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Escritor J. P. Cuenca abre série de encontros literários no CCBB em Belo Horizonte

O autor faz bate-papo com o público nesta quarta-feira, às 19h30, no centro cultural

Mariana Peixoto

Aos 37 anos, Cuenca é um dos autores mais festejados da literatura brasileira contemporânea - Foto: Pedro Urano/divulgação


João Paulo Cuenca estreou em livro em 2003. Corpo presente, sobre as obsessões de um homem que vive em Copacabana, levou três anos para ser gestado. “Sempre fui um grande leitor de ficção, era compulsivo, e este primeiro livro foi escrito porque eu precisava ler algo que não existia.”

Depois desse foram outros três romances, uma compilação de crônicas, vários contos, espetáculo teatral, série de TV, filmes. “Mas, fundamentalmente, sou um romancista. O romance foi a forma que encontrei para organizar minha existência”, afirma o escritor.

 

Tanto por isto, Cuenca abre nesta quarta-feira o projeto Literaturas – Encontro com autores da nova literatura brasileira. Até dezembro, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de BH – e também os de São Paulo e Brasília – vai promover o ciclo de oficinas literárias e debates.

Serão sete convidados, cada um falando sobre um gênero literário. Além da conversa com o autor, que será mediada pelo poeta Lucas Guimaraens, haverá ainda uma oficina (inscrições já encerradas) e uma leitura dramática, em que o ator Leonardo Fernandes vai ler trechos dos três primeiros romances de Cuenca selecionados pelo próprio autor.

Aos 37 anos, Cuenca é um dos autores mais festejados da literatura brasileira contemporânea. Tem uma presença constante na imprensa, graças a sua atuação como cronista.

“Há escritores jovens que não têm participação em rede. Há um tipo de literatura mais on-line, mais ligada ao entretenimento. Cada escritor tem seu próprio caminho e seu jeito de ocupá-lo. Nunca me neguei a ocupar espaços.”

Na conversa com o público, Cuenca vai falar do romance como “parte da cultura do mundo” e contextualizá-lo em relação a seus próprios livros. O autor, por sinal, lança o quarto romance em 1º de julho, na Festa Literária de Paraty (Flip). Publicado ano passado em Portugal, Descobri que estava morto chega agora ao Brasil. E não vem sozinho. Um dia antes, em 30 de junho, chega aos cinemas o primeiro longa-metragem escrito, dirigido e protagonizado por Cuenca, A morte de J. P. Cuenca.

No encalço da própria morte

Em 2011, João Paulo Cuenca descobriu que estava morto. E já fazia algum tempo. “Em julho de 2008, um cadáver foi identificado pela polícia com a minha certidão de nascimento. Tenho o registro da minha morte, o exame cadavérico.
Só não tenho a certidão de óbito”, afirma o escritor.

O incidente, além de ter impactado fortemente o escritor, acabou sendo o ponto de partida de um projeto ambicioso: investigar esta história, o que acabou resultando em duas iniciativas independentes, mas que dialogam entre si.

Lançado ano passado em Portugal, Descobri que estava morto, quarto romance de Cuenca, chega ao Brasil em julho com edição da Planeta. O próprio autor pediu para que o lançamento nacional fosse agora. Primeiro, porque o título vai inaugurar um selo da editora. E segundo, porque ele vem a público simultaneamente com o longa-metragem A morte de J. P. Cuenca. Neste meio tempo, o autor fez pequenas modificações para a edição brasileira do romance.

“Recebi a notícia de que tinha sido registrado como morto num edifício da Lapa, no Rio de Janeiro. Contratei um detetive para saber o que tinha acontecido”, comenta ele. Paralelamente à sua investigação pessoal, o autor/personagem ainda busca traçar um retrato do próprio Rio, que, na época, estava passando por uma série de mudanças.

O corpo encontrado, por sinal, estava num edifício ocupado, que, posteriormente, deu lugar a um condomínio de luxo. “Uma coisa ajudou a fazer a outra, mas comecei os dois projetos ao mesmo tempo.
Só que um filme começa muito antes do set. No processo de pesquisa, morei, inclusive, no lugar (o edifício) durante um tempo. Uma obra não é adaptação da outra”, acrescenta.

Transitando entre a ficção e o documentário, A morte de J. P. Cuenca traz o escritor interpretando a si mesmo, enquanto investiga o roubo de sua identidade e tenta descobrir quem foi o morto que lhe “roubou” a vida. O elenco traz apenas uma atriz, Ana Cláudia Cavalcanti – todos os outros personagens envolvidos na narrativa interpretam a si próprios. No Brasil, o filme foi exibido no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo.

PACTO

A incursão de Cuenca no cinema vem após algumas iniciativas de TV – é o autor da série Afinal, o que querem as mulheres? (Globo) e codiretor da série Nada tenho de meu (Canal Brasil). Admite que o processo que gerou livro e filme também representou um divórcio do Rio de Janeiro. Desde o ano passado, Cuenca vive em São Paulo. “Não aguentava mais o Rio de Janeiro. Foi um divórcio litigioso. Estou feliz em São Paulo. Bem, feliz não existe, estou mais confortável. Só saio de São Paulo se sair do Brasil.”

Como atua em várias frentes, Cuenca pouco fica parado. Seus livros foram publicados em outros países e ele desenvolveu laços com o mercado português. Sua atuação como cronista o fez ser um dos nomes mais festejados da nova geração. “Fico constrangido já há uns cinco anos”, comenta ele, quando ainda hoje é nomeado como “jovem escritor”.

Fato é que a crônica é uma das vertentes mais reconhecidas de seu trabalho. Gênero tão brasileiro, como Cuenca afirma, surgiu em sua vida na infância. Um dos autores de sua formação foi Fernando Sabino. “Vejo a crônica como um registro pessoal do lugar e da cidade. É o papo da esquina, um exercício literário completamente diferente do romance. Para cada romance que escrevi tive que construir um narrador, uma voz diferente. A crônica é mais direta, pois eu estou na cena.”

Mas, independentemente da forma, para ele, é a literatura que importa. “Hoje, um escritor não vive da venda de seus livros, mas das atividades paralelas a ele. Felizmente, tive a sorte dos meus livros terem sido traduzidos para outros países, mas não escrevo para vender. Primeiro, preciso dos meus livros para lê-los. Em segundo lugar, preciso do diálogo, do pacto com o leitor”, finaliza.

ENCONTRO COM AUTORES DA NOVA LITERATURA BRASILEIRA

CCBB, Praça da Liberdade, 450, Funcionários. Hoje, às 19h30, com João Paulo Cuenca. Mediação de Lucas Guimaraens. Entrada franca (senhas serão distribuídas a partir das 18h30).

Programação

>> Hoje – Romance com João Paulo Cuenca (leitura do ator Leonardo Fernandes)
>> 13 de julho – Crônica com Antonio Prata (leitura do ator Éder Rodrigues)
>> 10 de agosto – Conto com Carol Bensimon (leitura da atriz Mariana Blanco)
>> 14 de setembro – Literatura dramática com Jô Bilac (leitura
do ator Leonardo Fernandes)
>> 12 de outubro – Romance, conto e crítica literária com Julián Fuks (leitura do ator Éder Rodrigues)
>> 9 de novembro – Quadrinhos com Fábio Moon (com imagens do trabalho do quadrinista)
>> 21 de dezembro – Poesia com Laura Erber (leitura da atriz Mariana Blanco)

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