Entre os quase 60 km que separam o Instituto Inhotim, em Brumadinho, da Praça da Estação, um dos símbolos de Belo Horizonte, também se encontra um breve disparate cultural. Enquanto algumas pessoas passam o final de semana no maior museu a céu aberto do mundo, desfrutando da intensa programação artística do festival MECAInhotim, outras preferiram a proximidade do baixo centro de Belo Horizonte para curtir o som da música brasileira, no sábado, 5, e da trepidante música eletrônica, no domingo, 6.
Esses foram os eixos principais dos dois dias do evento MERRECAPraçadaEstação, cujo nome zomba do "primo rico" de Inhotim e que reuniua festa Transa! e o grupo MASTERp la n o no final de semana no centro da capital mineira. A festa foi realizada segundo a máxima “Se divertir não tem preço. Mas, se tiver, que seja uma merreca”.
Na praça, barracas de catuçaí, carrinhos de bebidas e pipocas compartilhavam o espaço com os polêmicos coolers dos participantes, as pessoas em situação de rua do local e o tradicional público do evento, marcado pela diversidade de gênero, tribo e orientação sexual. Todos dançando ao som de Lulu Santos, Daniela Mercury ou Ludmilla, embalados pelos DJs Carou Araújo e Alfredo Francis, da Transa!.
A festa, especializada em trazer “a riqueza, a pluralidade e a diversidade da música brasileira” ao cenário cultural de BH, comemorou aniversário de 4 anos de fundação neste sábado. “Para relembrar esse começo da história da festa, a gente resolveu fazer edições gratuitas e à tarde”, conta Alfredo Francis, músico, DJ e um dos fundadores da festa.
Reconhecido por várias festas itinerantes, o grupo relembra a trajetória de aniversários: na barragem Santa Lúcia, em 2013, na Praça da Liberdade, em 2014, na Rua Aarão Reis, em frente ao baixo centro cultural, em 2015, e agora o quarto, na Praia da Estação, dentro da programação do festival Merreca.
“A gente gosta de dar essa festa de presente pras pessoas. E aí foi ótimo”, afirma Alfredo. “O Merreca vai de acordo com esse nosso ideal de fazer uma festa gratuita para todo mundo. Foi bem legal ter rolado lá, e a gente ficou bem feliz com o resultado.”
De Inhotim à Praça da Estação
Paulo Abreu decidiu criar o evento no Facebook como uma brincadeira para se juntar aos memes já compartilhados. “Só que na hora que tinha 3.000 confirmados, a gente pensou: poxa, se o pessoal realmente anima fazer isso, por que não fazer?”.
Tanto deu certo que o evento, organizado de forma horizontal entre os participantes, contava com 4.736 usuários interessados e 3.683 confirmados. A repercussão, para Paulo, é uma expressão da necessidade de se ocupar o espaço público com iniciativas da população, propondo novas formas de criar eventos culturais.
“O espaço também está completamente aberto a qualquer tipo de manifestação artística”, ele diz, reforçando a proposta de horizontalidade do festival.
O único custo do Merreca foi referente ao equipamento do som da MASTERp la n o. Para viabilizar a apresentação no domingo, a organização fez uma campanha de financiamento coletivo, com o objetivo de chegar aos R$ 1.130 necessários para pagar a locação, no modelo da “famigerada caixinha de doações”, como define o organizador.