Com a marca do hip-hop na abertura da Virada Cultural de 2016, a Praça da Estação foi, também, palco para posicionamento político. Muita gente levou para lá cartazes onde se lia “Fora Temer”, mas os artistas que se apresentaram – Dexter, Flávio Renegado e Criolo – deixaram claro que política vai muito além de palavras de ordem.
Dexter, o primeiro a se apresentar, revelou que, mais cedo, visitara presídio feminino em BH e, revoltado, reivindicou mais dignidade para homens e mulheres que vivem nas cadeias brasileiras.
Último a se apresentar, Criolo não gritou palavras de ordem. Mas defendeu os estudantes que têm ocupado escolas pelo Brasil afora para reivindicar educação de qualidade, mandou um “axé” para os professores brasileiros e ressaltou as mazelas impostas ao cidadão humilde no país. “Franco-atirador de rimas”, ainda atacou o racismo, a homofobia e a intolerância.
No Parque Municipal, o clima se repetiu. O mineiro Di Souza e sua banda usaram mordaças e a inscrição “É golpe” na barriga – em referência ao afastamento da presidente Dilma Rousseff –, e leram a contestada cláusula 8. O público foi à loucura. Também no parque, Sandra de Sá e a Banda Brilha animaram uma plateia estimada em 20 mil pessoas. A cantora lembrou seus grandes sucessos e brincou com a letra de Vale tudo. “Quem tem preconceito é um mané”, disse, depois de cantar “só não vale dançar homem com homem / nem mulher com mulher”. Sem atropelos, a carioca não protestou. “Sou pré-candidata a vereadora”, disse.
Na Rua Guaicurus, onde ficou o chamado palco da diversidade, houve momentos distintos.
Quem andava pelas ruas do Centro via a cada esquina frequentadores com camisas com frases e cartazes de conotação política. “A cláusula 8 se compara à ditadura. O público e os artistas têm total liberdade de se expressar, ainda mais neste momento político”, comentou a socióloga Rivana Alves, no show do francês Nicola Són, na Praça Sete.
No Sesc Palladium, o performático cantor pernambucano Johnny Hooker levou o público ao delírio com as canções de seu disco Eu vou fazer uma macumba pra te amarrar, maldito!, Muitos homens usavam saias ou vestidos. “Tem tudo a ver com ele. Além de um artista brilhante, o Johnny Hooker é uma figura que defende a liberdade de gênero, de cada um ser o que quiser, vestir o que quiser. Isso é bem bacana”, opinou Lisieux Araújo.
Na Praça da Rodoviária houve dupla estreia. Além de o espaço servir de palco pela primeira vez na Virada, o coletivo Masterplano também debutou com a festa eletrônica Se vira, baby. No cenário, projeções com imagens de políticos como o presidente em exercício e o deputado federal Jair Bolsonaro, com a palavra “Socorro “. “Aqui é um espaço pouco valorizado da cidade e a gente aproveitou esse momento político e social para contextualizar a nossa festa”, declarou um dos integrantes do coletivo, o artista visual Pedro Saldanha, o Pedro Pedro..