Proposta de ironizar MECAInhotim vinga e festival gratuito atrai público ao baixo centro

MERRECAPraça da Estação foi organizado via Facebook e contou com a festa Transa! e o coletivo MASTERplano como atrações de sábado, 5, e domingo, 6

Gabriel Araújo

Público se diverte no MERRECAPraçadaEstação - Foto: Gabriel Araújo

Entre os quase 60 km que separam o Instituto Inhotim, em Brumadinho, da Praça da Estação, um dos símbolos de Belo Horizonte, também se encontra um breve disparate cultural. Enquanto algumas pessoas passam o final de semana no maior museu a céu aberto do mundo, desfrutando da intensa programação artística do festival MECAInhotim, outras preferiram a proximidade do baixo centro de Belo Horizonte para curtir o som da música brasileira, no sábado, 5, e da trepidante música eletrônica, no domingo, 6.


Esses foram os eixos principais dos dois dias do evento MERRECAPraçadaEstação, cujo nome zomba do "primo rico" de Inhotim e que reuniua festa Transa! e o grupo MASTERp la n o no final de semana no centro da capital mineira. A festa foi realizada segundo a máxima “Se divertir não tem preço. Mas, se tiver, que seja uma merreca”.

O organizador Paulo Abreu - Foto: Gabriel Araújo“Foi um trocadilho aí entre as palavras, né?”, comenta Paulo Abreu, 24, fotógrafo e organizador do evento. “A ideia é justamente fazer essa brincadeira com esse baixo investimento.” Gratuito, o MERRECA levou cerca de 1.500 pessoas ao baixo centro cultural, segundo a estimativa dos organizadores, reunindo diferentes comunidades interessadas em consumir cultura sem esvaziar os bolsos.


Na praça, barracas de catuçaí, carrinhos de bebidas e pipocas compartilhavam o espaço com os polêmicos coolers dos participantes, as pessoas em situação de rua do local e o tradicional público do evento, marcado pela diversidade de gênero, tribo e orientação sexual. Todos dançando ao som de Lulu Santos, Daniela Mercury ou Ludmilla, embalados pelos DJs Carou Araújo e Alfredo Francis, da Transa!.



A festa, especializada em trazer “a riqueza, a pluralidade e a diversidade da música brasileira” ao cenário cultural de BH, comemorou aniversário de 4 anos de fundação neste sábado. “Para relembrar esse começo da história da festa, a gente resolveu fazer edições gratuitas e à tarde”, conta Alfredo Francis, músico, DJ e um dos fundadores da festa.

 

Os DJs da festa Transa! Alfredo Francis e Carou Araújo - Foto: Gabriel Araújo 

Reconhecido por várias festas itinerantes, o grupo relembra a trajetória de aniversários: na barragem Santa Lúcia, em 2013, na Praça da Liberdade, em 2014, na Rua Aarão Reis, em frente ao baixo centro cultural, em 2015, e agora o quarto, na Praia da Estação, dentro da programação do festival Merreca.


“A gente gosta de dar essa festa de presente pras pessoas. E aí foi ótimo”, afirma Alfredo. “O Merreca vai de acordo com esse nosso ideal de fazer uma festa gratuita para todo mundo. Foi bem legal ter rolado lá, e a gente ficou bem feliz com o resultado.”

 

De Inhotim à Praça da Estação
Arte de Nina Lana que ironiza o MECAInhotim - Foto: ReproduçãoNo início de outubro, o MECALove anunciou a realização da festa MECAInhotim, com atrações como Caetano Veloso e Liniker, além de uma série de conferências e outras atividades, entre os dias 5 e 6 de novembro. Contudo, o que desanimou alguns interessados foi o alto valor do ingresso, que repercutiu, com bom humor, em vários memes nas redes sociais. Quem não se dispôs a pagar preços que variavam entre R$ 125,00 (meia-entrada para domingo) e R$ 490,00 (inteira do passaporte para os dois dias do evento), encontrou no Merreca uma alternativa válida, que ganhou força na mobilização on-line. Os organizadores do MECAInhotim argumentam que, diante da qualidade das atrações e da extensão da programação, o valor dos ingressos deveria ser até mais alto e que não o é porque houve preocupação em deixar as entradas acessíveis ao público. 

 

Paulo Abreu decidiu criar o evento no Facebook como uma brincadeira para se juntar aos memes já compartilhados. “Só que na hora que tinha 3.000 confirmados, a gente pensou: poxa, se o pessoal realmente anima fazer isso, por que não fazer?”.


Tanto deu certo que o evento, organizado de forma horizontal entre os participantes, contava com 4.736 usuários interessados e 3.683 confirmados. A repercussão, para Paulo, é uma expressão da necessidade de se ocupar o espaço público com iniciativas da população, propondo novas formas de criar eventos culturais.


“O espaço também está completamente aberto a qualquer tipo de manifestação artística”, ele diz, reforçando a proposta de horizontalidade do festival.
O único custo do Merreca foi referente ao equipamento do som da MASTERp la n o. Para viabilizar a apresentação no domingo, a organização fez uma campanha de financiamento coletivo, com o objetivo de chegar aos R$ 1.130 necessários para pagar a locação, no modelo da “famigerada caixinha de doações”, como define o organizador.


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