Lúcio Teles, professor e doutor em informática na educação da Universidade de Toronto, destaca que nesse contexto há o compartilhamento de informação avaliativa e interativa, com novas perspectivas de dividir experiências.
“Alguns desses vídeos chegam a ser vistos por 70 milhões de pessoas. O sucesso se deve a vários fatores. Entre eles estão a nova cultura virtual, em que os jovens são muito ativos e participantes, a recente facilidade de acesso à internet e a crescente dependência psicológica da interatividade virtual”, explica.
O especialista observa que os vídeos podem ter aspectos positivos, dando visibilidade a temas de caráter social e motivando reações coletivas. Entre os pontos negativos está a disseminação da cultura da banalização e da superficialidade.
“Isso vai depender do internauta que criou o canal e do tipo de interação que ele atrai. O ser humano tem a necessidade básica de comunicação, e o video de reação facilita o preenchimento dessa necessidade”, destaca Teles. Outro aspecto é a empatia que se estabelece entre o produtor de conteúdo e seus internautas.
HIP-HOP Um dos brasileiros mais conhecidos no ramo é o rapper Guilherme Treeze, criador do canal Falatuzetrê, com mais de 340 mil inscritos. Considerado forte influenciador digital entre os fãs de hip-hop, Zetrê acredita que o espectador se sente como se assistisse a um vídeo na companhia de um amigo.
Compositor há 10 anos, ele acredita que o fato de ter conhecimento musical é um ponto forte para o reconhecimento do Falatuzetrê. “Falo da técnica para criar música, estudo a cena atual. Então, passo confiança aos seguidores. Acredito que o canal tenha também a função de apresentar sons novos para as pessoas”, diz.
Zetrê faz questão de postar o instante em que toma contato pela primeira vez com um rap, canção ou clipe. O canal dialoga com os internautas em tom bem-humorado, divulgando lançamentos.
MIKANNN A youtuber Miriam Castro acompanha a série Game of thrones (GoT), cuja sétima temporada acaba neste domingo. Ela comenta os episódios no canal Mikannn, que já bateu os 255 mil seguidores. É sócia de Carol Moreira, cujo canal supera 403 mil inscritos.
A parceria das duas começou em maio de 2015. Deu tão certo que a atividade se transformou no principal emprego de Miriam, que antes trabalhava como jornalista.
“As pessoas têm muita coisa para consumir atualmente. Então, elas buscam uma opinião que valide aquilo a que pretendem assistir. Assim não perdem tempo com algo ruim”, destaca Miriam Castro.
EUA Em Chicago, nos Estados Unidos, o youtuber Sean Michael produz, de maneira diferenciada, conteúdo relativo a GoT. O canal Reactions at Burlington Bar mostra a reação de espectadores que assistem em grupo, no próprio estabelecimento, aos episódios da série. Michael é o barman da casa. Depois de ler os livros de GoT, ele previu reações divertidas a determinados episódios. Tudo começou quando teve a ideia de filmá-las e compartilhá-las na internet.
“Recebi uma quantidade louca de visualizações. Há uma sensação de comunidade entre os fãs aqui do bar. Os vídeos são muito reais, por isso fazem sucesso”, explica Michael. A casa fecha às 2h. Logo depois, o barman passa a trabalhar nos vídeos, sincronizando ângulos e escolhendo as melhores reações.
JUJUBA Os temas preferidos do fã do vídeo de reação são filmes, séries e jogos. Gustavo Cunha se destaca nesse universo. O canal dele, Jujuba Atômica, já bateu 207 mil inscritos. Ele compara a atividade à dos clubes de leitura.
Cunha se propõe a incluir informações diferenciadas em seus vídeos, relacionando temas atuais com o que foi criado por artistas importantes. “Assim, as pessoas podem saber de onde veio tudo aquilo. Tento também indicar livros relacionados ao tema”, diz. Para ele, compartilhar conhecimento é libertador.
O canal Holandês Voador, criado por Gustavo Brasil e Jônathan Lopes, trabalha com cultura pop, cinema e programas de TV. Para Brasil, o projeto aproxima os criadores do público. É uma forma de “quebrar a barreira” da tela, argumenta.
“Sabe aquela satisfação em mostrar algo bom a um amigo e ele gostar também? Acreditamos que nossos inscritos sentem isso”, diz Brasil. Para ele, o vídeo de reação deve ser o mais natural possível, sem enganar o espectador.