Congelamento de nervos alivia a dor do membro fantasma

Nova técnica desenvolvida nos EUA reduz a dor de quem teve partes do corpo amputadas

por Correio Braziliense 08/04/2016 13:00
Pesquisadores dos Estados Unidos desenvolveram uma técnica que reduz a dor do membro fantasma, problema enfrentado por quem tem partes do corpo amputadas. A nova alternativa consiste em uma espécie de congelamento dos nervos e mostrou redução do desconforto nas primeiras pessoas tratadas. Apresentando nesta semana durante a Reunião Anual Científica da Sociedade de Intervenção Radiológica de 2016, no Canadá, o estudo traz nova esperança para um problema que tem impacto direto na qualidade de vida dos pacientes.

“Até agora, indivíduos com a dor do membro fantasma tiveram poucas intervenções médicas que resultassem em uma redução significativa da dor”, justificou, em um comunicado à imprensa, John David Prologo, um dos autores do estudo e professor-assistente na Divisão de Radiologia Intervencionista da Faculdade de Medicina da Universidade de Emory (EUA). Chamada cryoablation, a técnica foi testada em 20 pacientes. Uma sonda, colocada através da pele, congela durante 25 minutos a zona amputada — entre o tecido nervoso e a cicatriz do membro residual (a parte do corpo que permanece após a amputação). Dessa forma, fecha os sinais nervosos.

Para avaliar os efeitos, os pesquisadores utilizaram uma escala visual analógica (EVA, pela sigla em inglês) que variou entre 1 (para não doloroso) e 10 (para extremamente doloroso). Os participantes foram questionados antes de serem submetidos à técnica, sete dias e 45 dias depois da intervenção. Como média, chegou-se à escala de dor de 6,4 pontos, que diminuiu com o passar do tempo — por volta do 45° dia, a pontuação média foi de 2,4 pontos.

De acordo com os especialistas, a queda pode ser creditada à aparelhagem avançada utilizada na técnica, que conseguiu explorar áreas de difícil acesso. “Muitos dos nervos que contribuem para essas dores são inacessíveis aos médicos sem a orientação de imagem. Com o conjunto de habilidades da radiologia intervencionista, podemos resolver problemas difíceis. Esse tratamento promissor pode melhorar drasticamente a vida dos amputados, e isso tudo pode ser feito em um ambulatório”, detalhou Prologo.

Os pesquisadores da Emory darão continuidade ao estudo e pretendem explorar ainda mais o potencial da cryoablation acompanhando a eficácia dela pelo menos seis meses após o tratamento. Prologo destacou que o grupo solicitou uma concessão do Departamento de Defesa dos Estados Unidos para testar a técnica em veteranos de guerra, um dos grupos que mais sofrem com a dor do membro fantasma. “Essas pessoas têm, agora, uma opção viável de tratamento para acabar com esse efeito colateral contínuo da amputação”, ressaltou.

Problema nos sinais
A dor é causada por uma alteração do sistema nervoso acima da zona amputada. O cérebro interpreta os sinais nessa região como se eles viessem da parte do corpo que foi tirada. O desconforto pode ser uma sensação opressiva, de ardor ou de esmagamento. Para algumas pessoas, ele fica menos frequente com o passar do tempo. Para outras, é persistente.