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Com cláusula ignorada, Virada Cultural de BH tem dose extra de política

Bem que a prefeitura tentou impedir, mas o feitiço virou contra o feiticeiro e a política deu o tom da Virada Cultural 2016. Em reação à cláusula 8 prevista no contrato, que proibia manifestações de cunho político sob pena de multa, artistas e público protestaram contra a determinação e não se furtaram de colocar suas posições políticas em cena.

O nome do show do mineiro Di Souza, “Não devo nada a ninguém”, serviu quase como um recado para os organizadores. Conhecido por ser um entusiasta do carnaval de rua belo-horizontino, o músico e compositor, que se apresentou na noite de sábado no palco principal do Parque Municipal, fez ironias e criticou o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha.

Ao fim, junto de convidados e a banda, protagonizou uma cena memorável. Com mordaças e a inscrição “’É golpe” na barriga – em referência ao afastamento da presidente Dilma Rousseff do poder -, eles leram a contestada cláusula 8 (a prefeitura justifica que se trata de adequação à legislação eleitoral). O público foi à loucura, com gritos de “Fora Temer” e “Fora Lacerda”.

Mas a noite estava só começando e quem andava pelas ruas do Centro da capital, via a cada esquina frequentadores com camisas com frases e cartazes de conotação política. “A cláusula 8 se compara à ditadura. O público e os artistas têm total liberdade de se expressar, ainda mais nesse momento político”, comenta a socióloga, secretária bilíngüe e “tamborzeira” Rivana Alves, de 38 anos, no show do frânces Nicóla Son, na Praça Sete.

E as manifestações apareciam a cada esquina. Na Rua Aarão Reis, próximo à Praça da Estação, a Revirada Cultural se firmou como um palco independente, com programação de hip hop e rap.
A luta feminista e a crítica ao governo do presidente em exercício Michel Temer foram os destaques das apresentações. “Ninguém vai nos calar”, protestou uma das artistas.

Com essa marca política, a Virada Cultural 2016 se mostrou vibrante como nunca, com milhares de pessoas ocupando as ruas da cidade em clima tranquilo. O belo-horizontino mostrou que não quer só comida, diversão e arte, mas também se posicionar e falar de política, em ano de eleições municipais e de turbulências no Palácio do Planalto.

Num evento com tantas atrações e público, para variar, a estrutura de banheiros químicos ficou a desejar, com filas enormes. As ruas, avenidas e o Viaduto Santa Tereza ocupado por arte e cultura, os carros perderam lugar e o trânsito acabou confuso no Centro, exigindo paciência de motoristas..