Claudia Raia chega aos 50 anos 'plena' e 'muito melhor do que aos 20'

'Quanto mais a gente envelhece, mais a gente fica melhor', destaca a atriz em entrevista ao Estado de Minas na qual avalia sua carreira e revela seus planos para o futuro

por Ana Clara Brant 23/12/2016 08:21

Paschoal Rodriguez/Divulgação
Claudia Raia fala sobre o futuro e sua personagem em 'A lei do amor', tida como feminista. (foto: Paschoal Rodriguez/Divulgação )

Atualmente ela é Salete. Mas já foi Tancinha, Tonhão, Ninon, Donatela, Lívia, Ramona, Maria Escandalosa... Seu nome? Maria Claudia Motta Raia, ou simplesmente, Claudia Raia. Considerada um dos grandes ícones da TV brasileira, a atriz e bailarina completa hoje 50 anos e acredita que está vivendo um momento muito especial de sua vida. ''É um marco chegar aos 50 e me sinto muito plena. Esta é a palavra: plenitude. O engraçado é que muita gente comenta que estou muito melhor hoje do que aos 20, 30 anos. Acho que é meio uma característica do capricorniano. Quanto mais a gente envelhece, mais a gente fica melhor, tipo o vinho'', destaca a artista, que conversou com o Estado de Minas por telefone durante um intervalo das gravações de A lei do amor, novela das 21h da Globo.

Na trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, Claudia vive Salete, a dona do posto de gasolina da fictícia São Dimas. A personagem é uma das mais queridas do folhetim e cativa tanto na ficção quanto na vida real com seu jeito de mãezona e seu carisma. ''Ela é como se fosse uma mãe de toda a cidade. É uma figura que conversa com a comédia, mas também com o drama, a tragédia. É bem completa. A Salete tem toda aquela simplicidade do interior, que é minha origem também (a atriz nasceu em Campinas, interior de São Paulo). É muito humana e ao mesmo tempo tem aquela coisa de ser uma mulher forte, que cria os filhos sozinha, batalhadora. Esse contraste de ser doce e decidida simultaneamente é muito bacana'', ressalta.

Nos próximos capítulos, Salete vai se eleger prefeita da cidade. Claudia Raia, que já se posicionou politicamente no passado – a diva chegou a fazer campanha para Fernando Collor, nas eleições presidenciais de 1989 – acha muito louvável a novela falar de política, sobretudo nos tempos atuais, e espera que sua personagem possa servir de exemplo. ''Acho que a Salete é uma voz importante neste momento. Ela mostra que ainda é possível a gente acreditar em pessoas de bem, em gente que quer mesmo o melhor para a cidade, o estado ou o país. É uma heroína nada convencional. Não é totalmente boazinha porque não existe isso. Acredito que o Brasil está precisando de heróis'', opina.

Assim como boa parte dos brasileiros, a artista – que começou sua carreira na televisão no programa Viva o gordo, ao lado de Jô Soares, em 1983 – anda bem decepcionada com a classe política. ''É uma vergonha, uma lavação de roupa suja que nunca termina. Uma falta de escrúpulos inacreditável. Fico impressionada como as pessoas têm coragem de fazer o que fazem. Quem é essa gente, o que eles querem? É surreal. Nunca vi algo assim antes'', desabafa.

JOGO PELA FRENTE

Feliz com sua trajetória artística e pessoal, Claudia celebra os louros da profissão, mas  sabe que ''o jogo não está ganho''. Acostumada com o carinho do público, ela diz que, apesar de ter conquistado  espaço de destaque no cenário da dramaturgia nacional, seja nos palcos ou na telinha, ainda tem muito chão pela frente. ''Cada dia é uma partida e essa partida não está ganha. Cada trabalho é diferente, é uma nova conquista, um novo desafio. Isso é uma das coisas mais bacanas desse ofício. Parece que estamos começando do zero diariamente e temos que ter a capacidade de nos reinventar. Essa é a grande graça'', frisa.

Para celebrar seu meio século de vida, Claudia Raia viajou com o marido, o ator Jarbas Homem de Mello, e os filhos Enzo, de 19 anos, e Sofia, de 13 – do casamento com Edson Celulari – para o exterior. A atriz confessa que sempre detestou fazer aniversário tão próximo do Natal e que é complicado ''competir'' com Jesus Cristo. ''É desleal demais não é (risos)? Nesta época do ano, nunca tem gente aqui, todo mundo tem algum compromisso. Sempre odiei e continuo odiando'', brinca.

Em 2017, além de continuar no ar em A lei do amor – pelo menos até abril, quando termina a trama – ela vai mergulhar de cabeça em um novo projeto, o musical Cantando na chuva, inspirando no filme homônimo estrelado por Gene Kelly. Na produção, que deve estrear no começo de agosto em São Paulo, Claudia fará o papel de Lina Lamont, estrela do cinema mudo que, na telona, foi interpretada por Jean Hagen. ''Sempre fiz muito musical, antes mesmo de vir essa onda toda que acho até um certo exagero. O Brasil é um país extremamente musical e é um tipo de espetáculo muito alegre, para cima e não tinha como dar errado. Por isso, os musicais vêm fazendo tanto sucesso por aqui'', declara.

Para o próximo ano, além de ''paz em todos os aspectos e para todos'', a estrela espera continuar com o seu mesmo lema. De ter chegado ao topo se mantendo fiel às suas crenças e à sua essência. ''O que mais me orgulha na minha trajetória é não ter feito concessão nenhuma, ter sempre me mantido firme naquilo em que acredito, com minha integridade pessoal, profissional. É muito fácil você se corromper e jogar tudo para o alto. Mas eu tenho a certeza de que toda vez que passo naquela roleta da TV Globo ou onde quer que eu tenha trabalhado, passo com a cabeça erguida e consciente do meu valor e das minhas convicções. Isso é o que o vale'', garante.

PERSONAGEM FEMINISTA  

Salete, de A lei do amor, é uma personagem com força e liberdade impressionantes e já tem sido apontada como representante feminista. Claudia Raia a vê realmente como uma figura com uma carga grande de empoderamento e um exemplo de mulher que sabe o que quer e ocupa o seu devido lugar. ''Ela é livre e não se importa com o que os outros pensam. É ótima profissional, mãe, fica e namora com quem quer. É bem moderna'', salienta.

Claudia se considera feminista, mas faz suas ressalvas. ''Sou feminista no sentido de ser a favor das mulheres e não de ser contra os homens porque isso é preconceito. Temos que aproveitar o nosso lado feminino para usufruir do masculino. É gostoso de vez em quando alguém carregar nossa bolsa, abrir a porta do carro, pagar a sua conta. Isso não te faz menos forte e independente. Delicadeza não tem nada a ver com força. Essa disputa com os homens é chata. O feminismo assim é babaca. Temos que ser a favor de nós mesmas e não contra uma determinada classe'', enfatiza.

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