Cerca de 100 peças da artista, criadas entre 1985 e 2012, estão em mostra no BDMG Cultural e podem ser vistas até 23 de setembro. A curadoria da exposição é de Erli Fantini e Adel Souki, ceramistas e amigas da japonesa. “Toshiko Ishii sempre me deixa impressionada. Organizando a exposição, vemos como foi mulher de fibra, sensível, apesar da aparência frágil”, conta Erli, sem esconder a saudade da amiga.
Outro exemplo dos cuidados da ceramista são os “entalhes delicados” nos pés de várias peças. Erli conta que o esmero de Toshiko chegava à minúcia de ordenar as palhas que envolvem a peça a ser levada ao forno, resultando, após a queima, em uma visualidade de delicada potência plástica. A amiga explica que a artista tinha cuidado meditado na exploração e escolha das matérias, “cujo colorido original traz a alma da argila, já que só pode ser conseguido devido aos minerais presentes na argila e ao forno com o qual ela trabalha”, conta. “Toshiko Ishii foi uma sábia. A cerâmica dela tem a mão e a vida dela”, afirma, lembrando que um prato feito ao final da vida traz o ideograma existir.
Cotidiano
Para Erli Fantini, a cerâmica de Toshiko Ishii reflete a vivência de mulher de família de classe média, que ofereceu aos filhos boa educação e se ocupou com artes, costura, culinária etc. A descoberta de argila no pasto da fazenda fez com que ela começasse a trabalhar com cerâmica, hábito integrado à sua vivência doméstica. “Para Toshiko, fazer arroz era tão importante quanto fazer cerâmica. As peças que fazia eram para ser usadas”, conta. A curadora observa que a vivência da roça, sempre às voltas com um cotidiano regrado, e a proximidade com a natureza dão sabor de forte autenticidade às peças, ecoando nas decorações com desenhos de bichos, flores e frutas.
“Foi difícil para Toshiko entender nossas abstrações e desejos de dar à cerâmica outro enfoque que não o utilitário”, recorda Erli com bom humor, lembrando o carinho da amiga japonesa com a produção desse tipo de objeto. A amizade de Toshiko com Erli e Adel Souki é da primeira metade dos anos 1980, motivada pelo interesse comum e pelo fato de Toshiko ter um forno a lenha. A partir de então, o trio aprofundou suas pesquisas – inclusive em revistas e publicações japonesas – sobre a antiga técnica do bizen.
A influencia do contexto de Minas Gerais (“não há como Toshiko trabalhar sem considerar a especificidade do material encontrado aqui”) na formação da ceramista talvez possa ser detectada em potes e vasos de flores que são “bem mineiros”, observa Erli. “Na volta de uma viagem ao Japão, ela contou ter descoberto lá que era mais mineira do que japonesa”, recorda. O estímulo de Megume Yuasa, então um nome respeitado da cerâmica no Brasil, para que ela continuasse se soma a outros. O pintor Luiz Paulo Bavelli, genro de Toshiko, a incentivou, dando a ela papéis e lápis para que desenhasse. Acrescente-se que Toshiko nasceu em Kyoto, mesma terra da pintora Tomie Othake, não só amiga de infância como companheira no navio que trouxe as duas para o Brasil.
O ambiente em que viveu a ceramista, recorda Erli Fantini, seja na infância no Japão ou em Minas Gerais, valorizava a arte e a cultura. O marido, Nobukane Ishii, foi um excelente fotógrafo. Toshiko tinha gosto pela música, por ópera e pela leitura, chegando a fazer alguns haikais. Erli conta que, em relação à difusão do trabalho da artista, o principal está feito, pois foram publicados, em Minas Gerais, dois livros sobre a artista. A produção da ceramista, até por ser artesanal, é pequena.
Toshiko Ishii
Exposição de cerâmicas. No BDMG Cultural (Rua Bernardo Guimarães, 1.600, Lourdes, (31) 3219-8486). Diariamente, das 10h às 18h, quinta-feira, das 10h às 21h. Até 23 de setembro. Entrada franca..