Massagem pode espalhar o câncer ou aumentar a pressão arterial? Veja o que é mito e verdade sobre as técnicas de relaxamento e modelagem do corpo

As massagens estéticas nem sempre são indicadas para quem apresenta certos problemas de saúde. Com orientação profissional, a técnica, no entanto, pode trazer muitos benefícios

por Revista do CB 15/03/2016 15:00
Raimundo Sampaio/ENCDF/D.A Press
É importante saber que existem riscos para portadores de doenças mais graves se submeter às massagens estéticas (foto: Raimundo Sampaio/ENCDF/D.A Press)
A massagem é uma técnica milenar de pressão e de movimentos sobre a pele que tranquiliza a mente. O procedimento também faz parte da lista de alternativas estéticas para modelar as formas do corpo. A maioria das massagens trabalha combatendo a retenção de líquido e melhorando a circulação, o que reduz o inchaço e ameniza o aspecto da celulite. O toque não age, porém, na gordura localizada, que só pode ser eliminada com exercício físico. Mas após 10 a 15 sessões é possível ver a redução de medidas, devido à melhora da circulação. Entre os procedimentos preferidos estão a drenagem linfática e a massagem redutora corporal, conhecida como lipomassagem. Apesar de parecer inofensivo, no entanto, o método não é indicado de forma indiscriminada, especialmente para quem tem alguma patologia preexistente.

Independente do efeito desejado, existem riscos para portadores de doenças mais graves se submeter às massagens estéticas. Em outros casos, porém, a manipulação pode ajudar a reduzir taxas, medidas e aumentar o bem-estar. Por isso, é sempre recomendável conversar antecipadamente com um médico de confiança. De forma correta, o resultado pode ser extremamente benéfico. A servidora pública aposentada Maria da Graça de Oliveira, 59, por exemplo, faz massagem e drenagem linfática duas vezes por semana. Maria descobriu ano passado que estava com a pressão alterada e o médico questionou se ela estava frequentando sessões de massagem ao notar a normalização das taxas, mesmo sem o uso de medicamento. “Minha terapeuta faz modalidades de acordo com cada pessoa. No meu caso, são a drenante, a terapêutica e a relaxante, que acabam trabalhando também a retenção de líquido que tenho”, explica.

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Maria da Graça de Oliveira faz massagens duas vezes por semana: melhora na hipertensão (foto: Gustavo Moreno/CB/D.A Press)


Há quem procure a técnica, no entanto, para remodelar o corpo e, de quebra, trazer calmaria para a alma. Em 2014, a médica Eucilene Leocadio, 59, começou a fazer a drenagem linfática para amenizar o acúmulo de líquido ocasionado após a cirurgia de retirada das mamas. Após detectar o câncer de mama, ela fez seis meses de quimioterapia, aliados a 20 sessões de radioterapia, e decidiu procurar a massagem. “É um momento em que a gente percebe que tá cuidando da gente mesmo, que tá dando uma atenção para o nosso corpo. Tem um efeito psicológico também”, diz.

Você sabia...
O leque de profissionais que executam esses tratamentos também é amplo. O massagista é formado por cursos livres, focando em suas áreas de interesse, e, comumente, é mais voltado para a parte estética. Já o massoterapeuta, formado com curso técnico, trabalha com vários tipos de massagem de acordo com as necessidades de cada cliente e, como o nome diz, é uma forma de terapia.

O que pode e o que não pode

A massagem pode espalhar o câncer e causar metástase?
Para o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, os movimentos sobre a pele não aumentam o risco de o câncer se espalhar pelo corpo, em um processo chamado de metástase. A instituição, inclusive, recomenda a massagem para os pacientes em tratamento, pois, durante a sessão, aumentam os níveis de dopamina e serotonina, hormônios do bem-estar. “Não existe nenhuma evidência científica de que a massagem possa causar ou aumentar o risco de metástase, mesmo em um tumor em atividade”, afirma a oncologista Patrícia Werlang Schorn. Segundo ela, o mito surgiu em livros de fisioterapia antigos, escritos quando não havia muito conhecimento sobre o mecanismo de funcionamento da metástase, que é biológico e não físico. “Se fosse assim, a gente matava célula de câncer e os pacientes não poderiam caminhar, para não estimular a circulação”, compara.

