Medidas drásticas de prevenção a doenças preocupa especialistas

Manter o corpo em forma e livre de doenças tem levado pessoas a cometerem exageros, como a retirada desnecessária de órgãos. Chamado de healthism, o comportamento preocupa especialistas e pode impactar as relações sociais

por Correio Braziliense 10/01/2016 13:00
Linhaça e água de berinjela para emagrecer. Ioga para relaxar. Malhação para tonificar os músculos. Pilates para alongar. Suplementos para dar energia e complementar a alimentação. Por fim, checapes regulares para ter certeza de que está tudo no lugar. A lista longa de cuidados garante beleza e longevidade, pregam celebridades do mundo fitness. Mas especialistas alertam que a precaução com a saúde e o excesso de cuidados têm limite. Se ultrapassado, chega a uma condição que tem sido chamada por eles de healthism.

Em linhas gerais, o healthism funciona como um criador de regras que identifica e impõe o modo correto de viver. A preocupação excessiva com a condição física pode levar a exageros. Em artigo publicado recentemente no Journal of Social Policy Studies, Evgenia Golman, professora da Faculdade de Ciências Sociais do Departamento de Sociologia Geral, na Rússia, usa como exemplo para explicar o fenômeno a realização de cirurgias em pacientes saudáveis pela simples possibilidade de uma doença sugerida em um exame.

Atitudes drásticas como essa também são chamadas pelos especialistas de síndrome de Angelina Jolie, uma referência à atriz hollywoodiana que retirou as mamas e o ovário ao descobrir que tinha o risco aumentado de ter câncer. Após o anúncio da mastectomia preventiva feito por ela, em maio de 2013, a procura pelo teste que analisa as mutações detectadas em Jolie mais que dobrou no Reino Unido, segundo pesquisa divulgada, em setembro de 2014, no Breast Cancer Research e que levou em consideração dados de 21 centros de saúde. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) estimou, também em 2014, que o interesse pela cirurgia para prevenir a doença havia aumentado 50%.

O caso da hollywoodiana, porém, é uma manifestação extrema deste novo olhar sobre a saúde. Golman ressalta que o healthism inclui principalmente comportamentos que impactam no dia a dia, como o aumento das dietas, das cirurgias plásticas e do consumo de alimentos orgânicos, bem como a popularidade de aplicativos móveis para a vigilância da saúde. No mesmo artigo, a especialista ressalta que, apesar de a medicina preventiva ajudar a salvar muitas vidas e poupar recursos governamentais, a prevenção excessiva na busca de um ideal saudável pode levar a uma neurose na população e afetar todas as relações sociais.