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Literatura

''Eu ainda machuco a palavra'', diz Criolo

O cantor e compositor Criolo vem a Belo Horizonte falar de literatura. De origem no hip hop, Criolo expandiu limites ao estabelecer diálogo com outros gêneros musicais.


Fundador da Rinha dos MC’s ao lado de DJ DanDan, o artista joga luz sobre a produção da periferia. Os duelos de Mcs, os metres de cerimônia na cultura hip hop que lidam com os versos, e os saraus de periferia abrem os espaços para que jovens entrem em contato com o mundo das letras. Criolo debate com o poeta Ricardo Aleixo na mesa Transversalidades: o papel da literatura nas outras expressões artísticas e culturais, que será realizada nesta quarta-feira, 5, às 19h30 no Teatro da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, na Praça da Liberdade, 21, dentro da programação do Circuito das Letras. O Estado de Minas bateu um papo com Criolo, que em sua criação põe em diálogo várias influências musicais, literárias e filosóficas.


Criolo, como você avalia um evento literário como o Circuito das Letras que propõe discutir não só a literatura, mas a palavra nos mais diferentes suportes?
A palavra carrega um tanto do que tentamos descrever neste cotidiano, o visto e o não visto, a palavra mesmo que carrega, nos carrega ou nos afasta do outro e, neste ir e vir, muito se constrói, se destrói, ou apenas é.


 

Como a experimentação de linguagens e novos formatos compõem seu processo criativo?
Muito pouco mudei, meu jeito é um tanto de todos os jeitos. As ferramentas agora são tantas mas no final é como escrever no papel na parede ou no chão. Computadores, celulares, tablets, gravadores embutidos todos apenas gravam não são ouvidos. E eu os escuto me escutando, acho que isso é daquelas aventuras imperceptíveis desses tantos processos.

Como poeta, letrista, a palavra tem papel central no seu fazer artístico.


Quais os desafios que a palavra ainda lhes são impostos
?
Não consigo em totalidade, por ainda tentar me entender. É uma aventura magnífica essa literatura que nos carrega a tantas mentes e ideias com seus sonhos e constatações. Eu ainda machuco a palavra e ao mesmo tempo ela ainda não cabe todos os gritos das emoções.

Os saraus permitiram que jovens da periferia tivessem contato com a literatura, não só consumido, mas também produzindo. Em sua avaliação, os saraus revolucionaram a literatura brasileira ou ainda há campos não porosos a potência deles?
Na verdade os saraus apresentaram ao mundo a literatura feita por todos estes jovens de todas as periferias, jovens do mundo.


Acredito que quanto aos saraus não tenho condição de avaliar mas meu sentimento é de total gratidão por um espaço construído da favela pro mundo apresentando toda a beleza força e poder da palavra. 

Você é o criador da Rinha de MCs, como esses duelos permitem aos jovens de periferia trabalhar a palavra? Qual a função desses espaços na vida dos jovens?
Permite a todos os jovens que queiram viver, experimentar, ousar, serem livres na construção, criação do pensamento e da fala, isto é ousado e libertador.  É cada lugar é um tanto do que você deposita nele. Juntos um aquece o outro, é a palavra, é a voz, é a ousadia, é a liberdade que o rap oferece a todos.
 

 

SERVIÇO

Circuito das Letras
Transversalidades: o papel da literatura nas outras expressões artísticas e culturais.


 Mesa-redonda com Criolo e Ricardo Aleixo. Hoje, às 19h30, Teatro da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (Praça da Liberdade, 21, Lourdes). Entrada franca, com distribuição de senhas uma hora antes.