“Estou tão maravilhado que é até difícil dizer se este lugar é mais especial de dia ou de noite.” O comentário do arquiteto Leandro Mascarenhas, de 43 anos, habitué de Inhotim, reflete a sensação de quem foi no sábado ao instituto de arte contemporânea em Brumadinho.
Nesse dia, o público teve a oportunidade de visitar o espaço no período noturno pela primeira vez.
O Noite Aberta, projeto que faz parte das comemorações dos 10 anos da instituição criada pelo empresário Bernardo Paz, teve como atrações a gravação do DVD Na medida do impossível, de Fernanda Takai, e uma homenagem a um dos artistas pilares do Inhotim, o pernambucano Tunga – falecido em junho – com direito a uma visita à sua obra Deleite, na galeria True Rouge, e ainda a degustação de uma sopa vermelha, à base de beterraba, em referência à cor que sempre esteve muito presente em seu trabalho.
Na próxima quinta, o tributo se repete com a performance Xifópagas capilares entre nós, pela manhã, e leitura das narrativas do artista plástico novamente regada à sopa.
A partir das 19h, a coreógrafa Lia Rodrigues, parceira profissional de Tunga, coordena uma nova encenação de True rouge. Na performance, homens e mulheres nus espalham gelatina vermelha por seus corpos e pela obra, enquanto o material vai se depositando no piso da galeria. O restaurante Tamboril também ficará aberto, para jantar com um bufê especial vermelho.
“Tunga é um dos artistas centrais do Inhotim. A partir do seu encontro com Bernardo Paz é que o Instituto começou a ganhar forma. Não poderiam faltar essas referências a ele nessa celebração dos 10 anos”, diz a portuguesa Marta Mestre, curadora do museu.
DEMANDA
O diretor-executivo do Inhotim, Antonio Grassi, afirma que a ideia de abrir o espaço à noite surgiu de uma demanda dos próprios frequentadores. Por enquanto, a visitação noturna está restrita a uma parte do parque, que vai da entrada principal à Galeria True Rouge e irá se realizar em ocasiões esporádicas.
“É um outro Inhotim, um outro olhar e uma nova experiência. Acho muito importante ampliar essas possibilidades de visitação e temos a intenção de iluminar outras rotas do Inhotim ao longo do tempo”, diz Grassi.
A apresentação de Fernanda Takai ocorreu debaixo de um tamboril, árvore-símbolo de Inhotim. Murilo Peixoto, que completou 45 anos no sábado, é superfã da cantora e aprovou o evento noturno.
“É uma outra atmosfera. Aspectos que não ficam tão evidentes de dia se sobressaem à noite e vice-versa. Não poderia comemorar meu aniversário de uma maneira mais especial. Em Inhotim e num show da minha ‘ídola’.”
Difícil dizer o que estava mais bonito. O cenário, a iluminação, o repertório, o figurino. Super à vontade em cena e com a presença de vários amigos e familiares na plateia, Fernanda Takai encantou o público que começou a se concentrar duas horas antes de ela subir ao palco.
“O mais bacana desse projeto é que aqui tudo é artesanal, manual. Não tem projeção, nada disso. Temos essas sombrinhas japonesas supercharmosas e esses guarda-chuvas dependurados no tamboril que dão um toque a mais ao ambiente. Sem contar a presença de vocês, que torna tudo ainda mais único”, declarou.
No set-list, canções de Fernanda em parceria com outros artistas, como Seu tipo (com Pitty), De um jeito ou de outro (com Marcelo Bonfá) e Quase desatento (com Marina Lima e Climério Ferreira).
Sucessos nacionais regravados também fizeram parte do DVD, como Com açúcar, com afeto, de Chico Buarque; A pobreza, de Renato Barros, Como dizia o mestre, de Benito di Paula, e Mon amor, meu bem, ma femme, eternizada na voz do ícone brega Reginaldo Rossi.
“Reginaldo deve estar feliz agora.
O público cantou várias músicas. Quase no fim da apresentação, muita gente pediu bis e soltou um “Fora, Temer”. “Se eu não disser nada, vocês já sabem o que penso sobre isso. Depois de receber tantas pedradas virtuais, de sofrer um bullying cibernético, em contrapartida recebi muito carinho real. E é isso que vale”, afirmou a cantora.
