Que tal um piquenique? Programa resgata simplicidade e vira até opção de festa em espaços públicos

Aproveitar o dia de sol para um passeio ao ar livre, resgatar o prazer da refeição feita em família e compartilhar os espaços públicos são alguns dos benefícios do programa

por Carolina Cotta 07/05/2016 17:11
Patrícia  Sá/ Divulgação
Com a filha Catarina, Bruna Gontijo aproveita para brincar e lembra que sempre gostou desse tipo de programa (foto: Patrícia Sá/ Divulgação)

O hábito de fazer refeições ao ar livre, em clima festivo ou informal, não é novo. Mas, pelo menos no Brasil, os piqueniques só viraram moda há muito pouco tempo. As plaquinhas de “Não pise na grama”, tão comuns em nossos parques e praças, cederam espaço para as toalhas, xadrezes ou não, e lanches leves, num clima que favorece a convivência entre casais, famílias e amigos. Adepta do programa, a funcionária pública Bruna Gontijo Pellegrino, de 38 anos, gosta de levar a filha Catarina, de 3, para o programa, na companhia do marido. Mas se lembra muito bem de quando fazia piqueniques românticos e as pessoas riam daquilo. “Agora que virou moda, todo mundo acha legal”, comenta


Em Belo Horizonte, o movimento Na Pracinha, que incentiva o tempo livre para brincar na infância e o resgate da relação cidadão/cidade com a ocupação dos espaços públicos pelas famílias, teve papel importante nesse resgate. Desde o início do projeto de realização dos eventos brincantes, as idealizadoras sempre incentivaram as famílias a realizar os piqueniques, assim como a comemorar o aniversário das crianças. Hoje, o Na Pracinha promove pelo menos três ações nessa linha: o Piquenique Literário, o Piquenique Musical e o Piquenique com Feira de Trocas de brinquedos e livros, que reúnem dezenas de crianças, cada vez em um parque ou praça da cidade. (Confira nesta edição o Top 10 dos melhores locais para piquenique em BH.)

Segundo Flávia Pellegrini, de 36, idealizadora do movimento com Miriam Barreto, de 35, os piqueniques só fazem bem. Afinal, o contato com a natureza é fundamental para a saúde física e mental da criança. A interação estimula os sentidos e a criança se apropria do espaço. “Em todos os eventos que o Na Pracinha promove, e durante os nossos passeios, valorizamos o piquenique em família, o estender a toalha, desacelerar e curtir o momento, o tempo juntos”, comenta Flávia, que é mãe de Cecília e Olívia. E é por causa das crianças que a produção de um piquenique merece alguns cuidados, visando à segurança e ao conforto. Para os adultos, bastaria toalha, comes, bebes e um lugar agradável. Para os pequenos, algumas medidas podem deixar o programa ainda melhor.

O ideal é procurar uma boa sombra ao ar livre e estender a toalha, já que é sobre ela que os alimentos serão distribuídos. Segundo Miriam Barreto, para as crianças brincarem não é preciso estrutura. Um parque, por exemplo, pode ter apenas um amplo gramado e algumas árvores. Isso já é suficiente para correr, pular corda, soltar bolhas de sabão e saborear, em família ou entre amigos, um gostoso lanche de piquenique. “Bom exemplo é o Parque das Águas (Roberto Burle Marx), que todo fim de semana fica repleto de famílias com suas toalhas no chão. O que torna o piquenique especial é ser um momento de confraternização. As atividades que integram, portanto, são as mais interessantes”, afirma.

Para as crianças, vale explorar aquelas brincadeiras que são mais complicadas de fazer dentro de casa. Sara, a filha de Miriam, tem uma sacola com os "brinquedos da pracinha". Sempre que vão passear do lado de fora, elas colocam a sacolinha toda dentro da mochila e lá vão tirando cada hora um brinquedo – corda, peteca, bolha de sabão, barangandão. “Mais interessante do que qualquer brinquedo é permitir o brincar livre, de forma que elas mesmas criem suas atividades naquele cenário de natureza, que é tão propício para estimular a criatividade dos pequenos”, defende. Para quem já largou os brinquedos de lado, não deixa de ser divertido. Piquenique é sempre uma farra.

PRAZER DE PARTILHAR

Patrícia Sá/ Divulgação
Renata Magalhães brinca com Laura, Sara, a filha Alice e Cecília em piquenique (foto: Patrícia Sá/ Divulgação)


Não precisava, mas acabou surgindo uma “comida de piquenique”. Isso porque o formato desse tipo de confraternização, sem acesso a refrigeração e sem o apoio de mesas para as refeições, exige lanches mais resistentes e que demandem menos talheres: assim, pequenos sanduíches, frutas, bolos e sucos, sem esquecer o pão de queijo, é claro, tornaram-se quase sempre presença garantida nas cestas de vime, que são o símbolo desse programa. Não que ela seja necessária, mas é um charme só. Nos piqueniques de Bruna Gontijo Pellegrino e Catarina, por exemplo, a arrumação é mais informal. “Ela mesma me ajuda a arrumar a bolsa térmica e levamos lanches mais fáceis”, conta.

