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Drible na crise

Artistas lançam mão de soluções criativas para diminuir os custos de suas obras ou financiá-las

'Chá de peça', venda de figurinos e cenários e gravação de vídeo em celular são alguns dos recursos usados

Carolina Braga
A atriz Cynthia Paulino no 'chá de peça' que promoveu para arrecadar fundos para sua nova montagem - Foto: ACERVO PESSOAL

A cantora e feminista Karine Alexandrino costuma dizer que é hoje uma mulher que sorri. Assim, escapou de tornar-se amarga. “É o cuidado que a gente tem que ter”, observa a atriz Cynthia Paulino, que prepara uma peça inspirada nas ideias de Karine compartilhadas em redes sociais. A máxima vale até para o orçamento. Em períodos de crise, com o estrangulamento de mecanismos regionais de fomento à cultura e a Lei Rouanet na mira da Polícia Federal, artistas e produtores se viram como podem para viabilizar seus projetos. Festas, rifas, financiamentos coletivos e o enxugamento do próprio espetáculo tornaram-se alternativas para estar no palco.

A estreia do espetáculo que Cynthia prepara, intitulado Coisas boas acontecem de repente, está prevista para 30 de setembro, na Sala João Ceschiatti. Será o retorno dela à cena, após três anos dedicada a outros ofícios, entre eles a direção. O desejo de pisar no palco é bem maior do que a falta de dinheiro.
Por isso, ela tem inventado modos de transformar o espetáculo em realidade. Sem amargura.

Neste mês, promoveu um “chá de peça nova”. Amigos artistas se revezaram nas apresentações, na festa realizada no Espaço Pierrot Lunar. O lucro (de R$ 600) irá para a construção do cenário. Também está em curso uma rifa (a R$ 10). O prêmio será um baú de coisas boas, com pacotes de massagens, CDs, bonecas que a própria Cynthia confecciona. A ideia é conseguir arrecadar R$ 3 mil. “O único problema é que sou péssima para vender as coisas. Preciso enfrentar esse desafio”, reconhece.

Sobre os métodos tradicionais de financiamento, ela diz: “Claro que não vamos deixar de buscar apoio, mas, nos últimos anos, tem ficado cada vez mais complicado. Não quero depender da ajuda financeira de uma instituição para fazer. Vou correr atrás”. E espera conscientização por parte do público. “A cada temporada, o número de pessoas que pede convite é gigantesco.
Fora a classe artística, o pessoal não entende que é o nosso trabalho.”

PAGUE E LEVE

“Nada pior para um artista do que não poder trabalhar”, diz a atriz e artista plástica Juçara Costa. Ao lado de Matilde Biadi e Heloisa Duarte, ela protagoniza o espetáculo do médico e diretor teatral Jair Raso DDD – Deleite depois delete, que estreia amanhã, no Teatro da Biblioteca Pública Luiz de Bessa. É uma comédia sobre três mulheres maduras que não se rendem ao peso da idade. A máxima da peça – e principalmente da produção – é “quem não tem cão, caça com mouse”.

Para viabilizar a montagem, os produtores fecharam uma parceria com o antiquário Chafariz, que cedeu as peças para o cenário. Tudo está à venda. Se um espectador quiser comprar o sofá, poderá levá-lo para casa após a apresentação. “Depois, nós nos viramos para arrumar outro”, diverte-se Juçara.

O mesmo vale para os figurinos e acessórios usados por sua personagem. Cada dia de apresentação será uma roupa diferente. “É uma ideia que pode interessar alguma loja de roupas. Se pegar, será muito boa para nós.
O teatro é uma vitrine maravilhosa.” O diretor teatral e estilista Kalluh Araújo topou o desafio. Se alguém gostar da roupa, tem a opção de levar a peça usada pela atriz ou encomendar uma idêntica. Detalhe: as estampas das roupas são quadros de Juçara Costa.

DDD – Deleite depois delete, de Jair Raso
Sexta e sábado, às 21h, domingo, às 19h. Até 24/7. Teatro da Biblioteca Pública Luiz de Bessa. Praça da Liberdade, 21, Funcionários. R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)..