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Ciclo Mutações põe em discussão questões cruciais para o homem contemporâneo

A partir de 1º de setembro, iniciativa vai difundir o conhecimento intelectual com palestras e conferências; confira a programação

Walter Sebastião
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Com um debate sobre a amizade, o professor de filosofia francês Francis Wolff vai abrir a edição comemorativa dos 30 anos de Mutações – Entre dois mundos. Criado pelo jornalista Adauto Novaes, o ciclo de conferências aborda os mais diversos temas, muitos deles raramente discutidos fora da universidade. As palestras em BH começam na quinta-feira, no BDMG Cultural, onde será lançado o livro de ensaios Mutações – O novo espírito utópico. O evento se estende a São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro e Brasília.


Mutações tem cumprido o papel de universidade aberta, estimulando reflexões sobre temas importantes tanto para o Brasil quanto para o mundo, explica o jornalista João Paulo Cunha, presidente do BDMG Cultural. Ética, desejo, paixão, a crise da razão e o silêncio dos intelectuais foram alguns desses temas.


“Os seminários enfatizaram a importância do pensamento para apreender o mundo e como dimensão da cultura. Hoje, isso ganha ainda mais importância, pois vivemos um momento em que faltam reflexões que unam as pessoas em torno dos grandes temas e desafios postos pela sociedade contemporânea”, acrescenta. Entre os temas a serem abordados estão a crise da certeza do saber científico, a desconfiança em relação às formas tradicionais de fazer política e o relacionamento das pessoas.


O ciclo de conferências faz parte da proposta do BDMG Cultural de investir no desenvolvimento humano. Sob essa perspectiva, foi realizado o Urbe Urge, em parceria com a publicação Piseagrama, e está previsto para outubro um seminário sobre economia criativa, com participação da Fundação João Pinheiro e da Universidade Federal de Minas Gerais.

Outro evento, também este ano, vai discutir a democracia e o Estado de direito.


Um dos temas de Mutações é a relação entre o ser humano e a máquina vista de um ângulo singular: o impacto das tecnologias contemporâneas sobre experiências amorosas e sexuais. A discussão estará a cargo de Francisco Bosco, doutor em literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, ex-presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), autor dos livros Banalogias e Alta ajuda e parceiro do pai, João Bosco, em várias canções.


Francisco Bosco destaca a longevidade do projeto criado por Adauto Novaes: “São 30 anos de atividades ininterruptas de produção de ideias sobre temas ora atemporais ora urgentes, reunindo intelectuais destacados do Brasil e da França. No seu conjunto, essa produção é um verdadeiro tesouro e deve ser posta ao acesso de todos os interessados”.

 

ENTREVISTA

 

Francisco Bosco
Escritor e doutor em literatura

 

 

Como você vê as interações entre ser humano e máquina na vida contemporânea?
A rigor, o tema homem-máquina está inscrito na história humana desde a sua origem, já que ela se caracteriza pela capacidade de desenvolvimento técnico. Essa capacidade passa por uma aceleração progressiva a partir da Revolução Industrial, a ponto de podermos falar em uma era da técnica. Entre as diversas possibilidades de abordar o tema, escolhi uma mais lateral: o amor. Minha questão será interrogar como tecnologias recentes – como o espaço digital e tudo o que se inventou nele, redes sociais, aplicativos “de pegação”, etc. – têm mudado a percepção do amor e suas práticas.

O que experiências amorosas e sexuais revelam sobre a relação humano/máquina?

A questão é a inversa: o que os desdobramentos da técnica revelam sobre a experiência amorosa e como (e se) alteram sua prática. Sabemos, por exemplo, que na história do Ocidente foi nos séculos 11 e 12 que surgiu uma erótica seminal – aquela do amor cortês – que viria a marcar profundamente a história por vir. Nela vigora um erotismo altamente elaborado, marcado por traços de distância e renúncia. Mas como pensar e praticar o erotismo num tempo, o nosso, em que a internet aboliu as distâncias, em que tudo está “ao alcance” imediatamente, e contudo de uma forma não propriamente física, corporal? Enfim, são questões dessa ordem que examinarei.

Questões de gênero também se colocam nas relações amorosas a partir das possibilidades tecnológicas?
Sem dúvida, sob diversos aspectos. O espaço digital, com seu anonimato, propicia que as pessoas pratiquem – ou mesmo descubram – fantasias sexuais que passam por cruzar seus gêneros, fingir ser do outro sexo, etc. Os desenvolvimentos na área médica também possibilitaram um encaminhamento radicalmente diferente do problema da identidade sexual, propiciando a muitas pessoas fazerem cirurgias de mudança de sexo. É certamente um campo de investigação da relação entre as tecnologias recentes e os papéis de gênero.

Há dimensões assustadoras nesse contexto?
Certamente, o que mais assusta é que o desenvolvimento da técnica, que nos propiciou dominar a natureza e nos proteger de sua violência, agora, num giro dialético, faz com que a “natureza” – talvez fosse melhor chamar de “o real”, em sentido lacaniano – ameace desabar sobre nós uma violência terminal, que pode comprometer a própria existência da espécie humana.

 

Programação

 

» 1º/9 – Amizade.

Com Francis Wolff
» 12/9 – Poetas que pensaram o mundo. Com José Miguel Wisnik
» 13/9 – Novas configurações do mundo. Com Luiz Alberto Oliveira
» 14/9 – Ética. Com Franklin Leopoldo
» 19/9 – A condição humana.
Com Pedro Duarte
» 20/9 – Civilização e barbárie.
Com Newton Bignotto
» 21/9 – A crise da razão.
Com Oswaldo Giacoia
» 26/9 – O homem-máquina.
Com Francisco Bosco
» 27/9 – Muito além do espetáculo.
Com Eugênio Bucci
» 28/9 – O desejo. Com Maria Rita Kehl
» 3/10 – Fontes passionais da violência.
Com Jorge Coli
» 4/10 – A invenção das crenças.
Com Renato Lessa
» 5/10 – Artepensamento.
Com Antônio Cícero

 

 

 

 

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