Consulta clínica e checape devem levar em conta não só o que o paciente sente, mas o histórico pessoal e familiar

O objetivo do checape é detectar doenças na fase assintomática ou riscos que podem comprometer a saúde e o bem-estar das pessoas

por Lilian Monteiro 04/12/2015 09:00
Leo Lara/Divulgação
Novas tecnologias são utilizadas em exames laboratoriais e de imagem do Hermes Pardini (foto: Leo Lara/Divulgação)
Há quem fuja dele, quem esteja atento e o encare com periodicidade e o grupo que exagera. O objetivo do checape é detectar doenças na fase assintomática ou riscos que podem comprometer a saúde e o bem-estar das pessoas. Mas, ao mesmo tempo, é preciso ter cuidado e não extrapolar. O que isso significa? O presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM), Antônio Carlos Lopes, alerta sobre a necessidade de os profissionais e da população terem consciência de que o checape não é só uma avaliação de exames. Na verdade, ele enfatiza, “o checape deveria ser uma consulta clínica completa, com total interação dos problemas do paciente. Uma pessoa com pânico tem todos os exames normais e não quer dizer que ela não esteja doente”, avisa.

Antônio Carlos destaca que toda consulta clínica é um checape. “É quando o médico leva em conta não só o que o paciente sente, mas fará um exame tanto do histórico pessoal quanto do familiar.” Ele lembra que “exames têm complicações e que, atrás de uma máquina, tem um médico, mas não sabemos qual sua formação e erros são comuns. Há pouco tempo, recebi quatro exames de ressonância magnética com resultado normal, mas o paciente continuava se queixando. Na consulta clínica, detectei apendicite, mas ele disse já ter feito a cirurgia. Perguntei há quanto tempo e ele respondeu que fazia mais de 50 anos. Ele tinha, sim, apendicite, já que há cinco décadas só se tirava uma parte do apêndice”.

O presidente da SBCM revela “cansaço” ao ter de lidar com a avalanche de exames que o checape se tornou. Mostra-se indignado com os excessos e falta de cuidado. E reforça: “Exame não substitui a consulta clínica nem a relação médico-paciente. É preferível que a avaliação não fique centrada em exame e ele só seja pedido com base no diagnóstico clínico, com avaliação do risco e presença de uma doença na família. Tem pessoas fazendo exame de PSA com 30 anos e não se faz com menos de 50!”.

Para Antônio Carlos, é triste a “medicina centrada em exames, que transforma todos em iguais, sendo que a única regra na medicina é a individualidade. Isso é absurdo do ponto de vista acadêmico e da formação médica”. Ele diz que “95% dos exames são normais e que eles são um flash momentâneo de um indivíduo centrado em exames, o que vai na contramão da medicina humanista”. O importante, diz o médico, é uma consulta bem orientada, sem pressa, que valorize os antecedentes e que privilegie a relação médico-paciente e o humanismo.

Há todo tipo de médicos e pacientes, por isso a conduta nessa relação tem ganhos e perdas. Há profissionais que só dão diagnóstico com base em exames e há pessoas que só se sentem seguras quando os exames são solicitados. Na análise de Antônio Carlos, isso ocorre porque “falta médico experiente e com formação de excelência e paciente que quer exame ou que se guia pela internet porque não sente carisma no médico, que não transmite segurança, nem o escuta. Saibam que checape não é matemática, há exames errados”.

PROCEDIMENTOS
Ariovaldo Ribeiro Mendonça, médico patologista clínico e coordenador do Núcleo de Check-up do Grupo Hermes Pardini, alerta que o checape vale para qualquer idade e enfatiza seus três pilares: “Em primeiro lugar, ele é preventivo. Setenta por cento das doenças são detectadas por meio do uso de procedimentos complementares ao diagnóstico. Em seguida, é importante para detectar os fatores de risco, como obesidade, hipertensão arterial, sedentarismo, pré-diabetes, tabagismo, alcoolismo e ingestão exagerada de sal e açúcar, e descobrir uma doença. O terceiro ponto é, doença instalada, acompanhar o tratamento”.

Ele conta que, no Grupo Hermes Pardini, em seis horas, o paciente conclui seu checape, que passa por sete consultas com cardiologista, clínico, dermatologista, nutricionista, ginecologista e mastologista, urologista e oftalmologista. “Fazemos um questionário pré-checape, que avalia dados nutricionais, se é ou não sedentário, antecedentes familiares, que são fundamentais, porque hoje temos uma linha de exames genéticos para todas as doenças e fatores de risco. Ele fará também mais de 10 procedimentos diagnósticos (audiometria, dermatoscopia, eletrocardiograma, ecocardiograma, mamografia, raio-X de tórax, ecodoppler), além de exames laboratoriais.”

Ariovaldo Mendonça explica que, para ter saúde, a população precisa entender que se não mudar o pensamento não vai funcionar. Ou seja, não tem como comer picanha todo dia, consumir 18 chocolates e tomar refrigerante. “A medida é durante a semana ter uma alimentação saudável de folhas, verduras, legumes, arroz integral e no fim de semana degustar uma feijoada ou churrasco. O problema é o exagero, que, em determinado momento, o obrigará a não ingerir, por exemplo, mais doce. É preciso uma reeducação alimentar. E quanto mais cedo, mais fácil para o médico ajudar.”