Curtir a primavera é bem simples. ''Basta olhar ao seu redor. Até o vaso de plantas que se tem em casa está diferente. É uma folha nova, uma flor, sementes, outro perfume'', ensina Procópio de Castro, artista plástico e mobilizador socioambiental do projeto Manuelzão. Ele faz fotos de flores o tempo todo e publica-as em sua página no Facebook. Como explica, até dezembro, todos vão assistir a um outro ciclo da natureza: o período de floração. As flores aparecem na primavera, crescem no verão e dão frutos no outono. No inverno descansam para depois recomeçar tudo de novo.
Procópio de Castro escreveu poema sobre a estação das flores, chamado É primavera, que diz: ''É chegada a hora.../ Depois de longo e invernoso sono/ Com os dias maiores e os beijos das primeiras gotas,/ Desperta a natureza em festa de cores, formas e energia;/ Sem pudores, plantas erguem seus sexos ao céu e ao vento./ O perfume inebria o ar e atraem alegrando a vida,/ Numa orgia esvoaçante de banquete fecundo./ É o baile das flores, é primavera!/ É o ciclo natural da vida, Preparando os frutos,/ Para fartos outonos''.
''Pisar, de repente, num tapete de flores que caíram no chão faz até o mais distraído se lembrar de que estamos na primavera. É exuberância que desarma qualquer um'', afirma a designer de superfícies Daniela Karam. Ela faz estampas com flores gigantescas. ''Flor e cor é uma fonte de inspiração para mim'', diz, contando que tem o hábito de fotografar as plantas que encontra quando está caminhando. ''Nem precisa ser de jardim. Às vezes, uma planta linda brota em uma rachadura de muro, é tudo muito surpreendente'', observa. Os vestidos das mulheres, com estampas floridas, para ela traduzem uma identificação com a delicadeza. ''Mulher feliz é mulher florida”, garante, avisando que tal identificação é cultural. “Mas os homens também andam usando camisas com flores'', observa.
JARDIM O repertório de canções ligadas à primavera e flores é infinito. O compositor Tavinho Moura, por exemplo, tem uma canção chamada Porto das flores, que está em CD que acompanha o livro Maria do Matué. A música fala sobre uma mulher que tinha um jardim, em beirada de rio, criado com sementes de flores que ela nunca tinha visto, levadas por fiéis à igreja, depois que murchavam. ''A primavera traz um colorido à cidade que mexe com qualquer pessoa'', observa Tavinho.
''Ando apaixonado pela flora brasileira. Conhecê-la é, inclusive, um modo de conhecer a nós mesmos'', observa. Ex-orquidófilo, o lazer do músico, no momento, é observar os pássaros. Anda encantado com pequenos frutos pouco conhecidos que alimentam as aves ''e são gostosos''. Como o cambuatã, cereja-do-mato, candiúba entre outras.
Quem não só observa as plantas em minúcia, como ainda se dedica a criar desenhos a presentando todos os aspectos delas criteriosamente, é a turma da ilustração científica. Gente como Eliana Ângelo, paisagista. ''Desenhar é um prazer e proporciona conhecimento maior da vegetação que, às vezes, está ao nosso redor'', afirma. Mas ela também revela dramas: ''Às vezes, choca-me como o ser humano é desligado com a manifestação de vida que é a primavera. É como se ele não estivesse adaptado à vida na Terra'', afirma, avisando que maus-tratos com as plantas são muito comuns. ''Nossas árvores padecem com podas aleatórias, sem estudo, e vão ficando deformadas'', avalia.
OLHE BEM AS FLORES
Confira endereços e horários de jardins
» Feira das Flores – Às sextas-feiras, das 8h às 18h, na Avenida Carandaí, entre a Rua Ceará e a Avenida Brasil.
» Parque Municipais – Segundo a Fundação de Parques, existem cerca de 70 deles em Belo Horizonte, espalhados em todas as regionais. O mais conhecido é o Parque Municipal Américo Renné Giannetti (Avenida Afonso Pena, 1377, Centro), com 182.000 m², aberto diariamente das 6h às 18h. Informações: (31) 3246-5156.
» Jardim botânico/ Instituto Inhotim – De terça a sexta-feira, das 9h30 às 16h30; sábados, domingos e feirados, das 9h30 às 17h30. Rua B, 20, Brumadinho,(31) 3571-9700. O jardim botânico tem cerca de 4.300 espécies em cultivo e está cercado por mata nativa.Entrada (por pessoa): terça e quinta, R$ 25.; quarta-feira, gratuito; finais de semanas e feriadas,
R$ 40.
» Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG – Está instalado em uma área com aproximadamente 600.000 m², tem vegetação diversificada e típica da mata atlântica, que reúne, além das nativas, espécies exóticas. Rua Gustavo da Silveira, 1.035, Santa Inês, (31) 3409-7600. Aberto todos os dias, das 9h às16h. Entrada: R$ 6.
MODOS DE VER
Artistas dão dicas de como educar o olhar e os sentidos para estar em sintonia com a estação
“Passear nos parques e praças, observar beiradas de córregos e até terrenos baldios. Belo Horizonte é bastante arborizada e podem-se encontrar plantas lindíssimas pela cidade. Mas, para vê-las, é preciso educar o olhar para alcançar além do concreto. É verde para todo lado, uma folha nova, flores, sementes, perfumes. Vale a pena fazer foto com o celular e enviar uma flor digital para um amigo ou amiga.”
>> Procópio Lage, artista plástico
“Gosto de ir à Feirinha das Flores, que ocorre toda sexta-feira na Avenida Carandaí, entre a Rua Ceará e a Avenida Brasil. É um passeio bem gostoso. E gosto também de ir à Praça da Liberdade.”
>> Daniela Karam, designer
“Acho a floração dos ipês, em lugares como a Avenida Afonso Pena ou na orla da Lagoa da Pampulha, deslumbrante. Tem ainda a floração das sapucaias, roxo e rosa, na orla, que é
uma maravilha.”
>> Tavinho Moura, músico
“Andar pela rua, à toa, em qualquer estação, pois nem todas as plantas florescem na primavera, observando a vegetação, florações, diversidade de espécies, os passarinhos, as sombras, catando sementes etc. Cada um tem uma beleza, um detalhe especial. É pesquisar sobre o que encontrou na caminhada.”
>> Eliana Ângelo, paisagista.