Gripe na gravidez pode prejudicar cérebro do bebê

A infecção pré-natal está associado a um risco ligeiramente aumentado de desordens no desenvolvimento neurológico do feto, incluindo o surgimento de autismo

por Correio Braziliense 01/06/2016 12:02
SCHNEYDER MENDOZA / AFP
(foto: SCHNEYDER MENDOZA / AFP)
Enfrentar uma gripe ou infecções do tipo durante a gravidez pode não ser um incômodo só para a futura mamãe. Segundo cientistas da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos, esse tipo de infecção pré-natal está associado a um risco ligeiramente aumentado de desordens no desenvolvimento neurológico do feto, incluindo o surgimento de autismo. A hipótese é de que a presença do micro-organismo causador do problema altere o funcionamento de neurotransmissores e prejudique o crescimento de células nervosas no cérebro em desenvolvimento.

Segundo o estudo, divulgado na edição de hoje do The Journal of Neuroscience, estudos feitos com ratos indicam que o alto nível de moléculas inflamatórias no sangue materno está ligado a anomalias comportamentais ao longo da vida da prole. No entanto, a forma como as inflamações afetam o cérebro em desenvolvimento tem permanecido um mistério.

O cérebro de um feto depende da serotonina, um tipo de neurotransmissor, para desenvolver circuitos neurais saudáveis. A serotonina fornecida pela placenta vem da conversão do aminoácido triptofano, que circula no sangue da mãe. A intenção da equipe da Universidade do Sul da Califórnia foi entender se essa conversão pode ser prejudicada por uma gripe ou por outra inflamação que acometa a grávida e se esse prejuízo chegaria ao bebê em formação.

Testes em ratos
Para responder a essas perguntas, eles injetaram em ratas com 12 dias de gravidez um composto imunoestimulante (capaz de reproduzir resposta inflamatória nos animais) e um placebo. Após 24 ou 48 horas, analisaram o sangue materno, a placenta e o cérebro dos fetos. Constataram que, um dia depois, as cobaias tinhas o dobro da quantidade de triptofano na placenta. Quarenta e oito horas depois, os níveis de triptofano tinham voltado ao normal, mas a enzima conversora do composto em serotonina, o triptofano hidroxilase, havia sido mais ativa nos ratinhos tratados.

Um teste separado mostrou que a placenta tratada produziu quatro vezes mais serotonina. No entanto, apesar de a prole de camundongos tratados apresentar maiores níveis desse neurotransmissor no cérebro, ela também tinha menos células nervosas. Os resultados, portanto, sugerem que a inflamação materna aumenta a quantidade de serotonina na placenta e no cérebro fetal, prejudicando o crescimento das células nervosas.

“(Os resultados) representam uma mudança de paradigma para o efeito da inflamação sobre o desenvolvimento do cérebro fetal”, avaliou Irina Burd, professor-associado de ginecologia e obstetrícia da Universidade Johns Hopkins e pesquisador do desenvolvimento do cérebro fetal. “Pode ser possível que existam várias maneiras de a inflamação materna impactar no cérebro do feto e um dos mecanismos é por níveis aberrantes de neurotransmissores”, complementou o especialista, que não participou do estudo.

A disfunção de células produtoras de serotonina está ligada a transtornos como depressão e ansiedade. Mesmo constatando que a inflamação pré-natal aumenta o risco desses distúrbios na prole, os pesquisadores alertam que são necessários estudos adicionais para entender como as perturbações precoces no desenvolvimento do cérebro causadas por inflamação materna contribuem para transtornos do humor.