Seduzindo, chocando, desafiando, intrigando o público e pesquisadores de arte, essa exposição reúne um extenso conjunto de pequenas esculturas construídas com os mais diversos materiais. Peças que, dando novos significados a objetos e materiais do cotidiano, dão forma, às vezes de modo impactante, a um discurso cujo mote é a explicitação das violências da vida e do mundo. Trata-se de uma visão de mundo rebelde, iconoclasta e, ao mesmo tempo, nostálgica e seduzida pela beleza das formas e texturas.
O escultor, desenhista, pintor, gravador e ilustrador Farnese de Andrade Neto nasceu em Araguari (MG) e se mudou em 1942 para Belo Horizonte, onde estudou com Alberto da Veiga Guignard. Em 1948, foi para o Rio de Janeiro. Entre 1950 e 1960, trabalhou como ilustrador de várias publicações, além de estudar gravura em metal, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Aos poucos, trocou o desenho e a pintura pela escultura criada com diversos materiais.
Foi com material coletado na praia e em aterros que Farnese criou suas primeiras esculturas, que datam da primeira metade dos anos 1960. Aprofundando-se nessa técnica, passou a usar antiguidades, fotografias, resina acrílica.
Os trabalhos do mineiro sempre tiveram reconhecimento da crítica, do público e do mercado. Mostras extensas realizadas após sua morte vêm dando ênfase à sua longa atividade como escultor. Por isso mesmo um catálogo reunindo a obra completa, nem que fosse apenas de esculturas, seria bem-vindo. Desafiador, mas não menos sedutor seria uma biografia desse artista que permanece misterioso e cercado de lendas, em que pese o muito que se sabe sobre ele.
ESPECTADORES
Layela Vitória Alves conheceu o trabalho de Farnese com o professor de artes, que levou a turma dela para ver a exposição Arqueologia existencial. Ela gostou tanto que voltou trazendo o amigo e também estudante Guilbert Damasceno. “Fiquei encantada com as obras, a galeria, a montagem da exposição e a história de Farnese”, conta ela. “São peças que causam inquietação, bem construídas e muito críticas a religião”, diz.
“O trabalho de Farnese tira o especador da zona de conforto”, observa Guilbert. Tanto para ele como para Layela, se por um lado as peças do artista chocam, também fazem pensar. “E isso é raro”, avalia Guilbert, vendo afinidades entre os trabalhos de Farnese e os de Tunga e de Miguel Rio Branco. A estranheza das peças não tira dos jovens o encanto com elas. “Adoraria tê-las no meu quarto”, diz Layela.
Isabella Lima, Maria Laura Ferreira e Sandra Zanon também não conheciam a obra de Farnese de Andrade. E gostaram do que viram na Grande Galeria do Palácio das Artes no fim de semana passado.
O trio de espectadoras elogia o teor do documentário. “Ajuda a entender um artista que, como em filmes de terror, cria um clima tenebroso, mas interessante e que surpreende”, diz Isabella Lima. O mesmo aspecto, para Sandra Zanon, dá dimensão meio mórbida e assustadora às obras de Farnese.
A restauradora Camilla Ayla não só viu a exposição como levou amigos norte-americanos ao Palácio das Artes. “Acho uma exposição importantíssima. Ainda não tinha visto tantas peças de Farnese juntas”, conta. “É um artista incrível, que, falando dele, fala de coisas universais. Como sentimento de pertencimento e não-pertencimento, amor, pulsão sexual, relação do indivíduo com o lugar em que vive, relações familiares”, exemplifica.
Há ainda mais motivos que aumentam a consideração de Camilla Ayla pela exposição Arqueologia existencial: “Sou das que acham que precisamos falar mais dos artistas mineiros, dos brasileiros. Temos criadores importantíssimos que mereciam mais espaço em museus
Arqueologia existencial
Trabalhos de Farnese de Andrade. Grande Galeria do Palácio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400.