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Histórias para contar

50 anos de Suplemento

Relatos do jornalista e poeta Carlos Ávila

- Foto: Eugenio Pacelli/EM
*por Carlos Ávila
 
O Suplemento Literário de Minas Gerais (SLMG) tem uma longa trajetória, iniciada na metadedoséculo passado; idealizado pelo escritor Murilo Rubião, foi lançado em 1966 (em plena ditadura militar) no âmbito da Imprensa Oficial, durante o governo de Israel Pinheiro.
 
O jornal circulou durante muitos anos como um encarte do Diário Oficial Minas Gerais, divulgando a literatura mineira e estabelecendo diálogo com a produção de outros estados e até do exterior. Rubião foioprimeiro secretário do SLMG, participando também da primeira Comissão de Redação ao lado dos escritores Ayres da Matta Machado FilhoeLaís Corrêa de Araújo–esta manteve ali a importante coluna de crítica “Roda Gigante”; também organizou edições especiais, publicou poemas, traduções, entrevistas e ensaios.

A primeira edição do SLMG circulou no dia 3 de setembro de 1966, encartada no Minas Gerais, comapenas oito páginas e colaboração variada – incluindo literatura (poemas, contos e ensaios) e trabalhos de artistas plásticos mineiros. Em breve sairiam também textos sobre cinema, artes visuais e teatro, caracterizando assim a linha editorial do veículo cuja pièce de résistance seria a literatura, mas sempre abrindo espaço também para as outras artes.

O SLMG teve um papel expressivo, publicou alguns dos mais importantes autores do país e doexterior: lembre- se, por exemplo, que as primeiras traduções de Julio Cortázar realizadas no Brasil saíram no jornal (mais um trabalho da incansável Laís!); nele estrearam novos poetas, ficcionistas, ensaístas e artistas plásticos – não só de Minas, mas de todo o país.
 
Nos seus 50 anos de existência, oSLMGtornou-seum veículo referencial. Suas coleções existentes nos arquivos, bibliotecas e universidades são um rico manancial de pesquisa e consulta para estudiosos de nossa literatura; a Faculdade de Letras da UFMG digitalizou e disponibilizou na internet suas edições originais – continua desenvolvendo este trabalho até hoje (salvo engano meu), registrando e preservando dessa forma o jornal.

Em fins de 1994, o SLMG foi transferido da Imprensa Oficial para a Secretaria de Estado de Cultura, com uma pequena modificação no nome: o antigo Suplemento Literário do Minas Gerais transformou-se em Suplemento Literário de Minas Gerais, tornando-se um veículo autônomo – não mais um “suplemento”, ou seja, um encarte do Diário Oficial. O formato tabloide foi mantido, mas o número de páginas aumentado para 24, com periodicidade mensal. A transferência do SLMG levou à sua reformulação, tanto na linha editorial, quanto na programação gráfica– a partir do número 3, que circulou em julho de 1995, já sob minha editoria, na gestão da então Secretária Berenice Menegale.

O trabalho que desenvolvi visou à atualização e reintegração do veículo ao cenário jornalístico do final do séc.
20 (o design gráfico ficouacargo de Guilherme Mansur). Editei o jornal durante quatro anos – de 1995 a 98; a renovação do veículo levou ao reconhecimento nacional como finalista do Prêmio Estadão de Cultura.
 
O SLMG passou por períodos melhoresepiores (inclusive com algumas interrupções), conforme sopravam os ventos políticos e editoriais; ainda sobrevive no impresso – mas com editoria, periodicidade e distribuição precárias. Com isso, perdeu força na cena atual. Mas sua contínua publicação tem sido, sem dúvida, uma forma de resistência cultural. Vida longa ao Suplemento!
 
*Poeta e jornalista, autor de Bissexto sentido e Área de risco, entre outros. Foi diretor do Suplemento Literário de Minas Gerais (1995-199).
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