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O Brasil do povo

Exposição no Centro de Arte Popular Cemig destaca os vários aspectos da brasilidade

Brasilidade reúne cerca de 100 peças no Centro de Arte Popular Cemig, no Circuito Cultural Praça da Liberdade. Esculturas, pinturas, fotos, objetos, mobiliário, arte indígena e vestuário vieram de vários acervos – de coleções particulares a museus. Estão lá figurinos de Carmen Miranda e Clara Nunes, trabalhos de artistas contemporâneos e evocações à arquitetura de Oscar Niemeyer e Brasília.


Na face externa do prédio fica a coleção de trabalhos que têm Nossa Senhora Aparecida como tema. “Estamos falando sobre arte popular brasileira, sobre artistas e artesãos que, ao longo de sua trajetória, fizeram da pátria e da simbologia nacional temas de sua obra”, explica o curador Tadeu Bandeira. “Brasilidade é exaltação do Brasil”, resume.

O registro é afetivo, mas isso não abole observações críticas. Uma peça que chamou a atenção de Tadeu foi o manequim de alfaiataria, dos anos 1950, de um sorridente homem negro. Ele destaca também a manta de bumba-meu-boi com as colunas do Palácio da Alvorada bordadas ao lado da bandeira do Maranhão.

Tadeu Bandeira não esconde o encanto pela cabeça indígena esculpida por Valentim Rosa e pelo trabalhador que surgiu das mãos do artista plástico mineiro G.T.O. Destaca também a variedade de reinterpretações da Bandeira Nacional.

“Quem for ver a exposição vai sair dela valorizando o Brasil”, garante.
Tadeu quer atrair crianças e escolas. “É mostra didática, onde se pode conhecer quem criou a nossa bandeira, nossos hinos e brasão”, avisa.

BRASÍLIA
Do lado de fora do prédio ficará uma Romiseta, o primeiro carro fabricado no país. Trata-se de apenas uma das várias referências a Brasília e a Oscar Niemeyer, emblema do “novo Brasil”. O arquiteto e a cidade impactaram vários setores, explica Tadeu.

A exposição também exibe móveis criados por designers que marcaram a produção nacional a partir dos anos 1950. Brasilidade nasceu de observações que, ao longo do tempo, o curador fez sobre obras e situações. Trata-se de um projeto que pontua o nacionalismo, a cultura brasileira e a memória, “motivos que hoje podem ser encontrados em muitos autores”, explica Tadeu Bandeira. Ele chama a atenção para o destaque conferido à arte indígena.

O curador explica que, deliberadamente, ignorou classificações como arte erudita e arte popular.
Para ele, no contexto contemporâneo, isso diz pouco sobre a produção cultural. Tais parâmetros devem até ser abandonados. “Não adianta a pessoa ter diploma de artista, de curso de arte, se o que ela faz é inexpressivo. O mais importante é a qualidade artística, a expressão, o significado da peça”, argumenta.

Brasilidade abre o intercâmbio do Centro de Arte Popular Cemig com outros acervos. “Acho muito positiva a troca e a interação entre instituições. Todas elas e o público só têm a ganhar”, considera Tadeu. Para ele, isso vem sendo possível devido à melhora da infraestrutura de várias instituições.

Tadeu Bandeira é otimista em relação ao Centro de Arte Popular Cemig. Desde que tomou posse na direção da instituição, em março de 2015, ele cuidou especialmente de dar continuidade à programação regular.
A mostra anterior a Brasilidade foi dedicada a Marcos Garcia, que apresentou desenhos. A próxima será Devoção popular, reunindo ex-votos e santos caseiros do século 19.

“A agenda traz dinâmica ao funcionamento do Centro de Arte Popular, permitindo ao público acesso a várias modalidades artísticas”, destaca o curador. A vivência no local trouxe reflexões: “O brasileiro tem dificuldade com a palavra popular, acha que ela designa coisas inferiores, sem qualidade. Só aceita a palavra na expressão ‘música popular’. Está na hora de deixar o preconceito de lado”, defende. “Ainda vejo muita gente que passa na nossa porta e não entra. Não precisa temer, é só pisar que a porta abre automaticamente”, brinca.


BRASILIDADE
A mostra, que será aberta ao público amanhã, fica em cartaz até 14 de agosto. Centro de Arte Popular Cemig. Rua Gonçalves Dias, 1.608, Funcionários, (31) 3222-3231. Terça, quarta e sexta-feira, das 10h às 19h; quinta-feira, das 12h às 21h; sábado e domingo, das 12h às 19h.

Entrada franca.

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