Contudo, essa ainda é uma dúvida frequente, tanto entre os pacientes quanto entre alunos de medicina, o que leva os profissionais a redigirem cartas autorizando a prática. O oncologista Carlos dos Anjos ressalta ainda que a massagem pode ser essencial no período pós-tratamento. Segundo ele, uma parcela significativa das pacientes que enfrentam câncer de mama passam por uma condição chamada linfedema, em que o braço passa a acumular líquido após meses ou anos da eliminação do tumor. Esse inchaço é combatido com drenagem linfática. É importante o oncologista avaliar porque podem existir recomendações de áreas que não devem ser manipuladas, para evitar dor, lesão ou desconforto em áreas sensíveis.

O shiatsu pode piorar a hipertensão arterial?
Um artigo publicado em 2007 na revista Neurociência, da Universidade Paulista, avaliou em seis momentos os níveis da pressão arterial em voluntários, sete homens e mulheres saudáveis, expostos ao shiatsu e a sessões clínicas de massoterapia (SCM). De fato, há um leve aumento da pressão durante a prática, mas que seria pouco significativo. Segundo Fausto Stauffer, diretor de Pesquisa da Sociedade Brasileira de Cardiologia, existem muitas publicações que são favoráveis ao uso da massagem para controle de hipertensão.

Stauffer explica que o aumento da pressão arterial só representa risco quando o paciente está em crise, mas um hipertenso medicado só tem a ganhar. “Estudos mostraram que pacientes hipertensos que fazem o acompanhamento corretamente se beneficiam da massagem. Ela, teoricamente, causa constrição dos vasos e elevação arterial, mas, após 48 horas há vasodilatação e o nível de cortisol, o hormônio do estresse, cai, diminuindo a pressão”, afirma.

Quais são os riscos para outros tipos de pacientes cardíacos?
O cardiologista Lázaro Fernandes aponta que portadores de equipamentos como marcapasso e ressincronizadores ventriculares devem ter cautela ao usar drenagem mecânica com aparelhos de correntes estimuladoras eletromagnéticas. “Essas correntes aplicadas no organismo do cardiopata que tem esses equipamentos tecnológicos atravessam o corpo. A programação desses aparelhos pode ser afetada pelas correntes”, explica. Além disso, é indispensável que o massoterapeuta pergunte o tipo de medicação que o cliente toma.“Em massagens manuais, nas quais o massoterapeuta faz pegadas musculares muito fortes, se o paciente usar anticoagulante e antiagregante podem ocorrer equimoses temporárias (manchas roxas)”, conta. Outro risco é o deslocamento de fragmentos de tromboses, que podem causar embolia pulmonar caso caiam na corrente sanguínea.

Os movimentos podem fragilizar os ossos de quem tem osteoporose?
Segundo Julian Machado, delegado da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, não é recomendável fazer massagem sem indicação e monitoramento. “O profissional lida muito bem com a execução da massagem, uma drenagem linfática, mas não tem conhecimento de doenças. Por isso o médico tem que esclarecer”, afirma. O caso é ainda mais grave para quem tem osteoporose, perda de massa nos ossos causada por deficiência em cálcio ou vitamina D. Existem vários níveis da doença e, segundo o ortopedista, mesmo uma simples massagem por causar lesões e quebra dos ossos. Julian Machado afirma que, na dúvida, prevalece a avaliação individual do médico.

Quais são as restrições para grávidas?
Grávidas podem, erroneamente, ser instruídas a temer atividades físicas e tratamentos estéticos no geral. Apesar de o início da gestação ser uma fase sensível, existem variantes de massagem recomendadas para ajudar na saúde da mãe e do bebê, como a ayurvédica. O único cuidado necessário, segundo o cardiologista Lázaro Fernandes, seria conhecer bem os pontos de estimulação e não fazer a terapia aleatoriamente, o que pode trazer riscos. “Na gravidez há pontos que aceleram as contrações uterinas e podem provocar parto prematuro”, alerta. Fernandes afirma que, apesar de não haver ainda base científica sólida sobre a ação dos pontos, esses efeitos são facilmente verificados pelos médicos.