Bruna vê os piqueniques como uma boa forma de fugir ao apelo das guloseimas ofertadas em shoppings, cinemas e parques de diversões. “Quando vamos ao piquenique, sei exatamente o que minha filha vai comer. Não vai ter aquela oferta de guloseimas de outros programas. Vejo isso como mais um dos benefícios dos piqueniques, que promovem também a saúde, permitindo que as crianças tomem sol, se exercitem, brinquem no chão e sejam estimuladas pelo contato com a natureza. A Catarina, por exemplo, pega pedrinhas e finge que são comidinhas. Essa questão lúdica é muito enriquecedora”, comenta. Sem contar a oportunidade mesmo que não à mesa, a família fazer uma refeição junta, algo que nem todas conseguem mais pelo ritmo da vida contemporânea.

Alice Carvalhais, nutricionista infantil do Instituto Mineiro de Endocrinologia e idealizadora do projeto Alice no País das Comidinhas, defende que a comida ideal de piquenique é a mesma ideal para o dia a dia. “Devem ser priorizados os alimentos que as crianças podem comer no dia a dia, aqueles com menos corantes, menos açúcar e menos sal. O piquenique é uma ótima oportunidade para valorizar alimentos mais saudáveis, que têm a cara do programa, caso das frutas. Espetinhos e saladas são lanches adequados para essas ocasiões, assim como saladas salgadas, já que muitos programas se estendem e substituem almoços”, explica Alice.

Mas é preciso cuidar também do armazenamento, exposição e refrigeração dos alimentos. Caixas ou bolsas térmicas são essenciais, assim como o cuidado para que os alimentos não fiquem diretamente expostos ao sol. Embalagens plásticas, e lanches individualizados são melhores opções para garantir a higiene. Afinal, as pessoas estão sentadas no chão, nem sempre há banheiros para lavar as mãos e todo cuidado é pouco. Para manter bebidas geladas, a sugestão de Alice é levar parte dos sucos congelada, já que com o tempo eles ficarão líquidos e se manterão geladinhos. Outro cuidado é evitar vidros.

E a comida de piquenique aproxima pessoas. A servidora pública Renata Dias Magalhães Silva, de 34 anos, adora levar a filha Alice, de 5 anos, a esse tipo de programa. E destaca como o simples fato de se sentar junto e dividir os lanches promove as relações. “Sempre conhecemos gente. O piquenique favorece esses encontros”, acredita. Além disso, Renata gosta de proporcionar um brincar diferente para a filha. “É ótimo porque ela faz amizades, conhece e se diverte com outras crianças da idade dela”, explica.

VAI TER BANHEIRO Boa notícia para os adeptos do piquenique. A Fundação de Parques Municipais retomou a licitação para a instalação de lanchonetes e banheiros em áreas verdes da capital. A expectativa é de que, após a escolha da empresa, as obras em todas as unidades sejam concluídas em seis meses. Ao todo, serão 33 pontos que poderão ser explorados em 29 parques espalhados por oito das nove regionais da cidade. Entre locais apontados no edital estão o Parque Municipal Américo René Giannetti, no Centro de BH, o Parque da Serra do Curral, o Parque JK e o Parque Municipal Fazenda Lagoa do Nado, na Região Norte da cidade. “O objetivo é atrair a família para dentro do parque, para que todo mundo possa usufruir dessas áreas verdes. É trazer a possibilidade de um local onde a família possa passar um tempo maior e ter um ponto de apoio, com banheiro público e lanchonete”, explicou a presidente da Fundação de Parques Municipais, Karine Paiva Silva. Os banheiros terão acessibilidade para pessoas com dificuldades de locomoção. Para o uso será cobrada taxa de R$ 0,50.

COMEMORAÇÕES INFORMAIS
Beelive/Divulgação
Festas com brincadeiras e lanches ao ar livre, como as produzidas pela Beelive em parques e praças da capital, ajudaram a popularizar os piqueniques (foto: Beelive/Divulgação)


Não dá para saber o que veio antes, se os piqueniques em si ou as festas com esse tema. Fato é que as comemorações em parques e praças, e mesmo nos quintais de casa, não param de ganhar adeptos pela informalidade e custo. E não há idade para comemorar o aniversário com um piquenique. Segundo Ludmilla Abelha, da Beelive Personalizados e Festas, isso tem a ver com uma busca das pessoas por bem-estar e valorização do simples. “As festas infantis perderam um pouco o sentido nessas versões megalomaníacas. Criança quer brigadeiro e cantar parabéns com os amiguinhos, tudo o que vai muito além disso é invenção de adulto”, defende a especialista em produção de festas e lembranças personalizadas.

