A opção pelo material premiado pelo então Salão Municipal de Belas Artes (depois com o nome trocado para nacional e de arte contemporânea) e no Museu de Arte da Pampulha, como explica o pesquisador, vem do fato de essas instituições serem responsáveis pela visibilidade, legitimação e aquisição de obras de arte, além de, nos anos 1960, os salões passarem a contar com a participação de vários críticos de importância nacional. Para Vivas, essse conjunto de fatores “faz com que a situação encontrada em Minas Gerais seja a mesma nacionalmente”.
No contexto brasileiro, a abstração surge na esteira de gradual abandono da representação da realidade nacional defendida pelo movimento concretista e, em especial, pelas mãos de artistas nipo-brasileiros. O engajamento dos concretistas (organizado e alinhado a críticos e intelectuais) na articulação de uma vanguarda brasileira vai levar à oposição a chamada arte informal. O autor explica que esse movimento dialoga com a cena internacional e se ampara numa arte moderna, racional e que valoriza a noção de projeto.
Sem preocupação com organização coletiva, a arte informal defende uma linguagem mais intuitiva e não geométrica. O movimento concretista, então, acusa essa produção de ser alinhada a um modismo internacional.
Vivas reconhece que não se trata de tirar o brilho da prática e da teorização dos concretistas, mas de revelar que, naquele período histórico, existem outras possibilidades com o mesmo valor das pesquisas geométricas. Ele cita a arte informal como exemplo. “Com sua valorização do gesto, enfatizando o processo de criação mais do que o resultado final, ela também é uma ruptura com concepções tradicionais da arte”, argumenta. “E há o caminho da desmaterialização, experimentação valendo-se de vários meios para criar arte a tal ponto que não se consegue mais definir o que é objeto”, acrescenta. Nos anos 1960, vários artistas mineiros têm obras importantes, em um ou outro caminho: Ildeu Moreira, Marília Gianetti, Maria Helena Andrés, Jarbas Juarez, Terezinha Soares entre outros.
Antes de publicar Abstrações em movimento, Rodrigo Vivas escreveu Por uma história da arte em Belo Horizonte. “Abstrações é uma mea-culpa. No primeiro livro também fiquei procurando influências do Concretismo e do Neoconcretismo. Agora, estou exercitando outro olhar”, observa. O crítico conta que está pesquisando sobre o século 19 para uma nova publicação, votada para “os pintores inaugurais” de Minas Gerais, assim como um estudo sobre a arte dos anos 1970. A dedicação à pesquisa sobre a arte feita em Minas Gerais tem motivo: “É um modo de operar em um contexto em que as reservas técnicas estão cheias de obras sem avaliação e sem visibilidade”. E ainda: “Se um homem fez Inhotim sozinho, como um estado não consegue fazer um museu de artes visuais?”, indaga.
Avaliando o acervo do Museu da Pampulha, que estuda há uma década, Vivas considera que o ponto forte desse conjunto é a produção dos anos 1960, que pode ser analisada no contexto das vanguardas brasileiras.
ABSTRAÇÕES EM MOVIMENTO – CONCRETISMO, NEOCONCRETISMO E TACHISMO
De Rodrigo Vivas
Editora Zouk, 116 págs., R$ 39 .