666. A decisão de publicar algo é da família, mas dividida com o agente e o editor, que a respalda”, garantiu.

Autor do prólogo de O espírito da ficção científica, o mexicano Christopher Domínguez Michael salientou, na mesma coletiva, que Bolaño teve tempo suficiente para destruir tudo o que poderia ser publicado após sua morte, considerando o período que permaneceu doente. Isso justificaria também a publicação do romance agora..