Não adianta nem tentar pelo computador. O novo livro de Luis Fernando Verissimo só funciona para quem tem smartphone ou tablet. O sétimo gato faz parte de uma ousada proposta de incentivar a leitura de crianças de 0 a 5 anos. Se os bebês da geração touch parecem nascer com os dedinhos ativos, é essa a linguagem escolhida.
Verissimo não tem gatos e confessa nem sequer simpatizar com os bichanos. No entanto, foram eles os escolhidos para fazer parte de uma história bastante simples da relação entre um garoto e os sete gatinhos que ele ganhou. Como característica da espécie, cada animal tem personalidade bastante forte. O Bolinha, por exemplo, se achava francês e só atendia se o chamassem de Pierre ou Jean Paul.
O autor de As mentiras que os homens contam diz que escreveu pensando em como contaria a história para um neto. “Escrever para criança é um desafio.
As ilustrações de O sétimo gato foram criadas pelo jovem ilustrador paranaense Willian Santiago, de 25 anos. O volume é o segundo de uma série que começou em abril com O menino e o foguete, de Marcelo Rubens Paiva, com ilustração de Alexandre Rampazo. O projeto faz parte da campanha Leia Para Uma Criança, idealizada por um banco, em parceria com uma agência de publicidade.
De acordo com o diretor de criação Rafael Ziggy, o primeiro desafio era ampliar o alcance dos livros. Assim surgiu o plano de distribuí-los gratuitamente na timeline do Facebook dos pais. Seria uma forma de aproximar a realidade deles – cada vez mais viciados na rede social – e também dos filhos, vidrados pelos aparelhos que ainda não possuem.
É uma tecnologia relativamente barata. A programação utiliza o Canvas, um novo formato de anúncio apresentado pelo Facebook. Ele permite um design de tela cheia, imersivo, dentro da plataforma. Ao longo da história, as ilustrações ganham vida, a trilha sonora desperta a atenção. Se alguém sacode o celular, o mesmo acontece com os personagens.
“A animação é muito sutil para que não seja maior do que a história. Não é objetivo ser um desenho animado. É um modo de dar charme para o livro”, diz Ziggy. Depois de Marcelo Rubens Paiva e Luis Fernando Verissimo, duas autoras, cujos nomes ainda não foram divulgados, devem participar do projeto no segundo semestre.
Seis perguntas para...
LUIS FERNANDO VERISSIMO
autor de O sétimo gato
O digital abriu possibilidades para a sua literatura, inclusive para adultos?
Acho que a forma em que o livro será publicado depende da editora. Para o autor, não faz muita diferença escrever para um formato ou para outro. O teclado é o mesmo. A decisão sobre o formato não é minha, portanto a escolha da técnica e do público-alvo também não é minha. Só posso dizer que não tenho nenhum preconceito contra novas formas e novas linguagens.
Como é a sua relação com aparelhos como smartphones, tablets e também com as redes sociais? Precisou de ajuda para experimentar o seu próprio livro?
Não tenho nem celular e uso o computador como uma máquina de escrever com memória, mas recorro bastante ao e-mail e ao Google, que eu chamo de erudição instantânea. Fora isso, não tenho nenhuma intimidade com o mundo da informática.
Os amantes do livro em papel costumam ser muito resistentes a outras experiências literárias. Quando viu o projeto pronto, o que mais chamou a sua atenção em relação à ferramenta?
Fiquei impressionado, como fico diante de qualquer técnica nova. Já existem “smart fones” que dialogam com as pessoas e eu ainda não entendi como funciona a torneira.
Sua literatura para adultos é marcada por ironia e humor. As mesmas características aparecem em O sétimo gato. O Verissimo rebelde e gozador também aparece por trás da história dos gatos que não aceitam qualquer tipo de “cabresto”.
Acho que a “mensagem” da história é a de tolerância com diferenças e da importância da comunicação. Pelo menos a intenção foi essa.
Doutora Nise da Silveira chamava os gatos de coterapeutas. Você chamaria os gatos de parceiros, “coautores” nesta sua experiência “infantil”?
Gostei do “coautores”.
O que diria para as pessoas que têm preconceito contra os bichanos, associados ao capeta e ao mal? Aqui em Minas, tem muita gente ainda fazendo crueldade com os bichinhos por conta dessa superstição...
Tolerância, tolerância, com os bichos e com as pessoas..