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GIFs dominam redes sociais e ganham mostras específicas

Antes restrito ao universo da piada na internet, o formato de imagens digital tornou-se ferramenta de comunicação jornalística e expressão artística

Pedro Galvão

Pedro Flores venceu a Mostra Nacional de GIFs - Foto: FLOREZ/DIVULGAÇÃO

Quando o Facebook anunciou que passaria a suportar a postagem de GIFs, há cerca de um ano, poderíamos supor apenas uma timeline mais movimentada e animada, literalmente. Hoje, basta uma olhadela pela rede social para notar que aquelas “fotos que mexem” dominaram a plataforma – utilizadas pelos internautas com simples finalidade humorística e até pelos portais de notícia, como linguagem jornalística. O GIF deixou de ser apenas o formato intermediário entre a foto e o vídeo para se tornar um viés bem contemporâneo de comunicação e expressão artística.

Na semana passada, o belo-horizontino Pedro Flores, de 27 anos, se tornou o “campeão brasileiro” de GIFs. O título foi conquistado na Batalha da Mostra Nacional de GIFs, organizada no Facebook pelo cineasta de animação Henrique Kopke, que mora em Juiz de Fora. Na competição, pessoas de várias partes do país participaram com arquivos que criaram. A cada eliminatória, eles eram postados na página da mostra e os mais curtidos e comentados avançavam à fase seguinte.

Na grande final, Florez, como é conhecido artisticamente, apresentou um trecho de uma cena do seriado Seinfeld, digitalmente distorcido pelo processo criativo chamado datamosh. No GIF, classificado no universo virtual como um “glitch”, por sua estética produzida a partir de uma falha em algum sistema digital, o personagem Kramer (Michael Richards) aparece abrindo uma porta em meio a um turbilhão de pixels fora de lugar, enquanto outra personagem é “teleportada” pelo mesmo efeito.

 

Os termos técnicos podem causar estranheza aos menos familiarizados. No entanto, a produção é simples, possível não só em programas específicos, mas também em sites nos quais encontram-se aplicativos que cortam vídeos ou criam a animação a partir de uma sequência de imagens.

Além disso, a ideia por trás do GIF é simples e já observada em vários outros processos artísticos visuais: a subversão de algo que já existe com o intuito de criar algo novo.

“Todo arquivo digital é uma sequência de códigos programados para funcionar de uma determinada maneira. Quando você altera esses códigos, cria algo novo. Além do visual, essa filosofia de subverter o que já é esperado me atraiu para o ‘glitch’”, afirma Florez, que se debruçou sobre as técnicas a partir do ano passado, no boom provocado pelo Facebook.

ABSTRAÇÃO

Além das construções abstratas, feitas da deturpação quase aleatória de arquivos, como a que fez o belo-horizontino vencer a competição, o formato também permite ressignificar imagens já existentes. Qualquer usuário mais assíduo das redes sociais certamente já se deparou com o personagem de John Travolta no filme Pulp fiction olhando para os lados como quem procura alguma coisa sem saber o que está ocorrendo.

 

A inumerável quantidade de GIFs que colocam o matador Vincent Vega em outros cenários para ironizar situações do cotidiano, da política, do esporte e do entretenimento em geral é um exemplo do vasto conteúdo produzido por anônimos e pulverizado pelas timelines.

O uso vai além do chamado meme. Grandes marcas da mídia mundial já aderiram à linguagem em vários momentos. Diante da queda de audiência provocada pelos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, a Netflix, principal serviço de streaming de filmes e séries do mundo, criou a “maratona de GIFs’’, para manter a atenção dos usuários. Na página, foram postados GIFs de personagens de algumas das séries da empresa correndo para os fãs votarem em seus prediletos.

Também foi de 2015 para cá que o cineasta Leonardo Gama, conhecido como Léo Pyrata, voltou seus olhares, já experimentados em outras formas de artes visuais, para o GIF. No ano passado, ele foi premiado na Semana dos Realizadores do Rio de Janeiro pelo curta Imhotep, todo feito com GiFs do estilo “glitch”, embaralhando os pixels. A expertise desenvolvida no formato fez com que ele fosse convidado pela Mostra Nacional de GiFs para ministrar uma oficina de produção.

“É uma plataforma que permite as mais diversas manifestações de discurso, seja artístico ou humorístico. Ela modifica nossa relação com a comunicação por ser capaz de informar com extremo imediatismo e facilidade de difusão. Hoje há portais que transmitem a premiação do Grammy e do Oscar, tudo através de GIF”, exemplifica Pyrata. Ele convidou Pedro Flores para trabalhar com ele em uma nova produção cinematográfica que envolverá imagens feitas com “glitch”.

 

Em novembro, uma nova edição da Mostra Nacional de GIFs será realizada. Desta vez, a exposição não terá competição, sendo apenas uma oportunidade para os “gifeiros” mostrarem ao público suas criações.

“O objetivo é dar visibilidade aos realizadores brasileiros e, além de propagar o GIF nacional, desmistificar e tornar acessíveis as ferramentas de produção”, explica Henrique Kopke, criador da Mostra Nacional, que teve sua primeira edição em 2015.

 

Kopke, que tem mestrado em cinema pela UFJF, também ministra oficinas para interessados em aprender e aprimorar as técnicas de GIF e levou o tema à Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro passado. “O GIF está em processo de transformação, não é uma modinha, é uma nova narrativa”, diz o especialista. Os interessados em participar da próxima edição da Mostra Nacional de GIFs devem acompanhar a página do evento no Facebook: @mostragif. Em breve o edital será divulgado.

 

Confira aqui os trabalhos já apresentados na Mostra

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