Especialista fala sobre a importância do diagnóstico preciso

Há diversas doenças em que o diagnóstico precoce é capaz de mudar completamente seu prognóstico, a exemplo de diabetes, câncer, hipertensão, obesidade, depressão e transtornos de ansiedade

por Ellen Cristie 30/11/2016 13:30
Arquivo Pessoal
Alessandro Loiola, médico generalista (foto: Arquivo Pessoal)
Toda prescrição médica é 100% baseada na hipótese diagnóstica. Quanto mais certeiro for o diagnóstico, tão mais eficaz será a receita e a conduta médica e, consequentemente, o paciente será assistido adequadamente. A afirmação é de Alessandro Loiola, médico generalista, formado pela Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (ES).

Para um diagnóstico precoce e preciso, o médico tem à disposição recursos como avaliação clínica, imagiologia (diagnóstico por imagens) e um ramo mais recente – a medicina baseada em evidências, que como o próprio nome diz, relaciona a pesquisa científica e a experiência clínica.

Além disso, o especialista precisa analisar uma série de variáveis que envolvem sinais e sintomas no momento de definir um diagnóstico. Doenças como intolerância à lactose, síndrome do intestino irritável, alergias, enxaqueca e labirintite podem ser mal interpretadas, levando o paciente a realizar tratamentos longos e equivocados.

O médico acrescenta, ainda, determinadas doenças que tendem a mudar com o passar dos anos – como o que vem ocorrendo com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ou no caso de entidades novas. “A hepatite C pode evoluir para um câncer no fígado, que é uma doença de comportamento e tratamento bem diferentes da hepatite.”

Segundo Alessandro Loiola, há diversas doenças em que o diagnóstico precoce é capaz de mudar completamente seu prognóstico, a exemplo de diabetes, câncer, hipertensão, obesidade, depressão e transtornos de ansiedade. “Quanto mais cedo você agir, mais fácil e eficaz será o trabalho do médico”, comenta.

Entre as falhas mais comuns que contribuem para um diagnóstico impreciso ele destaca a postura ética do especialista. “O pior erro de todos é se achar tão bom a ponto de não cometer equívoco algum. Um médico que tem 100% de certeza da acurácia de seus diagnósticos 100% do tempo é uma ameaça para seus pacientes e para si mesmo.”

AVANÇOS
Apesar dos equívocos, Alessandro Loiola destaca a qualidade da medicina brasileira no que se refere à tecnologia. “Somos dotados de excelentes recursos tecnológicos e, para avaliação e conduta nas principais doenças que afligem nosso povo, somos detentores de um arsenal satisfatório.”

Mas, na visão dele, há um longo caminho a percorrer, como a distribuição espacial desse arsenal pelas várias regiões do país. E, no geral, ele cita a falta de unidades de cateterismo cardíaco e uma escassez crônica de leitos de UTI. “Mas o arsenal humano é o mais importante. Faltam pessoas cuidando de pessoas.”

Arquivo Pessoal
A professora Rosane Barbosa de Souza tratou da coluna por muito tempo até descobrir que o problema era pedra nos rins (foto: Arquivo Pessoal)
Maratona de médicos e exames
Diante de uma infinidade de patologias, alguns pacientes, ao se queixar de dores ou situações incômodas, recebem um diagnóstico impreciso, o que os leva a uma segunda, terceira ou até mesmo quarta opinião. Foi o que ocorreu com a professora de matemática Rosane Barbosa de Souza, de 36 anos. Há alguns anos, ela começou a sentir fortes dores na região lombar e, ao procurar um clínico, fez exames de radiografia, sendo submetida a remédios para estancar a dor. “Também fiz ultrassom com ortopedista e um checape que incluiu uma série de exames de sangue.”

Iniciado o tratamento da coluna, depois de receber um diagnóstico de escoliose (desvio em forma de ‘S’), sem muito sucesso, ela resolveu ouvir uma terceira opinião – a de um urologista.

Ao fazer uma nova radiografia, o médico percebeu que havia 21 pedras nos rins, o que a levou a uma cirurgia a laser, em março, para a retirada das pedras. “Poderia ter iniciado o tratamento dos rins antes e evitado tomar tantos remédios para a coluna se o diagnóstico fosse feito adequadamente.”