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Exposição Volpi reúne 30 pinturas do artista referencial para a arte brasileira no mundo

Iniciativa é fruto da parceria do Museu Inimá de Paula com a Almeida & Dale Galeria de Arte

Walter Sebastião

Ogivas, pintura do início da década de 1970, brinca com a composição geométrica e dialoga com a arte concreta e a popular - Foto: Fotos: Almeida & Dale/Divulgação
Um mestre da arte brasileira ganha exposição, a partir de hoje, no Museu Inimá de Paula: o pintor Alfredo Volpi (1896-1988). São 30 pinturas, dos anos 1930 até os anos 1970. Doze delas são da galeria paulista Almeida & Dale (que estiveram em mostra na Cecilia Brunson Projects, em Londres, na primeira individual de Volpi no Reino Unido), 18 de coleções particulares, sendo duas delas de Minas Gerais. A mostra é produto da parceria entre o Museu Inimá de Paula e a Galeria de Arte Almeida & Dale, que começou com apresentação do colombiano Fernando Botero e foi vista por mais de 40 mil pessoas ao museu.

“É uma exposição que retrata bem a trajetória de Volpi”, afirma Gabriela Navarro, coordenadora cultural e do setor educativo do Museu Inimá de Paula. Ela explica que a mostra apresentaa trajetória do artista da figura à abstração, além de séries que o consagraram, como fachadas, bandeirinhas e mastros. Esse percurso, segundo ela, revela a paixão pela pintura de artista-artesão, que fazia os chassis das telas, esticava os tecidos sobre eles e fazia as tintas que usava. “Há obras pequenas e incríveis”, observa, destacando a inventividade das composições, a palheta de cores personalizada e a perícia e a liberdade do artista. E, também, a independência com relação aos movimentos artísticos.

“A importância dessa exposição é tornar acessível para o público o trabalho de um dos maiores artistas brasileiros”, explica Gabriela, destacando a importância de trazer a Belo Horizonte mostras como essa.
Além da exibição dos trabalhos, a mostra vai oferecer oficinas para estudantes até 10 de dezembro e, depois desta data, para o público em geral. A exposição estava prevista para 2017, mas o sucesso da mostra de Botero, estimulou a instituição a antecipar a programação. Para a curadora, a previsão é que, a partir de agora, o Museu Inimá de Paula realize duas mostras anuais de grandes autores, sem deixar de realizar exposições de artistas regionais.

A Almeida & Dale é uma galeria de São Paulo, criada em 1996 por Roberto Almeida e Ana Dale. Desde 2005,  vem realizado exposições institucionais, com acervo próprio e de colecionadores de várias partes do Brasil, tanto na sede paulista quanto em diversas partes do Brasil (Rio de Janeiro, Bahia, Fortaleza, Recife etc). Antônio Almeida, um dos proprietários do espaço, explica que decidiu dar ao local o perfil de espaço cultural ao observar que a galeria ficava ociosa e com pouco público.

“É um trabalho voltado para levar cultura ao povo brasileiro. Só assim a arte brasileira vai ser nacionalizada”, conta Almeida, recordando que a visão de obras de artistas fundamentais da arte nacional ainda fica restrita a Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, cidade que considera, hoje, “parte do eixo cultural brasileiro”. “Temos no país um bom mercado de arte, mas, quando pensamos no tamanho do Brasil, vemos que ainda há muito a ser feito”, defende. A circulação das mostras, explica, depende de parcerias, espaços minimamente aparelhados – “climatizado e com estrutura de segurança” –, transporte e seguro, o que eleva os custos.

As mostras são projetos especiais e, no geral, as obras não estão à venda. Para Almeida, hoje há “coleções importantes em várias partes do Brasil” e que os colecionadores têm interesse em emprestar as obras. “Mas não por prazos longos. Depois de um ano que a obra está circulando ele quer de volta porque sente falta do convívio com ela”, conta o galerista. Para a galeria, interessa a possibilidade de que, se o colecionador for vender alguma obra, ela terá prioridade. Antônio Almeida não coloca a linha de atuação adotada pela Almeida & Dale como modelo para outros.
“O modo como atuamos é uma opção nossa, mas cada um constrói seu tipo de mercado”, explica.

Os autores postos em destaque vão do século 19 até jovens artistas. “Como galerista, não posso me fechar em um período”, explica Almeida. A maior parte da programação já realizada mostrou os modernos, abrindo espaço para autores poucos conhecidos. “A parceria com os estados tem possibilitado circulação de informação sobre artistas que, às vezes, são conhecidos apenas regionalmente. E assim vamos descobrindo grandes artistas”, conta. Ele cita o exemplo do cearense Raimundo Cela (1890-1954), lembrando do pintor que ganhou exposição em 2016, em São Paulo, com curadoria de Denise Mattar.



A CRIAÇÃO DE UM ÍCONE
Alfredo Volpi (1896-1988) nasceu em Lucca, na Itália, e veio com a família para o Brasil. Estudou na Escola Profissional Masculina do Brás (SP) e, mais tarde, ganhou a vida como marceneiro, entalhador e encadernador. Em 1911, tornou-se pintor de temas decorativos de residências e começou a pintar sobre madeiras e telas. As primeiras obras são paisagens e flores, valendo-se das liberdades de pincelada trazida pelo modernismo. No final dos anos 1930, mantém contato com o pintor Emídio de Souza, deixando-se seduzir pelas liberdades da visualidade popular.
Com simplificações cada vez mais ousadas das imagens e na estruturação das composições, vai gerar sequência de mastros e bandeirinhas que se tornariam um dos ícones da arte brasileira. Sua produção dialoga também com a abstração proposta pela arte concreta e neoconcreta nos anos 1950. Em 1953, Volpi ganha o prêmio de melhor pintor nacional da Bienal Internacional de São Paulo.

ALFREDO VOLPI
Exposição de pinturas. Museu Inimá de Paula (Rua da Bahia, 1.201, Centro, (31) 3213- 4320). Terça, quarta, sexta e sábado, das 10h às 18h30; quintas, das 12h às 20h30; domingo, das 10h às 16h30. Entrada franca.


três perguntas para...

Roberto Almeida
Galerista

Como avalia o circuito de arte brasileiro?

Há cerca de pouco mais de uma década, houve uma evolução grande. Temos atualmente no Brasil mais conhecimento sobre arte e muito mais público para as exposições. Se antes conseguíamos 2 mil pessoas em 60 dias, atualmente são 20 mil no mesmo período. Só investindo na formação de público, levando mais informação para as pessoas, vamos ter um mercado de arte mais consolidado. O jovem de hoje é o cliente de amanhã.

Pode falar sobre os livros-catálogos que acompanham as exposições?

Eles têm papel importante. Primeiro, rompem com o mau hábito de organizar belíssimas exposições, mas sem registro. Depois, é o início de uma catalogação da obra do artista, no geral, registrando cerca de 150 obras. E é ainda uma forma de ir limitando a possibilidade de falsificações, um problema que cria uma situação delicada para quem vende e compra e, nos últimos 20 anos, preocupa muito o mercado de arte. Se a falsificação não for enfrentada, pode ser uma tragédia para o mercado de arte. Sempre submetemos as obras que mostramos ao crivo de especialistas.

Pode falar sobre a mostra de Volpi realizada em Londres?

Temos interesse de levar obras de artistas brasileiros para todo o mundo. Hoje, todos os museus mais importantes do circuito internacional têm artistas brasileiros. Estamos rompendo todas as barreiras. Qualquer lista atual dos 100 artistas mais importantes tem sempre entre seis a oito brasileiros e pode ser maior..