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Mesa sobre sexo na Flip 'broxa' e constrange o público em Paraty

Escritoras Gabriela Wiener e Juliana Frank falariam sobre suas obras, mas comportamento desequilibrado da segunda comprometeu discussão

Carolina Braga
- Foto: Walter Craveiro/Divulgação
Paraty - É difícil que apareça equívoco maior nesta Flip do que a participação da escritora paulista Juliana Frank. Convidada para a mesa Sexografias, ao lado da peruana Gabriela Wiener a brasileira foi a "empata foda" da noite de sexta-feira. Descontrolada, com falas desconexas, a autora de Quenga de plástico (2011) causou vergonha alheia. Um vexame e um desperdício.

No ano passado a Flip foi acusada de ser machista. A edição de 2016 é uma das mais feministas - e femininas - da história da Festa. As autoras estavam a postos para falar das respectivas literaturas provocantes, ousadas. Pouco a pouco o público da Tenda dos autores foi desistindo de dedicar seu tempo a ouvir as patetices da garota. Era tão constrangedor ver o comportamento dela quanto observar a sala se esvaziando.

Gabriela, que é jornalista, lança no Brasil o livro Sexografias (2016), um conjunto de reportagens em que ela coloca o próprio corpo a serviço de experiências sexuais diversas.
Fala sobre poligamia, swing, indústria pornô e outros temas. É defensora do amor livre e demonstrou ter uma elaboração bastante madura sobre as próprias escolhas e os atrasos da sociedade nestes e outros quesitos relacionados à mulher. Gabriela deu sinais de que tinha muito mais a dizer.

A jovem paulista tem quatro livros lançados, todos eles com personagens femininas independentes e de sexualidade livre. A postura boba de Juliana só fez reforçar o lugar da histeria. A escritora levantou dedo do meio para fotógrafos, fez brincadeiras com espelho para não aparecer nas fotos, ironizou e desconcertou completamente o mediador, o jornalista Daniel Benevides. Se ela queria ser irônica, não conseguiu. Errou feio na dose. O mediador se atrapalhou. Não foi pouco.

Apesar de sempre cortês, Benevides escorregou completamente em uma pergunta e associou a vida sexual feminina a comportamento promíscuo. “Quando se lê o livro da Gabriela pensa que poderia ser uma devassa, mas a filhinha dela está aqui. É uma mulher de família”, disse e foi imediatamente interrompido pela escritora. “Ele está me chamando de tarada?”, perguntou, atrapalhada na tradução do português para o espanhol.

A cada tentativa de consertar, o mediador piorava a situação de machismo velado. Até que Gabriela desistiu: “É melhor não seguirmos por este caminho”.
Enquanto isso, Juliana se comportava de maneira bastante estranha. Quase uma performance. Faltou tirar a roupa inteira porque o casaco ela jogou no palco.

O resultado foi uma mesa perdida, muito distante daquilo que prometia: uma discussão madura de mulheres que sabem se colocar como tal. A ideia de que poderiam falar sobre sexo com propriedade, sem pudores e segurança, terminou em uma tentativa patética de preencher uma cota. Infelizmente.

A repórter viajou a convite do Itaú Cultural.