Pesquisadores descobrem gene que está associado à calvície

Segundo os estudos, há fatores externos aos pelos que provocam o problema. Os resultados abrem caminho para novos tratamentos

por Paloma Oliveto 18/02/2016 15:00
Ao lado das rugas, um dos sinais mais evidentes do envelhecimento é o rareamento gradativo dos fios de cabelo, que também perdem espessura e ficam mais quebradiços. Apesar de avançadas, as pesquisas sobre calvície ainda não conseguiram determinar se o problema está associado a fatores estressantes que se acumulam na estrutura do folículo piloso ao longo do tempo ou se as próprias células-tronco que dão origem ao cabelo começam a perder o vigor com o passar dos anos. A questão, aliás, não envolve só os pelos do corpo, mas toda a medicina regenerativa — a área de estudos que busca encontrar um meio de fazer com que o próprio organismo passe a restaurar as funções de tecidos e órgãos afetados tanto pela velhice quanto por um vasto rol de doenças, do câncer ao Parkinson.

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Considerada tão revolucionária quanto foi no passado a descoberta da penicilina, a medicina regenerativa depende da compreensão do processo de envelhecimento sobre as células-tronco, aquelas com capacidade infinita de autorrenovação e que dão origem a todos os órgãos do corpo. Para isso, o cabelo se mostra um modelo ideal: com um ciclo de nascimento e morte bem definido, representa bem o que acontece no organismo como um todo. Em dois estudos publicados na capa da revista Science desta semana, pesquisadores dos Estados Unidos e do Japão lançam luz sobre o envelhecimento e a queda dos fios, contribuindo para a compreensão melhor do processo regenerativo e, de forma secundária, da calvície.

“O principal objetivo de nosso estudo foi compreender como as células-tronco respondem aos sinais biológicos do crescimento e limitam o número de divisões”, esclarece Rui Yi, pesquisador do Departamento de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Colorado em Boulder, nos Estados Unidos, e principal autor de um dos artigos. “Se a divisão não é controlada, isso poderia levar à perda das células-tronco, porque elas acabariam se dividindo demais, ou então à produção de tantas células que resultaria em doenças como o câncer”, afirma.

Tanto a equipe de Yi quanto a de Hiroyuki Matsumura, da Universidade de Tóquio e responsável pelo segundo artigo da Science, utilizaram ratos de laboratório nos experimentos. Na instituição japonesa, os cientistas manipularam as cobaias geneticamente para estudar os folículos pilosos em um modelo de animal com perda acelerada de pelos. Aos 18 meses, quando os pelos dos camundongos começaram a cair, a análise da pele demonstrou que os folículos estavam menores, menos fartos e mais finos. Isso levou os pesquisadores a acreditar que o problema tenha origem nas próprias células-tronco responsáveis pela fabricação dos folículos pilosos.

O processo de miniaturização do folículo piloso — quando ele se torna menor e mais fino — tem sido apontado há tempos como um fenômeno-chave da alopécia androgênica, a calvície masculina. “Mas nosso estudo revelou que os folículos dos mamíferos miniaturizam e geralmente desaparecem da pele durante o envelhecimento de ratos e humanos, independentemente de sexo”, revela Matsumura, no artigo. Outro achado interessante dos cientistas foi que, aparentemente, o problema não está na célula-tronco propriamente dita, o que dificultaria qualquer tentativa de reverter o processo de envelhecimento; mas, sim, em mudanças que acontecem no ambiente de divisão dessas estruturas.

“Na alopécia androgênica, as fibras de cabelo ficam mais curtas, mais finas e escasseiam à medida que os cabelos do couro cabeludo são substituídos. Mas, mesmo nos primeiros estágios dessa condição, as células-tronco do folículo piloso parecem normais: o problema é uma falha no processo de ativação dessas células para formar os novos pelos”, afirma Cheng-Ming Chuong, pesquisador de patologia da Universidade da Califórnia em Los Angeles e não participante do estudo. “As células germinativas do cabelo são formadas pela ativação das células-tronco do folículo piloso e migram do bulbo durante a fase catágena do ciclo de vida do pelo, um estágio intermediário entre o crescimento e a morte do fio. Então, as pesquisas sugerem que o problema não está na célula-tronco per se, e sim no ambiente que afeta as células-tronco. Isso indica que, em tese, modificar esse ambiente poderia reverter o processo”, observa.

Efeitos distintos
Outra descoberta que reforça a hipótese de que não é a estrutura da célula, mas fatores externos a ela que estão por trás do rareamento de cabelo foi feita pela equipe de Rui Yi. “Nós descobrimos que, quando as células-tronco do folículo piloso se dividem, elas transitoriamente produzem um fator de transcrição (uma proteína) chamado Foxc1 para limitar o número de divisões celulares e ajudar as células já divididas a retornar ao estágio de repouso. Essa substância é produzida tanto nas células-tronco do cabelo quanto em seu nicho (ambiente em que ficam, ainda em estágio indiferenciado). No nosso estudo, descobrimos que a função do Foxc1 nas células-tronco e no nicho parecem ser diferentes”, conta.

Nas células, a substância ajuda a fazer com que elas voltem à fase de repouso, quando param de se dividir. Já no nicho, a função é manter o fio antigo, evitando que ele caia antes da hora. “Em outras palavras, quando tiramos o gene Foxc1 do nicho, os folículos antigos perdem-se prematuramente e o cabelo se torna mais fino”, diz o pesquisador.

Yi afirma que é possível que, na maioria dos órgãos — se não em todos eles —, as propriedades das células-tronco sejam muito similares. “A maior parte das nossas células-tronco encontram-se em um estágio de repouso, onde não se dividem com frequência. Mas quando são ativadas para produzir mais células, o que acontece, por exemplo, durante um processo de cura de um ferimento, elas também precisam saber a hora de parar de se dividir. Então, é possível que muitos outros órgãos usem estratégias similares para controlar a atividade das células-tronco”, diz.