Fobia de dentista atinge 10% da população e pode ser superada com psicoterapia

A terapia cognitivo-comportamental desobriga o uso de sedação durante o atendimento de pacientes com odontofobia. O benefício foi constatado após cinco sessões de apoio psicológico em 79% dos participantes de uma pesquisa britânica

21/01/2016 14:51
SXC.hu / Banco de Imagens
A estimativa é de que 10% da população tenham fobia dos tratamentos odontológicos: impacto na saúde em geral (foto: SXC.hu / Banco de Imagens )
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ajudar muitas pessoas com fobia a superar o medo de visitar o dentista, permitindo que recebam o tratamento odontológico adequado sem necessidade de sedação. Esse tipo de ansiedade é comum e torna-se um problema sério quando impacta fortemente o bem-estar do indivíduo. Pessoas fóbicas evitam cuidar dos dentes com o especialista e, por isso, acabam com uma saúde bucal mais pobre, o que traz impactos importantes para a saúde em geral. Estimativas recentes da Pesquisa de Saúde Odontológica em Adultos conduzida no Reino Unido sugerem que uma em cada 10 pessoas tenha fobia de ir ao dentista.

A psicoterapia dura, tipicamente, entre seis e 10 semanas, e tem ajudado os pacientes a superar uma série de problemas psicológicos, mais notavelmente depressão e distúrbios associados à ansiedade. Tanto as intervenções comportamentais quanto as cognitivas obtêm sucesso na redução da fobia de ir ao dentista, aumentando as visitas ao consultório odontológico, de acordo com alguns estudos.

Agora, uma pesquisa publicada no British Dental Journal investigou as características de 130 pacientes — 99 mulheres e 31 homens — que frequentaram o serviço psicológico do Instituto de Saúde Bucal do King’s College London. Essas pessoas foram investigadas quanto aos níveis de ansiedade associada ao tratamento dos dentes, ansiedade geral, depressão, pensamentos suicidas, uso de álcool e outras medidas de saúde relacionadas à qualidade de vida.

Três quartos delas pontuaram 19 ou mais na Escala de Ansiedade Dental Modificada (MDAS), um índice que mede o medo de dentista. Esse escore indica a fobia, disseram os pesquisadores. Medo da anestesia e da broca foram os mais citados. Quase todos os pacientes, 94%, reportaram problemas com dentes, boca ou gengiva no dia a dia, impactando na qualidade de vida.

Outras complicações
Uma boa proporção dos pacientes que participaram do estudo tinham outras condições psicológicas: 37% apresentavam níveis altos de ansiedade geral e 12%, níveis significativos de depressão. Pensamentos suicidas foram reportados por 12% e 3% afirmaram que, recentemente, haviam considerado a possibilidade de atentar contra a própria vida. Os indivíduos que citaram suicídio foram imediatamente alocados em programas de prevenção da faculdade.

Os participantes do estudo passaram por um programa de 10 semanas de TCC. Na metade do tratamento, já houve ganhos significativos, disseram os pesquisadores. Após cinco sessões, 79% conseguiram ir ao dentista sem precisar de sedação. Tim Newton, do Instituto Dental do King’s College London e principal autor do estudo, explica que as pessoas com fobia de ir ao dentista geralmente precisam ser sedadas para ficarem relaxadas, de forma que o profissional possa fazer o tratamento odontológico.

“Contudo, essa é uma solução temporária, que não as ajuda a superar o medo a longo prazo. O principal objetivo do nosso serviço de TCC é permitir que as pessoas recebam o tratamento bucal sem necessidade de serem sedadas. Fazemos isso trabalhando individualmente com elas. Nós definimos os objetivos de acordo com as prioridades de cada uma”, detalha.

O especialista, contudo, alerta que os psicólogos precisam fazer uma avaliação rigorosa dos pacientes com fobia de ir ao dentista. Isso porque alguns deles também passam por outras dificuldades, precisando de um tratamento mais específico ou de longo prazo. É o caso, por exemplo, daqueles que relataram pensamentos e/ou intenções suicidas. “Outra questão importante que precisamos salientar é que, embora a TCC tenha reduzido a necessidade de sedação em pessoas com fobia, é possível que elas precisem ser sedadas eventualmente, quando, por exemplo, tiverem de fazer um atendimento emergencial ou um procedimento muito invasivo”, destaca Newton.