Colocar no palco perguntas que o ser humano faz, seja durante sua caminhada no mundo ou diante das coisas.
A primeira, como explica Inês Amaral, diretora artística do grupo e solista da peça, é ponderação reflexiva sobre o pensar e escolher um caminho na vida. traZ-humante, por sua vez, é sobre o ser que traça seu caminho em meio a outras pessoas e impregnando objetos de suas vivências.
Senti-Do traz Inês Amaral de volta ao palco depois de três anos afastada, ocupando outras funções. “Não me incomodava, porque gosto muito das funções que estou ocupando”, conta.
A peça, explica, trata do entendimento da vida através de perguntas que todos se fazem. “Estou emprestando minhas memórias para falar de coisas universais”, observa, sem esconder dimensão existencial da coreografia. O fato de ser um solo, diz, é desafio para ela, que gosta de compartilhar a construção da obra e de cumplicidade.
“O prazer é poder colocar as minhas questões, o que também ocorre quando se atua em grupo, mas não de forma tão intensa”, compara. traZ-humante, por sua vez, continua Inês Amaral, é discussão sobre o que vemos no dia a dia.
“Está no palco a indagação sobre quem é essa criatura que transita entre outras pessoas, que se desloca tanto levando e trazendo coisas. Estamos falando sobre a transitoriedade, fragilidade”, observa.
O fato de as duas peças tratarem de temas afins traduz link que surgiu involuntariamente. “São trabalhos distintos, que carregam vontade do Camaleão de falar sobre questões humanas”, explica. O que não quer dizer que o grupo siga uma linha. “Como camaleões estamos sempre mudando de pede de acordo com a paisagem”, afirma, observando que espetáculo anterior, Retina, tinha dimensão social forte.
As duas peças foram construídas a partir das técnicas Piso móvel e Continuum, criadas, respectivamente, por Vladimir Rodriguez e Omar Carrum, que desenvolve movimentos tanto no chão quanto nos planos médio e alto e que explora o espaço valendo-se de trajetos espiralados e contínuos.
Prática que a companhia conheceu em trabalhos da dupla de coreógrafos e aprofundada em 2015 quando eles estiveram em Belo Horizonte para residência no Camaleão Grupo de Dança. “A identificação foi imediata e prazerosa. Temos o mesmo gosto pela pesquisa, por experimentar e ir além do que estamos fazendo”, recorda. “Foi um presente. Trouxe novas perguntas para nós”, acrescenta Inês, lembrando que o intercâmbio foi possível graças ao edital Iberescena.
MOVIMENTOS
Omar Carrum é integrante do grupo Delfos Danza Contemporánea desde 1993. Bailarino, coreógrafo, diretor e videoartista. Recebeu, em 2000, o Prêmio Nacional de Danza INBA-UAM, como intérprete, e em 2002 como coreógrafo.
Desde 2012 desenvolve o método Continuum, experiência pedagógica e de análise de distintas técnicas e estilos de movimentos. Vladimir Rodriguez fundou, em 2003, a companhia de dança Cortocinesis, que desenvolve pesquisa com a técnica Piso móvel.
Já trabalhou para diversas companhias mexicanas. Atualmente, está desenvolvendo o Projeto Escrita absurdo, com Omar Carrum, para a Delphi/México Companhia.
O Camaleão Grupo de Dança existe há 32 anos, 15 montagens, assinadas por coreógrafos nacionais e de outros países, entre eles Jorge Garcia, Mário Nascimento, Luís Arrieta, Tindaro Silvano, Carlota Portela e Tuca Pinheiro. Tem atualmente seis bailarinos (e viajam com mais duas pessoas, um iluminador e a diretora-geral Marjorie Quast).
“É formato que permite transitar com mais facilidade”, observa Inês. Recebeu, em 2014, os prêmios Sinparc/Copasa 2014 de Melhor Espetáculo, Melhor Trilha Sonora, Melhor Iluminação e Melhor Cenografia com Retina, apresentado em 20 cidades brasileiras. O sonho do grupo, no momento, é rodar com as novas montagens, se possível chegando ao México e Colômbia.
Senti-Do e traZ-humante
De Omar Carrum e Vladimir Rodriguez, com Camaleão Grupo de Dança.De amanhã a sábado, às 20h; domingo (dia 21), às 19h. Teatro Francisco Nunes (Parque Municipal) Ingressos a R$ 10 e R$ 5. Classificação indicativa: 14 anos.