Pieter Tjabbes recorda a guerra para explicar que o conflito teve impacto e provocou reflexões éticas e morais para a vida cultural e artística. Os dadaístas, exemplifica, vão defender que a sociedade que gerou e promoveu tal tragédia não pode abrigar arte. E, com palavras e atos, propuseram a destruição completa de todos os conceitos que fundamentaram sociedade fratricida.
Os alinhados ao movimento De Stijl (O Estilo), tema da exposição, vão argumentar a favor de perspectiva diferente: “A solução era oferecer à humanidade instrumentos para construir um mundo distinto daquele que levou à catástrofe. Não bastava apenas uma nova arte, mas era necessário criar uma nova cultura”, explica Tjabbes.
Construídos com linhas horizontais e verticais, espaços abertos, assimetrias, cores primárias (vermelho, amarelo e azul) e não cores (preto, branco e cinza) chapadas, os trabalhos buscam comunicação clara, organizada e universal. São as criações movidas por essa mirada e o impacto delas e das ideias que carregam na história da arte, explica o curador, que vão estar na mostra. São pinturas, mobiliário, projetos gráficos e arquitetônicos e fotos criados por articulação de artistas, arquitetos e designers que, entre 1917 e 1928, propuseram a construção de um novo mundo.
“A intenção era criar uma linguagem que todas as artes poderiam utilizar, cercando o ser humano, por todos os lados, de um novo modo de pensar”, explica o curador. “Como profetas, os integrantes do movimento passaram a difundir sua proposta”, conta, recordando que se trata de uma utopia que entre suas referências tem, inclusive, doutrinas religiosas (a teosofia). “De Stijl desde o início atraiu mentes abertas”, frisa o curador. Lembra, por exemplo, que, desde o início da empreitada, a turma cultivou diálogo intenso da arte com a arquitetura e o design. O nome da revista De Stijl, observa Tjabbes, não quer dizer um, mas “o” estilo. Ou seja: para o neoplasticismo, não haveria outro caminho além do proposto por eles.
MONDRIAN
Piet Mondrian (1872-1944) foi criador do termo neoplasticismo e fundador do De Stijl, em que foi particularmente ativo entre 1917 e 1928. Integra-se ao movimento em 1917, já então artista consagrado. Ele chega à abstração depois de caminhada simplificando cada vez mais a figuração, em busca de concentração nos valores estruturais da linguagem plástica. Ao final da vida, vai romper com o movimento, quando Theo van Doesburg (1883-1931), o principal ativista e articulador do grupo, admite o uso de diagonais, já que considerava as linhas retas essenciais à proposta.
“As obras de Mondrian têm, até hoje, um frescor que outras peças históricas não têm. Ele tem boas pinturas em todos os momentos de sua carreira”, observa Pieter Tjabbes. Mondrian e o movimento De Stijl traz 30 pinturas do artista pontuando todas a fases de sua carreira, vindas do Museu Municipal de Haia.
A exposição, conta Tjabbes, não foi fácil de organizar, já que, por serem peça frágeis, as instituições não gostam de ceder as obras. Se existiu desconfiança do circuito internacional de arte com relação à capacidade de o Brasil receber exposições históricas, devido às condições precárias das instituições, hoje a questão está superada . O curador foi um dos organizadores da mostra A magia de Escher, que fez sucesso no Brasil, incluindo Belo Horizonte. “O público brasileiro tem menos informação sobre arte, mas tem entusiasmo maior. É mais aberto do que o público europeu, que, por já ter visto muita coisa, é muito blasé”, compara. Considera que o Brasil merece, mas ainda não recebeu, exposição ampla dedicada à pop art..