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"Construir em conjunto", diz estudante sobre ocupações

Por O.M.M.
- Estudante da Etec Guaracy Silveira (SP), 16 anos Somos estudantes e a nossa pauta é simples: não queremos mais passar fome, ou então, não queremos que o nosso colega passe. Não há por que desmerecer nossa luta. Mas muito do que aconteceu nos períodos das ocupações nos prova que tentam desmerecer essa luta porque estão com medo. E os de cima são os que mais nos temem. Na minha opinião, as ocupações do movimento secundarista têm a intenção de reivindicar uma escola democrática, em que os alunos, assim como outros atores da sociedade, possam participar intensamente da sua construção. Esse movimento teve um peso muito grande durante o ano passado, quando lutamos contra a (des)reorganização nas escolas estaduais e, esse ano, na luta pela merenda escolar também nas escolas técnicas estaduais de São Paulo (Etecs). Porém, as ocupações são apenas uma das maneiras de lutar contra a precarização da educação no nosso país. A organização e mobilização dos estudantes são feitas por eles próprios. Trazem em si força de vontade suficiente para trabalhar em conjunto para conquistar suas pautas. Durante as ocupações, costumamos nos dividir em comissões, para que seja mais fácil realizar os trabalhos necessários: limpeza, alimentação e segurança.
Todos os dias ocorre, no mínimo, uma Assembleia, em que um de nós se encarrega de ser a Mesa, ou seja, alguém faz a ata. Essa função é, claramente, rotativa. Debatemos o momento atual da ocupação, seus problemas e suas pautas. Os estudantes deixam claro que no movimento secundarista não há hierarquia. Todos devem ter voz nas decisões do conjunto e todos devem cooperar para que se construa o movimento. Tentamos sempre articular propostas para atingir o que queremos, pois, na luta, mais importante do que saber o que não se quer é saber aonde queremos chegar. Nessa luta, muitos do que se envolvem se expõem durante o processo e, por isso, acabam sofrendo consequências em suas próprias escolas ou até mesmo opressão da Polícia Militar e do Estado. Muitos dos alunos que participaram das ocupações de escolas estaduais e das Etecs este ano, onde reivindicamos a merenda escolar, estão sofrendo perseguições. Diretores, coordenadores, alunos e professores tentam reprimi-los, fazendo com que o estudante não consiga acompanhar a matéria ou provocando motivos para causar suspensões e até mesmos expulsões. Os alunos ainda estão constantemente sendo intimados a depor na delegacia e a %u201Cprestar esclarecimentos%u201D, pois diretores das escolas registraram boletins de ocorrência apontando alguns estudantes como líderes, apesar de ser um movimento horizontal, que não tem representantes. Por causa da repressão e da pressão psicológica que sofremos, é muito importante ter o apoio dos pais e dos professores nessa luta. Muitos já se articulam entre si para nos dar suporte. Somos muito jovens e precisamos ser orientados de vez em quando. Todos sabem que a educação é um dos meios mais importantes para resolver muitos problemas de nossa sociedade. Porém, ela também é usada como arma de alienação. Vendo a tentativa de sua precarização, nós, como parte da sociedade, não podemos nos dar ao luxo de não lutar por sua melhoria. Gostaria de reafirmar que não é possível falar em nome do movimento, uma vez que esse é horizontal e construído em conjunto..