Engana-se quem acha que preparar chá é tudo igual. Conheça as diferenças

Bebida é confundida com infusões em geral. Mas existem diferenças. Saiba quais são e confira dicas de preparação. Cada vez mais popular no Brasil, pouca gente entende de fato o que é o chá

por Sibele Negromonte 19/04/2017 10:00
Auremar de Castro/EM/D.A Press
(foto: Auremar de Castro/EM/D.A Press)

“Tenho certeza de que boa parte das pessoas que estão aqui nunca tomou um chá de verdade.” A provocação veio do tea master Michel Bitencourt durante um breve curso de introdução ao mundo do chá. E ele se apressa para justificar: o chá é uma infusão da planta Camellia sinensis em qualquer uma das suas subespécies. “Qualquer outra infusão que não seja dessa planta não é chá”, conclui. Dentro dessa classificação, as ervas se dividem em cinco tipos: o branco, o preto, o verde, o azul (Oolong) e o vermelho (Pu Erh). Eles podem ser degustados em sua forma pura ou misturados a outros ingredientes - os chamados blends.

Sommelier dos chás, Michel é diretor sócio da Tea Shop no Brasil - franquia espanhola que chegou no fim do ano passado a Brasília – e um ferrenho defensor da bebida. “Os chás têm propriedades antioxidantes, que protegem o organismo ante o envelhecimento celular. Além disso, contribuem para regular os níveis de colesterol ajudando o corpo a absorver menos gordura”, justifica. Não é à toa, garante, que o brasileiro tem, em sua essência, o hábito de tomar chá - ou melhor, infusões. “Na casa da vovó, sempre tem uma erva plantada no quintal que é usada em infusões, a exemplo da camomila, do capim-santo e de tantas outras.”

E qual é a diferença entre as infusões feitas com o sachê comprado em supermercados e as que são preparadas com ervas vendidas a granel em lojas especializadas? Basicamente, a manutenção das propriedades das folhas. “Um chá fresco preserva muito mais o sabor e o aroma do que um chá seco”, compara Michel. E isso começa na forma como é feita a colheita. Se ela ocorrer manualmente, serão usadas apenas as folhas mais novas e viçosas. Quando o trator passa recolhendo as plantas, tudo vai no mesmo bolo: galhos, folhas, brotos e caules, que acabam triturados. “Aí está a grande diferença.”

Para o tea master, o aumento de consumo de chá é uma tendência mundial, diante dessa busca cada vez mais frequente por hábitos saudáveis. “A própria indústria de refrigerantes tem sentido a queda nas vendas e buscado investir na produção de chás industrializados”, exemplifica. O aumento do poder de compra do brasileiro é outro fator que contribui para o crescimento desse mercado.

E nada se compara a um chá fresquinho, exalando cheiros e sabores únicos. Para oferecer essa experiência gustativa aos clientes, a Tea Shop, com sede em Barcelona e presença na Europa, tem implantado um novo conceito no mercado latino. As lojas brasileiras ganharam um espaço gourmet, em que é possível fazer uma pausa para saborear um chá e comidinhas que combinam com a bebida.

HARMONIZAÇÃO

O espaço brasiliense foi inaugurado na semana passada. E, para harmonizar com a bebida, dois chefs foram convidados a preparar um cardápio específico. Coube ao personal chef Fernando Gadelha criar as receitas doces. “Não poderia oferecer bolos muito doces, cheios de cremes e recheios, pois eles roubariam o sabor do chá. Preparei bolos mais secos, com a cara da casa da vovó e uma pegada afetiva. São simples e bem executados”, resume. Entre os favoritos de Fernando, está o bolo de chocolate, nozes e crosta de limão siciliano.

Já as receitas salgadas ficaram a cargo de Fernanda Arbex. O carro-chefe são as quiches. “São pratos leves, que ressaltam o sabor dos chás”, explica a chef, proprietária do Lá em Casa. Com massa brisée, os recheios variam. Entre os mais pedidos estão a de ricota temperada com abobrinha e manjericão e a de queijo de cabra e alho-poró. Uma viagem gastronômica.

Como preparar

Três elementos básicos devem ser levados em consideração no momento de preparar um bom chá: a qualidade das folhas, a temperatura da água e o tempo de infusão. As folhas nunca devem ser colocadas em água fervente, para evitar que sejam queimadas. “Ao começar a levantar a primeira borbulha, o fogo deve ser desligado”, ensina Michel Bittencourt. A quantidade de ervas é outro fator importante. Para uma caneca de 200ml, devem ser usados apenas 2g da folhagem. “Especialmente no caso do chá-verde, muita gente acha que ele amarga porque põe erva demais na xícara”, garante Michel. Por fim, o tempo de infusão fará toda a diferença. O tea master aconselha a seguir a tabela: três minutos para os tipos branco, vermelho (Pu Erh) e azul (Oolong); dois minutos para o verde; e quatro minutos para o preto. No caso das infusões em geral e do rooibos, seis minutos.

Os tipos e suas propriedades


Casa de Chá/Divulgação
(foto: Casa de Chá/Divulgação)

Iano Andrade/CB/D.A Press - 18/6/09
(foto: Iano Andrade/CB/D.A Press - 18/6/09)
Chá branco: conhecido como chá da beleza, sua folha não passa por oxidação e, assim, estimula a produção de colágeno. Bastante suave, tem baixo teor de teína. Uma sugestão é, após a infusão, acrescentar frutas frescas.

Chá verde: segundo na escala de menor oxidação, é leve e refrescante, com marcado efeito diurético. Vai muito bem gelado. Por inibir a absorção de ferro, deve ser evitado por diabéticos.

Chá azul (Oolong): tem esse nome por conta do tom azulado das folhas. Semioxidado, é excelente para a digestão. Ideal para ser consumido no almoço ou à tarde. 

Sanavita/Divulgação
(foto: Sanavita/Divulgação)

Chá vermelho (Pu Erh): é originário da região de Pu Erh, na China. Fermentado em barril de carvalho, tem sabor terroso e é conhecido por sua propriedade detox. Ajuda no processo de emagrecimento. Deve ser tomado, preferencialmente, depois das refeições.

Reprodução/Internet/Dicas Sobre Saúde
(foto: Reprodução/Internet/Dicas Sobre Saúde)

Chá preto: o mais oxidado de todos os tipos, é estimulante. Deve ser ingerido no café da manhã para dar energia para enfrentar o dia. Vai muito bem com um pouco de leite.