NOVAS EXPOSIÇÕES
No século 19, o viajante inglês James W. Weels passou pela região de Brumadinho e se encantou com o que viu. Em seu relato, ele registrou: “Por aqui tudo é novo...”. Foi a partir desses escritos que surgiu a inspiração para uma das novas mostras temporárias de Inhotim, que entra em cartaz nesta semana.
“Por aqui tudo é novo é uma frase ambígua, e que nos levou à reflexão.
A exposição Por aqui tudo é novo..., na Galeria Mata, coloca em evidência produções de artistas mais jovens da Coleção Inhotim, como Pablo Accineli, Erika Verzutti e Sara Ramo, ao mesmo tempo em que reapresenta trabalhos que marcaram os primeiros anos do instituto, como a instalação Método para arranque e deslocamento (1992-1993), do brasileiro José Damasceno, anteriormente exposta na mesma galeria, em 2007.
Um dos destaques é a série de ilustrações de Leonilson, O perigoso, produzida para a Folha de S. Paulo, e que registra o período final de sua vida – Leonilson morreu em 1993, aos 36 anos, vítima de AIDS.
Outra obra que vale conhecer é a Jungle jam, uma orquestra de sacolas plásticas, obra do Chelpa Ferro, grupo multimídia composto pelos artistas Luiz Zerbini, Barrão e Sergio Mekler. Movidas por motores de máquinas de costura, as sacolinhas de todos os tipos e cores assumem personalidade própria e produzem uma cacofonia lúdica que faz refletir sobre questões como o meio ambiente.
Também está sendo aberta a exposição temporária Ligth, na Galeria Lago, que articula trabalhos que exploram a luz como elemento sensorial e intangível, mas, ao mesmo tempo, concreto e material.
Ao redor do trabalho do argentino David Lamelas, Limit of a proyection I (1967), instalação que explora a relação fronteiriça de luz e sombra, a pesquisa curatorial joga luz sobre relações inéditas entre trabalhos de Cildo Meireles, Cao Guimarães e Rivane Neuenschwander, Cláudia Andujar, Luisa Lambri, Marcellvs ou Jonathan Monk.
“Nessas exposições na Lago vamos ter um percurso da materialidade à leveza, ao efêmero. E a luz é um elemento sobre o qual os artistas se debruçam. Acho que um dos pontos mais relevante ao longo dessa trajetória de uma década de Inhotim é que ele conseguiu colocar vários artistas brasileiros importantes lado a lado com os grandes nomes da arte mundial”, opina Marta Mestre.
PROGRAMAÇÃO DE ANIVERSÁRIO
Amanhã (6/9)
10h30 – Visita temática: Inhotim 10 anos
7/9 (quarta)
10h30 – Visita temática: Inhotim 10 anos
8/9
9h30 – Por aqui tudo é novo e Ligth – Exposições nas Galerias Mata e Lago
Homenagem a Tunga
11h e 13h: Xifópagas capilares entre nós - Galeria Psicoativa
17h: Leitura das narrativas de Tunga, com sopa vermelha - Próximo à obra Deleite (1999)
19h: Performance True rouge, na Galeria True Rouge, sob coordenação de Lia Rodrigues
9/9
9h30 – Por aqui tudo é novo e Ligth – Exposições nas Galerias Mata e Lago
14h e 15h – Homenagem a Tunga (Performances)
10/9
9h30 – Por aqui tudo é novo e Ligth – Exposições nas Galerias Mata e Lago
10h30 – Visita temática: Inhotim 10 anos
15h30 – Show de Marisa Monte (ingressos esgotados)
11/9
9h30 – Por aqui tudo é novo e Ligth – Exposições nas Galerias Mata e Lago
10h30 – Visita temática: Inhotim 10 anos
11h – Orquestra Filarmônica de MG
Instituto Inhotim
Rua B, 20, Centro, Brumadinho. Aberto de terça a sexta, das 9h30 às 16h30; sábado, domingo e feriado, das 9h30 às 17h30. Ingresso: terça e quinta-feira, R$ 25 (inteira); sexta, sábado, domingo e feriado, R$ 40 (inteira). Entrada franca às quartas-feiras. Informações: (31) 3194-7300 e (31) 3571-9700 e www.inhotim.org.br.