A notícia do nascimento do filho do carpinteiro José e da jovem Maria ganha ares de boa-nova ano a ano. Como a ''série'' de maior sucesso, a cena do menino colocado no coxo destinado aos animais, logo depois de vir ao mundo, numa parada inesperada de seus pais em fuga do Império Romano, emociona há mais de 2 mil anos. Mesmo com spoiler, a narrativa se renova pela força e pela inventividade na maneira de ser contada. Uma dessas recriações é o espetáculo Messias, de Händel, montagem da Cia. de Dança do Palácio das Artes, que estreia hoje e faz mais quatro apresentações até o dia 21, no Grande Teatro, sob a direção do bailarino e coreógrafo Rui Moreira.
Além da história do Messias recriada através da dança, Belo Horizonte recebe outros programas para celebrar o Natal. Composições de Vivaldi, Bach e Whitacre ganham a interpretação do coral Ars Nova, com apresentações em duas igrejas da capital. Concertos de música barroca, do Grupo Andarela e da Camerata Rococó são atrações que completam a programação que evoca o espírito natalino.
Em comemoração aos 45 anos da Companhia de Dança do Palácio das Artes, a Fundação Clóvis Salgado convidou Rui para conceber e dirigir Messias. ''A dança tem a qualidade de provocar sentimentos de forma universal'', diz.
A tarefa iniciou-se com a etimologia do termo Messias, que no hebraico significa ungido e, no grego, Cristo. Outra tarefa de Rui foi refletir sobre a relação dos tempos terreno e o messiânico. Rui pontua que, enquanto o tempo da Terra nos coloca dentro da realidade, o messiânico nos liga ao divino. A proposta é de olhar para a figura de Jesus a partir da necessidade humana de se religar ao divino. ''As formas de religar são muitas. Todos os livros sagrados descrevem'', aponta, lembrando que esse deslocamento de compreensão permite afastar o dogmatismo. ''Todas as formas levam a um ponto comum: a esperança e a conexão com algo maior'', completa.
Ex-bailarino do Grupo Corpo, fundador da Cia. Será Quê? e curador do Festival de Arte Negra (FAN), Rui dialoga com a cultura negra em seu fazer artístico. Por essa centralidade, ao conceber o espetáculo o coreógrafo estabeleceu paralelos entre Jesus e divindades das religiões afro-brasileiras. Rui faz essa aproximação como forma de valorizar a diversidade ao buscar arquétipos semelhantes a Jesus em outras tradições religiosas.
''Quando falamos da tradição vinda da Nigéria, o arquétipo de Exu faz a ponte entre o divino e os homens. Na tradição das religiões africanas, Exu é o primeiro a se alimentar. Ele se multiplica e faz o processo de antropofagia: ele come e o que come se transforma'', afirma. Do ponto de vista teológico, é possível fazer analogias com a transformação de Cristo em pão e vinho.
O espetáculo é construído em parceria com a Orquestra Sinfônica e o Coral Lírico de Minas Gerais.
As coreografias foram concebidas levando em conta a ideia do bailarino como criador. ''Busco resgatar o respeito ao gesto. É uma linguagem da dança que acompanha o lirismo musical.
PRESÉPIOS
O Circuito Liberdade receberá programação de Natal especial. Todos os equipamentos recebem presépios que poderão ser visitados até 6 de janeiro. O Arquivo Público expõe a obra Presépio em árvore de Natal, de Sebastião José de Castro. A Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa terá O salvador do mundo. No Espaço do Conhecimento, o Presépio de brinquedo e, no Memorial Vale, o Presépio da esperança, de Antonio Jesus de Lima. A apresentação de corais, que teve início na terça-feira, segue nos dias 20, 21 e 22. Veja a programação completa no site circuitoculturalliberdade.com.br..