Travestis e transexuais apontam falhas em personagens de 'A força do querer'

Em nota pública, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) aponta a importância de abordar identidades trans no horário nobre, mas crítica equívocos na apresentação dos conceitos

08/08/2017 11:40
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Glória Perez conta a história de um homem trans e de uma travesti em "A força do querer" (foto: TV Globo Reprodução)
Ativistas travestis e transexuais
apontaram falhas na construção de personagens feita pela escritora Glória Perez na novela 'A força do querer' que vai ao ar às 21h na Rede Globo. A novelista aborda a história do motorista Nonato (vivido por Silvério Pereira), que para trabalhar esconde a identidade travesti, e de Ivana, personagem vivido pela atriz Carol Duarte, que não se identifica com o gênero que nasceu e passará por processo de transição para se tornar um homem trans. 
 
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Silvério Pereira dá vida a travesti, que precisa esconder sua identidade de gênero para conseguir trabalhar como motorista (foto: TV Globo/Reprodução)
Glória Perez conheceu Silvério Pereira quando assistiu ao espetáculo BR-Trans, montagem que apresenta o universo das travestis e transsexuais. Para falar do processo de transição de Ivana, a escritora convidou o homem trans Tarso Brant, que apareceu em algumas cenas falando sobre o processo de mudança de gênero
 
A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) divulgou nota pública em que reconhece a importância da novela abordar personagens com identidades trans. “Sabemos que as novelas são obras de ficção, porém as novelas interferem a realidade quando levam para a casa das famílias brasileiras debates importantes para a sociedade, tornando-se mais que uma obra de ficção, mas importante canal de informação.”
 
No entanto, a Antra pontua que em relação à transmasculinidade de Ivana, a autora tem prestado relevante serviço. No entanto, ao abordar a identidade travesti, cometeu deslizes que ajudam a estigmatizar essa identidade. A Antra aponta que a definição sobre o termo no dicionário Aurélio não condiz com a luta das pessoas que se identificam como travesti. 
 
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Ivana não se identifica com o gênero com que nasceu e passará por transição para assumir a identidade de homem trans (foto: TV Globo/Reprodução)
A nota pontua que é equivocado dizer que travesti é um homem que se trasveste de mulher. “O conceito tão mal-empregado no Aurélio e que nos elimina enquanto identidades femininas. Travestis e Mulheres Transexuais têm identidade de gênero feminino, homens Transexuais tem identidade de gênero masculino. Ou sejam não adotam o gênero atribuído no nascimento.” A discussão tem o objetivo de tirar identidades trans da invisibilidade, situação que contribui para alimentar o preconceito e até mesmo a violência.

No sentido de contribuir para discussão, a Antra divulga definições de gay, transformista, transexual, travesti e transgênero: 

Gay = Homem que tem atração afetiva e sexual por outros homens. Imagem e identificação masculina com imagem e identificação masculina.

Transformista = Homem, não necessariamente gay, que se traveste para eventos, shows, concursos etc.Existem Drag Queens, Transformistas, entre outras Expressões de gênero. Não é identidade.

Travesti = Pessoa designada no nascimento como sexo masculino, mas que transiciona do masculino para o feminino e vive 24 horas no gênero feminino. Geralmente usa hormônios e faz modificações no corpo através de intervenções cirúrgicas, mas não é uma regra.

Transexual = Pessoa que se sente não pertencer ao gênero atribuído no nascimento através do órgão genital. Algumas pessoas trans externalizam a transexualidade fazendo a transição de gênero, podendo usar hormônios e intervenções cirúrgicas, ou não, e simplesmente mudando as vestimentas e características atribuídas ao gênero ao qual entende pertencer. Essa designação vale para Mulheres transexuais e Homens trans.

Transgênero = Palavra guarda-chuva que abarca todas as identidades e expressões de gênero, transformistas, drag queens, travestis e transexuais. Não utilizamos esse conceito na nossa instituição como identidade mas tem uma discussao acerca do tema.
 
Veja nota da Antra na íntegra:
 






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