Câncer de pulmão está atrelado ao tabagismo em 90% dos casos

São estimados mais de 28 mil casos desse tipo de tumor no Brasil de acordo com o Instituto Nacional do Câncer

Cristiana Andrade 31/05/2016 11:46
Valf / EM / D.A Press
Além do tumor no pulmão, o hábito de fumar pode levar ao câncer de boca, laringe e faringe (foto: Valf / EM / D.A Press)
Para quem o acende, o prazer é imenso. Dizem que vai bem com café, depois do almoço, na balada, e ajuda a apaziguar momentos de ansiedade ou angústia. Mas para quem sofre as marcas do cigarro ou outros produtos fumígenos em sua vida, principalmente com o aparecimento de um câncer ou algum problema correlato, como uma complicação cardíaca, o tabagismo é uma amarga lembrança. Somente para este ano, são estimados mais de 28 mil casos de câncer de pulmão no Brasil, e um número bem próximo de mortes: 24 mil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca).

Tumor que apresenta aumento de 2% ao ano na sua incidência mundial, o câncer de pulmão está atrelado ao tabagismo em 90% dos casos. Para lembrar e conscientizar a população sobre seus malefícios, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu o 31 de maio como Dia Mundial de Combate ao Tabaco desde a década de 1980.

Além do tumor no pulmão, o hábito de fumar pode levar ao câncer de boca, laringe e faringe. Altamente letal, a sobrevida média cumulativa total em cinco anos varia entre 13% e 21% em países desenvolvidos e entre 7% e 10% nos países em desenvolvimento, segundo o Inca. No fim do século 20, o câncer de pulmão se tornou uma das principais causas de morte evitáveis e, por essa razão, na última década inúmeras campanhas ganharam o mundo para desestimular o hábito.

Para o Dia Mundial de Combate ao Tabaco 2016, a OMS apela a todos os países que adotem embalagens padronizadas de produtos do tabaco. Isso significa instituir regulamentações que restrinjam ou proíbam o uso de logotipos, cores, imagens de marca ou informações promocionais em maços e embalagens de produtos de tabaco. Segundo a OMS, essa é uma importante medida de redução da demanda, que diminui a atratividade dos produtos do tabaco, restringe o uso de embalagens como uma forma de publicidade e promoção e aumenta a eficácia das advertências sanitárias.

No Brasil
Esse tipo de medida vem sendo praticada pelo governo brasileiro desde o fim da década de 1980, com a sanção de inúmeras leis, aplicação de normas e resoluções. Para melhor controle do tabagismo, foi restringida a publicidade de produtos derivados do tabaco em locais de venda, revistas, jornais, TV, outdoors, internet, além de ser proibida a propaganda em estádios, pistas, palcos ou locais similares e patrocínio da indústria do tabaco em eventos esportivos nacionais e culturais. Além disso, a indústria teve de aplicar em cada maço de cigarro comercializado imagens das consequências do fumo.

EPIDEMIA GLOBAL
A decisão da OMS não é em vão. A epidemia global do tabaco mata quase 6 milhões de pessoas por ano. Destas, mais de 600 mil são fumantes passivos (pessoas que não fumam, mas convivem com fumantes). Se nada for feito, estão previstas mais de 8 milhões de mortes por ano a partir de 2030. Mais de 80% dessas mortes evitáveis atingirão pessoas que vivem em países de baixa e média rendas. O hábito de fumar está relacionado ainda a mais de 50 doenças. “O consumo de derivados do tabaco é fator de risco para 30% das mortes decorrentes de outros tipos de câncer como de boca, laringe, faringe, esôfago, entre outros”, explica Rodolfo Gadia, oncologista clínico do Centro Oncológico do Triângulo Mineiro.

De acordo com o Inca, todos os derivados do tabaco, que podem ser usados nas formas de inalação, aspiração e mastigação são nocivos à saúde. Quando um cigarro é aceso, são introduzidas no organismo mais de 4,7 mil substâncias tóxicas, incluindo nicotina (responsável pela dependência química), monóxido de carbono (o mesmo gás venenoso que sai do escapamento de automóveis) e alcatrão, que é constituído por aproximadamente 48 substâncias pré-cancerígenas, como agrotóxicos e substâncias radioativas (que causam câncer).

Para o médico Miguel Torres, radio-oncologista do Radiocare Serviços Médicos Especializados, é preciso redobrar a atenção aos fatores de risco, sejam eles genéticos, do ambiente ou relacionados ao estilo de vida. “Há dois fortes indícios de que os casos de câncer vão aumentar significativamente. Um deles é o fato de que, por gerações, a população não foi adepta a hábitos saudáveis. A outra é que, até 2050, o número de pessoas acima de 60 anos no Brasil deve triplicar”, diz. Segundo ele, o tabagismo é o pior dos vícios e a principal causa de morte evitável no mundo. “Além dos cânceres de pulmão, boca, faringe e laringe, o fumo pode causar tumores no esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga e colo do útero, além de leucemias. O indivíduo que fuma, além de prejudicar a própria saúde, expõe outras pessoas à fumaça do cigarro e as tornam tabagistas passivos, triplicando a probabilidade de contrair a doença”, afirma Torres.

Ufop lança app Smokerface

Pensando em como contribuir para a luta contra o tabaco, a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) apresenta hoje para a comunidade científica e a imprensa a versão brasileira do aplicativo Smokerface, que, a partir de uma foto, simula, em projeção 3D, a aceleração do processo de envelhecimento e os malefícios na aparência causados pelo cigarro. “Esse aplicativo é voltado para a prevenção do tabagismo, principalmente entre jovens que geralmente podem iniciar o consumo de cigarro ainda na pré-adolescência, ignorando as consequências causadas pelo fumo, como doenças cardíacas e pulmonares”, diz o professor no curso de medicina da Ufop, Paulo César Rodrigues Pinto Corrêa, que, juntamente, com seus alunos, traduziu e adaptou para o perfil do jovem brasileiro o aplicativo nascido na Alemanha. “Os jovens adolescentes são imediatistas, muito preocupados com a aparência e acham que são imortais, que nada vai ocorrer com eles. E é justamente aí que vamos atuar: o aplicativo simula, a partir de uma selfie hoje, como ficará seu rosto em dois, cinco, 10 anos, se você fumar, em média, um maço por dia”, acrescenta Paula César. O professor diz que, depois, por meio de um projeto de extensão, sua equipe vai fazer um estudo clínico randomizado com estudantes de escolas públicas de ensino médio de Ouro Preto e avaliar o impacto da ação na prática. A pesquisa vai acompanhar grupos de jovens, que usam e não usam o app, e avaliá-los em seis meses e um ano, tentando perceber estatisticamente aspectos relativos ao consumo do cigarro.