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Coreógrafa do Grupo Corpo faz direção de abertura da Paralimpíada Rio 2016

Cassi Abranche promete espetáculo que vai fisgar o espectador "pelo coração"

Helvécio Carlos
"Estou trabalhando com uma equipe coesa, com gente legal. Aprendi no Corpo que harmonia rege tudo. Não adiante ser só fera. Precisa de gente fera e bacana" - Cassi Abranches, coreógrafa - Foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A.PRESS
Da noite para o dia, a vida da coreógrafa Cassi Abranches mudou. Em um período muito curto, ela precisou arrumar as malas, contar com o apoio da família, dar um tempo no Grupo Corpo, no qual é coreógrafa, e se mandar para o Rio de Janeiro. Há quase 40 dias, Cassi passa pelo menos dez horas em um espaço bem próximo ao Maracanã, onde trabalha com uma equipe de 2 mil pessoas, que farão parte da cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos Rio 2016 (7 a 18 de setembro).

Cassi é a coreógrafa do espetáculo, que, segundo diz, vai emocionar o público. Tanto ou mais que a abertura da Olimpíada. “São cerimônias diferentes uma da outra. A Olimpíada tem maior atenção e orçamento. Mas o grande barato é tentar fazer com que, cada vez mais, os Jogos Paralímpicos sejam recebidos com o valor devido. As equipes brasileiras paralímpicas são potências, grandes medalhistas”, diz.
Ela acredita que, mesmo empregando tecnologia semelhante à utilizada na abertura da Olimpíada, a abertura das Paralimpíadas “vai pegar o público pelo coração”.

A coreógrafa conta que ficou surpreendida quando recebeu o convite para ser a diretora de movimento da cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos, marcada para o dia 7 de setembro, no Maracanã. “Não sei coreografar nessa escala mega”, disse ela aos produtores, que imediatamente a tranquilizaram, dizendo que haveria uma especialista em coreografia de massa, a grega Dimitra Kitidrike, uma das poucas pessoas no mundo expert no assunto, trabalhando com a equipe.

Naquela reunião, Cassi conheceu a concepção da cerimônia de abertura, preconcebida dois anos antes, com o tema Rompendo Limites. “Não é preciso ser deficiente. O brasileiro rompe seus próprios limites. Somos brasileiros e não desistimos nunca. Esse lema é muito forte para nos definir”, diz ela.

A Araxá Dance Company participará da abertura dos Jogos Paralímpicos, no dia 7 de setembro, no Rio de Janeiro - Foto: Arquivo Pessoal O convite foi feito em meados do ano passado, durante os ensaios de Suíte branca, peça que marcou a estreia de Cassi Abranches, ex-bailarina do Grupo Corpo, como coreógrafa da companhia de dança mineira. Ela conta que, para bater o martelo, precisou organizar sua vida, já que, para início de conversa, teria que se mudar para o Rio de Janeiro. Foi preciso respirar e, com calma, encontrar uma fórmula para conciliar a agenda de estreia do novo trabalho do Corpo e resolver como ficariam os filhos Pedro, de 9 anos, e a pequena Estela, de 2, frutos de seu casamento com Gabriel Pederneiras.

Em idade escolar, Pedro ficou em Belo Horizonte, com a família. Estela seguiu com a mãe para um apartamento em Copacabana alugado pela coordenação da Paralimpíada. Cassi diz não sofrer com as saudades de casa, dos amigos, da família e do filho. “Essas mudanças são temporárias. São escolhas que fiz. Tento deixar tudo mais leve, porque daqui a pouco passa, volto à minha vida em Belo Horizonte e terei muitas saudades de tudo isso”.

PESQUISA
Cassi convidou a coreógrafa Daphne Chequer – “Meu braço direito nas Paralimpíadas, diz” – para chegar na frente, em janeiro.
Nos intervalos dos compromissos com Suíte branca, a coreógrafa se concentrava em pequisas nos vídeos das cerimônias de abertura e encerramento das Olimpíadas e Paralimpíadas de Londres (2012), Pequim (2008) e Atenas (2004), para “ficar por dentro de tudo que ocorreu nos últimos anos”.

Na sequência, convocou outros dois assistentes mineiros, Paula Zaidan e Alexandre Mayrink, além de Letícia Ramos, Karina Mendes, Karla Mendes, Carla Giglio, Tamara Catharino, Tatiana France, Eduardo Gonçalves e Denise Casanovas.

“Estou trabalhando com uma equipe coesa, com gente legal. Aprendi no Corpo que harmonia rege tudo. Não adiante ser só fera. Precisa de gente fera e bacana. Um trabalho desse tamanho é naturalmente desgastante, mas, se você tem uma equipe que pensa igual, tudo fica mais leve”, pondera Cassi, que trabalha sob direção de Fred Gelly, Vik Muniz e Marcelo Rubens Paiva.

Toda a parte criativa das cerimônias de abertura e encerramento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos é brasileira, mas, tanto na execução quanto na parte técnica, a mão de obra é estrangeira. “Não temos essa cultura de grandes eventos como o Super Bowl – a final do campeonato de futebol americano, marcada por apresentação de grandes shows no intervalo do jogo.

“Temos as escolas de samba, no que somos mestres. Temos propriedade na execução, por isso precisamos do suporte dos especialistas, que sabem fazer ou que passaram pelas Olimpíadas mais recentes”, diz.

DANÇA A Araxá Dance Company também estará na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos, dia 7 de setembro, no Maracanã. Sete integrantes do grupo inclusivo formado por cadeirantes, muletantes e andantes estão no Rio de Janeiro desde o início do mês, dedicando-se aos ensaios. Diretora artística e coreógrafa do grupo, Wanessa Borges Alves conta que, apesar de ser uma rotina exaustiva, a companhia está aproveitando ao máximo a experiência.

Sem recursos próprios, a Araxá Dance Company conta com apoio da CBMM. Com o dinheiro, alugaram um apartamento em Del Castilho, na Zona Norte do Rio, para onde se mudaram temporariamente.
Nem a distância do local de ensaios – o espaço One to One, construído ao lado do Maracanã – que obriga a quatro viagens ida e volta de ônibus e metrô tira o ânimo dos voluntários.

O grande desejo de Wanessa é que os Jogos Paralímpicos deem maior visibilidade à dança esportiva em cadeira de rodas – uma das especialidades da Araxá Dance Company – e, em breve, seja incluída como esporte olímpico.

GRUPO CORPO NO ENCERRAMENTO
Enquanto a coreógrafa Cassi Abranches se dedica à abertura dos Jogos Paralímpicos, o Grupo Corpo foi convidado a participar da cerimônia de encerramento da Olimpíada, hoje, no Maracanã. O grupo mineiro, que completou 40 anos em 2015, apresentará um trecho de Parabelo, criação de1997, que tem música de Tom Zé e José Miguel Wisnick e coreografia de Rodrigo Pederneiras. O estilista mineiro Ronaldo Fraga também deixa sua marca na cerimônia de encerramento da Rio 2016, assinando figurinos do espetáculo..