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Espetáculo Planta do pé cria novos sentidos para danças tradicionais

Dançarina Maria Eugênia Almeida mistura linguagens do Brasil e do exterior em seu novo trabalho

Eduardo Tristão Girão

- Foto: Cia Soma / Divulgação

Filha da dançarina e atriz Rosane Almeida e do multiartista Antonio Nóbrega (que dança, inclusive), a paulistana Maria Eugênia Almeida, de 29 anos, também decidiu dançar profissionalmente. Dedicou-se sobretudo a formas populares nordestinas – frevo, cavalo-marinho, caboclinho, maracatu rural –, sem deixar de lado experiências com flamenco, música árabe e dança contemporânea. Ainda assim, sentia falta de um algo mais e foi encontrar a solução para o problema na graduação em história.

“Procurei esse curso pela necessidade de unir algo mais reflexivo ao universo da dança. Além disso, as danças mais tradicionais pedem envolvimento com história, com o passado. A escola me nutre de conhecimento sobre o que estou lidando”, explica a artista. Resultado disso é o espetáculo Planta do pé, solo que ela apresenta hoje à noite, no Teatro Francisco Nunes, em Belo Horizonte. Ele é parte integrante da programação do projeto Terça na Dança, que traz à cidade produções nacionais e internacionais.

“É um espetáculo em que falo e demonstro minha pesquisa com essas danças tradicionais. São principalmente as nordestinas por influência do meu pai, que é de Recife.
Frequento esses ambientes desde os 7 anos e o que salta aos olhos não são os passos, necessariamente, mas a relação das pessoas que dançam com essa arte. Pluralidade gestual, recursos de agilidade e peso, tudo ressignificado em novos movimentos no meu corpo”, afirma Maria Eugênia.

Sua intenção, portanto, é mais do que dar passo à frente na já conhecida plasticidade dessas danças (o exemplo do frevo é icônico, nesse sentido), chamando a atenção do espectador para o contexto em torno delas. Seu solo conta com três momentos de conteúdo falado (a cargo da própria artista), intercalados com dança e repente (com pandeiro na mão). “Faço um questionamento sobre o posicionamento periférico que as danças tradicionais têm hoje no Brasil”, diz.

EM FAMÍLIA

Planta do pé estreou em 2014. Foi criado a partir de convite que a artista recebeu do Festival Internacional de Dança do Recife. “A organização do evento queria um solo e eu não tinha. Meus pais me ajudaram e fizemos apanhado de coreografias que eu já tinha, além de definirmos as falas”, conta. O espetáculo tem sido apresentado principalmente em São Paulo, privilegiando universidades e espaços de formação de dança, uma vez que um dos propósitos é sensibilizar o público em relação à riqueza das danças populares nacionais.

A origem do pai ajuda a estreitar o relacionamento de Maria com o Nordeste, mas sua mãe, revela, desempenhou papel de igual importância em sua formação. “Os dois se relacionam com as danças tradicionais a ponto de identificar nelas elementos para além das formas. Além disso, eles têm comprometimento muito forte com a arte. Rigor, disciplina e exigência, coisas que admiro e que procuro trazer para o meu trabalho. Um sentimento de responsabilidade com o outro”, observa.

No momento, além de seu trabalho de conclusão de curso na graduação em história (que consiste em vídeos sobre danças brasileiras), Maria Eugênia se divide entre os espetáculos da Cia. Soma (que mantém com Marina Abib) e acompanhar o pai na montagem Semba (cuja direção coreográfica assina) – este último é o que mais lhe tem tomado tempo.

PLANTA DO PÉ
Espetáculo solo de Maria Eugênia.

Hoje, às 20h, no Teatro Francisco Nunes (Avenida Afonso Pena, s/nº, Centro, no Parque Municipal, (31) 3236-7400.). Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (meia).

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