Esse raciocínio é raso. A partir do momento em que o livro diagramado fica pronto para ir para a gráfica, a finalização digital demanda acabamento distinto. Também é preciso investir. Editores garantem que o processo é tão custoso quanto os gastos com impressão e distribuição.
“Considerando as despesas de produção (conversão do físico para o digital) e outros custos internos, a margem do livro digital já é bastante apertada”, afirma Vitor Frias, analista comercial da Editora Intrínseca. As empresas do setor evitam falar em valores.
“Não acho que seja um tabu. De forma geral, os leitores de e-books enxergam outras vantagens nessa forma de leitura do que simplesmente o preço. Quem compra um livro digital não compra apenas um arquivo. Há todo um processo por trás da produção e comercialização do mesmo”, ressalta Frias.
Consultor na área, Greg Bateman participou da criação de produtos voltados para a leitura digital, como o Kindle, dispositivo da Amazon. Segundo ele, os e-books têm custos fixos mínimos, mas as editoras evitam trabalhar com valores muito baixos para não “canibalizar” o produto.
“Os custos principais da tradição editorial, como revisão de texto e arte de capa, ficam mais alocados na despesa do impresso. O digital tem custos de conversão, de administração de plataforma e outros”, explica Silvia Leitão, editora de livros digitais do Grupo Editorial Record. Uma das despesas é com gerenciamento de direitos autorais, o chamado DRM (Digital Rights Management). É um conjunto de tecnologias usado para proteger o conteúdo de cópias não autorizadas. O mecanismo também é adotado em músicas e filmes vendidos em formato digital.
A linha de produção do e-book começa com a conversão do arquivo PDF para extensões como epub, mobi e outros compatíveis com os aparelhos de leitura. Depois dessa conversão, o arquivo retorna para a editora, responsável por testar em diferentes e-readers (dispositivos como Kindle, Kobo capazes de ler estes arquivos), tablets e smartphones. “Tem que passar por pelo menos quatro para validar. Depois disso, a gente faz o cadastro no distribuidor”, explica Silvia.
Quando o mercado de e-books começou a dar sinais de vida no Brasil, há pouco mais de cinco anos, seis grandes grupos editoriais – Companhia das Letras, Rocco, Sextante, Record, Novo Conceito e Planeta – se uniram para criar a Distribuidora de Livros Digitais (DLD). É função da empresa fazer a ponte entre as editoras e a comercialização em livrarias virtuais.
Como trabalham em conjunto, as editoras conseguem definir um preço mínimo.
É por isso que, no Brasil, os valores dos e-books não são tão mais baixos que os livros físicos. A média é R$ 16. A regra é que o preço de um arquivo digital seja 30% mais barato do que o livro convencional. Apenas em ações promocionais – em combinações particulares das editoras com as lojas – os descontos podem ultrapassar os 50%. Existe uma cláusula de paridade nos contratos com as lojas exclusiva para o mercado digital.
LONGO CAMINHO “Se eu colocar um e-book na Kobo a R$ 1,99, todas as outras têm direito de colocar o mesmo preço e quem arca com isso é a editora. É uma política diferente”, explica a consultora Camila Cabete, gerente de relacionamentos da Kobo Inc. no Brasil. Para ela, não é o e-book que parece caro, mas o livro físico que está sendo vendido muito abaixo do que deveria.
A popularização do e-book tende a forçar a queda nos preços. O problema é que ainda há um longo caminho pela frente.
Quando o assunto é o mercado dos livros digitais, os números são bem mais tímidos: 52% da população alfabetizada nem sabe da existência desse tipo de obra. Ou seja, estamos falando de um mercado de nicho. Pesquisa encomendada pela Câmara Brasileira do Livro mostra que, entre 2014 e 2015, o número de exemplares digitais vendidos aumentou 4,2%. Os 1.264.517 e-books vendidos geraram faturamento de R$ 20,44 milhões, valor 21% superior ao apurado em 2014.
“O mercado brasileiro ainda está aprendendo a lidar com a chegada do formato no país e há muito para aprendermos, principalmente no tocante ao melhor formato e condição de acessibilidade para os leitores. O preço é apenas um desses fatores”, observa o consultor Bruno Mendes, especialista na área de tecnologia.
Hoje, o mercado de livros digitais representa em média 3% da receita das grandes editoras. Para Vitor Frias o maior desafio é desenvolver o hábito da leitura nos meios digitais, elaborando produtos de excelência, que atraiam o leitor em potencial.