Ator que vive motoboy em 'Malhação' fala sobre preconceito entre classes sociais

Na trama, o romance de Anderson (Juan Paiva) e Tina (Ana Hikari) é inspirado em Romeu e Julieta, da obra de William Shakespeare

por Agência Estado 18/06/2017 09:23

Ramon Vasconcelos/Globo/ Divulgação
Morador do Morro do Vidigal, Juan Paiva teve que estudar o sotaque paulista para fazer o personagem Anderson (foto: Ramon Vasconcelos/Globo/ Divulgação )
Juan Paiva conhece bem o preconceito. Em Malhação (Globo), o ator dá vida ao motoboy Anderson, que sofre com a discriminação de Mitsuko (Lina Agifu), mãe de Tina (Ana Hikari). Porém, não é só o seu personagem que passa por isso. Na vida real, o próprio Juan já viveu inúmeros episódios parecidos. Cansado de ver essa cena se repetir, ele diz que já não sente mais raiva, embora seja impossível se acostumar com o racismo.

 

“Já enfrentei isso várias vezes. Se tornou normal, levo ‘de boa’ hoje. Na primeira vez, fiquei mal. A galera é bastante cruel. Teve um dia em que estava com o Kóka (Lucas Penteado, ator que faz o Fio em Malhação) e uma pessoa ficou com medo de passar entre nós dois, porque era noite. Foi ruim pra caramba, só que a gente aprende a lidar com a situação e não esquenta mais a cabeça como antes”, lamenta.


Na trama de Cao Hamburger, o romance de Anderson e Tina é inspirado em Romeu e Julieta, da obra de William Shakespeare. A proibição ao relacionamento se dá pelo fato de os dois pertencerem a classes sociais diferentes. Nessa temporada, Malhação carrega o subtítulo Viva a diferença. Nesse contexto, o namoro deles tem a missão de provar que a diversidade social e cultural não deveria traçar uma linha intransponível. Além disso, eles vão unir o rap e a música clássica, desenvolvendo uma parceria que ultrapassará o drama amoroso.

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Casal Anderson e Tina sofrem com a discriminação da mãe da jovem (foto: Ramon Vasconcelos/Globo/ Divulgação )


“Os personagens ainda vão enfrentar muito preconceito. Tem a mãe dela, que não aceita o namoro; e a irmã, que fala que a Tina não é ‘para o bico’ dele. A Ellen (Heslaine Vieira) avisa para ele não se envolver, porque pode se dar mal. Mas eles vão driblando juntos as barreiras”, conta Juan.


Para interpretar Anderson, Juan teve de aprender a dirigir moto. Morador do Morro do Vidigal, na Zona Sul do Rio de Janeiro, ele lembra que já estava habituado a andar de mototáxi. Além de providenciar a habilitação, ele pegou algumas dicas com amigos que pilotam para passar mais veracidade no trabalho. Segundo Juan, o mais difícil na preparação foi o sotaque paulista, já que é carioca.


“Já estou me acostumando. O personagem está tão dentro de mim, que sai naturalmente. No começo, foi uma luta! Estudei e assisti a vídeos o tempo todo. Fui a São Paulo para aprender como a galera fala. O jeito deles de conversar e de viver é diferente. Só fui saber que tinha sotaque carioca quando estive lá. A galera falando ‘S’ e eu, ‘X’”, compara, aos risos.
Desde os 8 anos, Juan se dedica às artes cênicas. No Vidigal, o ator teve acesso ao grupo teatral Nós do Morro, que já descobriu talentos como Thiago Martins, Roberta Rodrigues e Roberta Santiago – que interpreta a mãe de Anderson, Nena, em Malhação. “Todos me servem de inspiração. Faço teatro lá desde a infância, justamente por causa deles”, afirma.
Apesar de jovem (Juan tem 19 anos), Malhação não é a primeira experiência de Juan na televisão. Antes, ele esteve no elenco de Totalmente demais (2015-2016) como Wesley. Na trama, o rapaz sonhava com a profissão de jogador de futebol, mas foi atropelado e ficou paraplégico. No final, o personagem encontrou um novo esporte para praticar: o atletismo.


Para Juan, a oportunidade de fazer a novela de Rosane Svartman e Paulo Halm mudou sua vida. Na época, ele tinha acabado de saber que se tornaria pai e pensou que teria de desistir de tudo para sustentar a filha. “Foi difícil, mas Deus me capacita e dá sabedoria para cuidar da Analice. Quando soube que a minha namorada (Luana Souza) estava grávida, fiquei com medo e chorei bastante. Totalmente demais veio na hora exata. Eu tinha 16 anos, havia feito o teste para a novela e estava na expectativa da resposta. Achava que tinha me ferrado, mas a minha família me apoiou”, lembra. (Raquel Rodrigues/Estadão Conteúdo)

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