Estimulação craniana pode ajudar a amenizar os sintomas da bulimia

Estudo recente mostra que os sinais principais do transtorno alimentar são reduzidos pelo método não invasivo de modulação cerebral

por Paloma Oliveto 27/07/2017 14:08
Reprodução/Internet/Dicas de Musculação
Nos testes, a técnica reduziu em 31% a vontade de comer em excesso (foto: Reprodução/Internet/Dicas de Musculação)

Distúrbio alimentar grave, a bulimia nervosa pode ser amenizada pela estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC). Estudo recente da King’s College London, no Reino Unido, mostra que os sintomas principais do transtorno, incluindo a urgência em comer descontroladamente e a posterior restrição radical da ingestão de alimentos, são reduzidas pelo método não invasivo de modulação cerebral.

Enquanto tratamentos disponíveis, como terapia cognitiva comportamental, são efetivos para muitas pessoas com bulimia, uma proporção substancial não melhora com eles. Por isso, médicos insistem na necessidade urgente de novas técnicas, incluindo as baseadas na neurociência. Publicado na revista Plos One, o estudo examinou o uso da ETCC para estimular a função cognitiva de áreas cerebrais relacionadas ao processamento de recompensas e ao autocontrole.

Na pesquisa, 39 pessoas receberam o tratamento real e uma versão placebo, em sessões separadas por, pelo menos, 48 horas. Os pesquisadores usaram questionários antes e depois de cada encontro a fim de medir a urgência em comer compulsivamente, além de avaliar outros sintomas da bulimia, como preocupação com o peso e com a forma corporal, a restrição à ingestão de alimentos, níveis de autocontrole e de autoestima. Eles descobriram que essas manifestações foram muito reduzidas depois do tratamento de ETCC, sendo que o mesmo não ocorreu depois da sessão placebo. A necessidade de comer em excesso, por exemplo, caiu 31% em comparação a antes da aplicação da corrente elétrica.

Os pesquisadores também coordenaram uma tarefa de tomada de decisão, na qual os participantes tinham de escolher entre quantidades menores de dinheiro disponíveis imediatamente e somas maiores, que seriam recebidas em três meses. Eles descobriram que, depois da ETCC, os voluntários tendiam mais a retardar a gratificação, comparado à sessão de placebo. Isso significa que foram mais prudentes no processo decisivo, esperando por uma recompensa maior, embora tardia.

“Nosso estudo sugere que a estimulação cerebral não invasiva suprime a urgência de comer descontroladamente e reduz a severidade de outros sintomas comuns em pessoas com bulimia nervosa, ao menos temporariamente”, conta Maria Kekic, primeira autora do estudo e pesquisadora do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King’s College London. “Embora sejam descobertas modestas e iniciais, houve uma melhoria clara nos sintomas e nas habilidades de tomada de decisões após apenas uma sessão de ETCC. Com uma amostra maior e múltiplas sessões de tratamento ao longo de um período maior de tempo, é possível que os efeitos sejam mais fortes. Isso é algo que pretendemos explorar em estudos futuros”, afirma.

Brasileiro premiado na Unesco

Arquivo Pessoal - 10/1/12
(foto: Arquivo Pessoal - 10/1/12)
O renomado pesquisador e neurocientista Ivan Izquierdo (foto) é o único brasileiro entre os três vencedores do Prêmio Internacional para Pesquisa em Ciências da Vida 2017, da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Izquierdo é coordenador do Centro de Memória do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e recebeu o prêmio por suas descobertas na elucidação de mecanismos dos processos de memória, incluindo consolidação, recuperação e aplicação clínica em envelhecimento. O pesquisador disse estar surpreso e feliz com o reconhecimento. “Isso representa muito, é um prêmio importante que a Unesco fornece. E é um grande estímulo ao nosso laboratório, ao instituto e à universidade”, declarou. Ele já recebeu mais de 60 prêmios ao longo de seis décadas de pesquisa dedicadas ao tema. Segundo o cientista, os meios digitais não afetam a parte cognitiva e, na verdade, são aliados da memória. “Eles ajudam porque a quantidade de informações que temos de processar aumentou. Vivemos em uma era em que as comunicações são contínuas”, explica. A cerimônia de premiação será em 4 de dezembro em Djibloho, na Guiné Equatorial.