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BH se torna referência na dança graças à luta dos artistas

Cidade é polo de formação de bailarinos e coreógrafos, mas categoria ainda reivindica políticas públicas que apoiem talentos mineiros

Márcia Maria Cruz
Em cartaz no CCBB, o espetáculo Sacre é exemplo do intercâmbio entre mineiros e franceses - Foto: Valerie Archeno/divulgação

Quando os bailarinos do Grupo Corpo apresentaram parte de Parabelo no encerramento da Olimpíada, o mundo, com as lentes voltadas para o Maracanã, conheceu uma das riquezas de Minas. Cada região do país foi representada naquela cerimônia, que buscou fazer uma síntese da cultura brasileira. Não por acaso, a dança identificou as Gerais. O estado tem tradição na formação de artistas e abriga grupos reconhecidos internacionalmente. Porém, bailarinos, coreógrafos e pesquisadores advertem: para que a dança sobreviva, é fundamental investir em políticas públicas para o setor.

A dança mineira se mantém pulsante graças a várias iniciativas envolvendo formação de bailarinos, projetos voltados para intercâmbio e estímulo à apresentação de grupos e artistas (veja quadro). Depois de 20 anos de mobilização da categoria, BH anunciou, em setembro, a instalação do Centro de Referência da Dança, que se apresenta como uma conquista para todos os gêneros – do balé clássico à dança urbana.

Na avaliação da coreógrafa Suely Machado, diretora do grupo Primeiro Ato e integrante do Fórum da Dança de Belo Horizonte, não havia correspondência entre o olhar do poder público e o empenho da categoria em contribuir para a excelência da arte mineira. “Há a luta pela construção do campo da dança. Temos grupos importantes, o movimento é muito unido na busca por reconhecimento e políticas públicas”, afirma.
Segundo ela, é urgente mapear iniciativas, grupos e coletivos que atuam na capital. “Precisamos fazer um diagnóstico da dança em BH. Não é pouco”, defende.

Este mês, Belo Horizonte recebe projetos importantes. Até amanhã, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) abriga espetáculos e ações do Movimento Internacional da Dança (MID). De quarta-feira a domingo, no Sesc Palladium, será realizado o Movasse e Parceiros em Cena 2016, organizado pelo coletivo Movasse. Além de buscar o diálogo com outros campos (música, teatro, audiovisual, etc.), a proposta está especialmente focada na dança.

Um dos espetáculos é Danças breves, com números surgidos da provocação de coreógrafos experientes a jovens bailarinos. Os “provocadores” são artistas que trabalham há tempos para consolidar a cena mineira: Cristiano Reis, Dudude, Mário Nascimento, Sérgio Pena e Tuca Pinheiro.

“Penso em projetos. Coreografias são consequência de processos, preferencialmente não verticalizados”, explica Tuca. De acordo com ele, dança não pode se resumir à produção de espetáculos. Na verdade, deve ser espaço de construção coletiva, sem hierarquizações.

“Todo corpo é político, em qualquer instância. Ele é uma fala política”, reafirma o coreógrafo. Tuca acredita que, por trás de todo movimento, seja em que linguagem for, há muitas informações. Porém, nem sempre elas são lidas.

Em Danças breves, cada participante terá 10 minutos para exibir seu percurso criativo.
A jovem bailarina Luana Vitra, com provocação de Dudude, pretende abordar o estado bruto do ser. Diferentes gerações se envolveram no Movasse e Parceiros. Fábio Dornas, de 48 anos, e Andréa Anhaia, de 41, apresentam Enfim. “Estamos felizes em chegar aos 10 anos do Movasse”, diz Andréa. No dia 16, parte do evento será dedicada à discussão de políticas públicas e à reflexão sobre a inserção de artistas no mercado de trabalho.

Minas está na rota internacional de dança. Neste fim de semana, o MID apresenta UmDoisTrês UmDois, produção vida da Espanha e da Bélgica. Dois dançarinos usam corpos e vozes para questionar o flamenco. Por sua vez, a França enviou a BH o espetáculo Sacre, com os bailarinos Tamar Shelef e David Wampach.

Em BH
» Fórum da Dança de Belo Horizonte
Instituído por meio de votação em assembleia no 1º Encontro de Ações Específicas para a Dança, realizado pela Fundação Municipal de Cultura em abril de 2016. O intuito é estabelecer o diálogo com os artistas.

» Centro de Referência da Dança
Instalado no Teatro Marília, conta com biblioteca e espaços para a realização de oficinas, ensaios e mostras.

» Terça da Dança
Promove apresentações sempre às terças no Teatro Francisco Nunes, com o objetivo de valorizar artistas independentes

» Dança Jovem
O projeto começou em 2005, no Centro Artístico de Dança. Oferece formação a jovens bailarinos, além de promover apresentações e intercâmbio entre grupos profissionais e em vias de se profissionalizar.

» MID
O Movimento Internacional de Dança oferece espetáculos, workshops e outras atividades.
A programação investe no diálogo entre linguagens e no intercâmbio entre artistas brasileiros e estrangeiros.

‘Ocupação’ do Marília

Um dos frutos da mobilização de bailarinos e coreógrafos é a criação do Centro de Referência da Dança, inaugurado em 28 de setembro, no Teatro Marília. “Há muitos anos não víamos a categoria tão unida. Ela se conscientizou sobre a importância do reconhecimento e da legitimação da profissão, reivindicando ao poder público políticas de fomento”, avalia Suely Machado, uma das articuladoras do Fórum da Dança de Belo Horizonte.

O centro abrigará a memória da dança em Minas, além de promover a difusão de informações, oficinas, palestras e encontros, facilitando trocas com as áreas de literatura, artes visuais, performance, teatro e música.

O presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Leônidas de Oliveira, reconhece a necessidade de fomentar políticas para o campo da dança. Ele reforça que o centro vai abrigar todos os gêneros: clássico, contemporâneo, danças urbanas e tradicionais. “O espaço tem vocação para a diversidade”, resume.

“O Teatro Marília continuará funcionando e os grupos poderão usar o palco”, ressalta Leônidas. Outra promessa é a criação de linhas de fomento. Segundo ele, tramita na Câmara Municipal projeto de lei que viabiliza editais setoriais para a dança.

MOVIMENTO INTERNACIONAL DE DANÇA
. UmDoisTrês UmDois. Hoje, às 19h
. Sacre. Hoje e amanhã, às 20h
CCBB. Praça da Liberdade, 450, Funcionários,
(31) 3431-9400. R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia).

MOVASSE E PARCEIROS EM CENA
. Danças breves. Quinta-feira, às 21h
. Enfim. Sábado, às 21h
Sesc Palladium. Rua Rio de Janeiro, 1.046,
Centro, (31) 3270-8100. R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)..