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Confira última entrevista de autora de 'Bowie - A biografia'

A jornalista britânica Wendy Leigh foi encontrada morta no último dia 2, em Londres. Dias antes, concedeu a seguinte entrevista ao Brasil

Agência Globo
O cantor e ator britânico David Bowie participa de entrevista no Festival de Cannes, em 1983 - Foto: RALPH GATTI/AFP

Autora de best-sellers sobre celebridades como Marilyn Monroe e Madonna, a jornalista britânica Wendy Leigh passou parte da vida mergulhada na intimidade de David Bowie, morto em janeiro deste ano. Entrevistou ex-namoradas e namorados do artista, pesquisou sua relação com as drogas, ouviu antigos amigos. Nasceu daí Bowie - A biografia, lançada recentemente no Brasil.

Wendy foi encontrada morta no último dia 2, em Londres. A polícia investiga se ela caiu ou se jogou da janela de seu apartamento. Dias antes, a jornalista concedeu a seguinte entrevista ao Brasil.


Você defende que não é precisa a ideia comum de Bowie como um camaleão. Por que?

Um camaleão muda. E ele não mudava, tinha muitos lados, e os mostrava um a um, como um caleidoscópio. Quando você vira um caleidoscópio, vê muitas cores.
E era isso que acontecia com Bowie: pintor, compositor, homem de negócios...

Como escrever sobre alguém já tão biografado?

O maior desafio foi encontrar algo que ninguém tivesse escrito. Então, reuni novas informações, sobretudo sobre sua vida pessoal. Há tantos livros de música sobre Bowie. Seria chato escrever mais um. Quero que pensem no meu livro como inusual e intrigante como Bowie foi.

Esse olhar sobre a vida pessoal mostra como os anos de formação foram fundamentais...

Sim, ele teve muita sorte de ter nascido onde nasceu, com um pai inteligentíssimo, que o ensinou a pensar sua carreira desde cedo. Por outro lado, cresceu num ambiente de sérios distúrbios mentais, o que foi terrível para ele (mãe e irmão foram diagnosticados com esquizofrenia, e Bowie vivia com o fantasma de também ficar doente). Teve sorte, era inteligente e converteu até as coisas ruins em arte. E também fez dinheiro disso.

Pelo livro, ele usou talentos extramusicais, como sex appeal, relacionando-se com pessoas para avançar na carreira...


Ele usou muito seu sex appeal, era um garoto safado (risos). Alguns dizem que não era bissexual, que jogava com isso para conseguir coisas na carreira. Acredito que, quando alguém é muito sexy, gosta de tudo.

O sexo tem papel de destaque no livro. Por que?

Sexo é parte da criatividade, e a criatividade é parte do sexo.

Pensando no trinômio “sexo, drogas & rock’n’roll”, apenas o rock não mereceu muito de sua atenção.

Como disse, há muitos livros de música sobre ele. E o sexo e as drogas diziam muito de Bowie. Eram uma maneira de fazê-lo sentir-se vivo e explorar sua criatividade.
Era um assunto da sua geração: sexo, drogas e liberdade. Ele foi um porta-voz dessa liberdade. Não quis ser normal, soube que poderia ser qualquer coisa. Sexualmente, inclusive. É significativo quando ele, novo, vê Mick Jagger no palco. Alguém da plateia grita para o cantor cortar o cabelo. E Mick responde: “E ficar parecido com você?”. Isso o impressionou. Mick era um modelo para ele, além de rival. Não estou muito certa se eles chegaram a ter sexo (há insinuações no livro), mas era uma relação muito rica de troca.

O que movia Bowie?

Ser famoso.

Mais do que o sexo ou a arte?

Não posso dizer, mas ele queria fama, e traçou a vida nesse sentido.
Mesmo sua morte foi lindamente organizada (dois dias após lançar o álbum Blackstar). Ele sabia que era a melhor hora para ter o máximo de publicidade. (Leonardo Lichote, Agência Globo).