Sua empresa nasceu da percepção de uma necessidade que as mães tinham de trazer as festas dos seus filhos para os ambientes mais intimistas e informais, dentro de suas casas, salões de festas. O desejo de ter algo personalizado e diferente. Algo único. “A ideia era sair dos bufês que entregam tudo pronto, padronizado, por um valor alto, e oferecer maior participação dos pais e, quando possível, da criança em todo o processo para com isso termos uma festa mais personalizada e até mesmo mais barata para os pais. Seguindo este formato, muitas vezes, nos deparamos com mães que querem oferecer uma festa diferente, mais descontraída, com interação com a natureza e até um cardápio mais saudável”, conta a empresária.

É aqui que entra o piquenique, que se encaixa perfeitamente em um formato simples, natural e com todo o charme que a ocasião pede. “Temos vários parques que oferecem seus espaços sem custo, ou com algum tipo de contrapartida quase simbólica para a realização de festas. Fica fácil definir o que servir e, muitas vezes, as próprias mães querem oferecer comidinhas que elas mesmo fazem”, conta. Hoje, o piquenique é a festa mais pedida na empresa, por se encaixar perfeitamente nos princípios do simples e do bem-estar: descontração, comidinhas frescas, ar livre, natureza, sol e diversão. Mas detalhes são fundamentais para agradar aos adultos e às crianças. “A festa é para os pequenos, mas a opção de toalhas no chão pode ser desconfortável para idosos, por exemplo, por isso usamos almofadas. É sempre bom termos algumas mesas também. Um parquinho por perto também é garantia do entretenimento das crianças”, observa.

Alguns itens, na opinião de Ludmilla, são essenciais para uma festa de piquenique. O local, claro, tem que ser uma área verde, seja de um parque ou jardim de uma casa/prédio, toalha xadrez com cestas espalhadas pelo chão, almofadas, uma bela montagem, seja na toalha no chão ou na mesa, com bolo e docinhos para o parabéns e o toque especial de flores naturais, que sempre dão mais vida e charme para o evento. E com o conhecimento de quem já fez vários piqueniques por aí, a empresária dá as dicas para quem quiser celebrar alguma data ao ar livre. “Defina o número de convidados e um local que comporte. Sempre pensando que piquenique pede verde, parque, jardim, espaço aberto com natureza são preferenciais e por isso é muito importante ficar atento à previsão do tempo. Piquenique com chuva não dá certo e a maioria dos espaços é aberta”, diz.

Para ter cara de piquenique é preciso ter toalhas e cestas. Segundo Ludmilla, várias lojas em BH têm esse material para locação. “Use vasilhames descartáveis. Piquenique não combina com louça nem vidro. Opte por sucos e garrafas individuais de bebidas se a escolha for toalhas no chão. Afinal, sem mesas não haverá muita estabilidade para copos e é fácil alguém esbarrar. Defina o cardápio com itens frescos, que não necessitem de refrigeração ou aquecimento para ser servidos: a maioria desses espaços não oferece cozinha de apoio. Leve tudo em caixas térmicas e assim você conseguirá manter os alimentos bem conservados. Fuja dos alimentos industrializados. Sanduichinhos variados, bolos, frutas e sucos são o carro-chefe deste tipo de festa. Se for fazer em uma praça ou parque, atenção redobrada com a limpeza. A natureza agradece”, completa Ludmilla.

TOP 10

Euller Júnior/ EM/ DA Press
(foto: Euller Júnior/ EM/ DA Press)

» Parque Roberto Burle Marx (Parque das Águas) 
Avenida Ximango, 809, Flávio Marques Lisboa (Barreiro)
Aberto diariamente, das 7h às 18h


» Parque Jacques Cousteau 
Rua Augusto José dos Santos, 366, Betânia
Aberto de terça a domingo, das 8h às 18h


» Parque Ecológico Renato Azeredo 
Avenida Antônio Peregrino Nascimento, s/nº, Palmares
Aberto de terça a domingo, das 8h às 18h


» Parque Ecológico da Pampulha
Avenida Otacílio Negrão de Lima, s/nº, Pampulha
O horário de visitação varia de acordo com as estações do ano

» Parque Amilcar Vianna Martins
Rua Cobre, 144, Cruzeiro
Aberto diariamente, das 8h às 18h

» Parque Marcos Mazzoni 
Rua Deputado Bernardino de Sena Figueiredo, 1.022, 
Cidade Nova
Aberto de terça a domingo, das 7h às 18h

» Parque das Mangabeiras 
Avenida José do Patrocínio Pontes, 580, Mangabeiras
Aberto de terça a domingo, e feriados, das 8h às 18h

» Parque da Serra do Curral
Avenida José do Patrocínio Pontes, 1.701, Mangabeiras
Aberto de terça a domingo, das 8h às 17h (entrada permitida até 16h)


» Parque Mosteiro Tom Jobim 
Rua Dr. Ismael de Faria, 160, Luxemburgo
Aberto de terça a domingo, das 8h às 18h

» Parque Municipal
Avenida Afonso Pena, 1.377, Centro
Aberto de terça a domingo, das 6h às 18h