Obesidade provoca carência de vitamina E

Segundo estudo norte-americano, o excesso de gordura no organismo impede que o nutriente seja absorvido por todos os tecidos do corpo. Entre os benefícios do composto está o combate aos radicais livres e a doenças cardiovasculares

por Paloma Oliveto 03/12/2015 15:00
Arte: CB / D.A Press
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Pouco se fala sobre ela, mas a vitamina E é tão essencial ao organismo quanto a C ou a D. Um dos motivos do desconhecimento por parte dos leigos consiste no fato de que, mesmo aqueles com ingestão baixa das fontes desse micronutriente, exibem níveis satisfatórios da substância na corrente sanguínea. Contudo, um estudo recente indica que apenas a presença no sangue não significa uma boa absorção da vitamina pelos tecidos que necessitam dela. Isso é especialmente verdadeiro no caso de pessoas obesas — paradoxalmente, as que mais precisam do nutriente, um importante combatente do estresse oxidativo provocado pelo excesso de peso.

“Na corrente sanguínea, a vitamina E associa-se às gorduras presentes no sangue para ser transportada até os tecidos e os órgãos. Mas, nas pessoas obesas, esse micronutriente essencial não consegue alcançar os lugares em que é mais necessário”, observa Maret Traber, professora da Faculdade de Saúde Pública e Ciência Humana da Universidade Estadual de Oregon, nos Estados Unidos. A especialista é a principal autora de um artigo publicado no American Journal of Clinical Nutrition no qual observa uma complicada relação entre pacientes com síndrome metabólica e a carência de vitamina E.
De acordo com Traber, não se deveria esperar que a obesidade estivesse associada à falta do nutriente. A vitamina E é uma substância lipossolúvel, ou seja, precisa de moléculas de gordura para pegar carona pela corrente sanguínea. Portanto, deveria ser abundante no organismo de pessoas acima do peso que ingerem grandes quantidades de alimentos gordurosos. Não foi, contudo, o que ela verificou em um estudo com homens e mulheres saudáveis e voluntários com síndrome metabólica, um conjunto de fatores de risco para doenças cardiovasculares, incluindo obesidade, hipertensão, glicemia alterada, colesterol e triglicérides altos.

Os participantes foram divididos em dois grupos, cada um composto por 10 pessoas. Ao longo de três dias, em intervalos regulares, eles ingeriram uma cápsula de vitamina E com leite desnatado ou integral, seguido de um exame de sangue. Os pesquisadores fizeram uma análise minuciosa do conteúdo plasmático e utilizaram uma técnica baseada em isótopos estáveis para estimar o quanto do micronutriente estava chegando aos tecidos do organismo. Constataram que, comparadas às pessoas saudáveis, as com síndrome metabólica apresentaram menos concentração da vitamina E, absorvendo pouco mais que 24% da substância, contra 29% medidos no primeiro grupo.

Esse é um problema para quem tem obesidade, afirma Maret Traber. “Pessoas com níveis elevados de lipídeos (gordura) no plasma sanguíneo enfrentam, como efeito colateral, excessivos processos inflamatórios. Quase todos os tecidos do corpo estão sob ataque oxidativo e precisam de mais vitamina E para contornar esse problema. Mas a vitamina necessária para proteger os tecidos está presa no meio da estrada, que é o aparelho circulatório. Está dando voltas, andando para cima e para baixo, em vez de chegar aos tecidos em que é necessária”, explica.

Suplementação
De acordo com ela, os tecidos de pessoas obesas já têm tantas moléculas de gordura acumuladas que passam a rejeitar o composto, que chega até eles na carona dos lipídeos encontrados no sangue. “Então, embora os tecidos estejam enfrentando um estresse oxidativo sério, a entrega de vitamina E para eles não está funcionando bem e eles não estão conseguindo esse micronutriente de maneira suficiente”, diz Traber. A especialista explica que a gordura gera substâncias oxidantes que aumentam o estresse metabólico. As vitaminas E e C, além de outros antioxidantes, são defesas naturais dietéticas contra o problema.

Jeffrey Basinger / Student Multi / Divulgação
Maret Traber, professora da Faculdade de Saúde Pública e Ciência Humana da Universidade Estadual de Oregon (foto: Jeffrey Basinger / Student Multi / Divulgação )
“Uma outra preocupação é que, quando as pessoas tentam perder peso, geralmente a primeira coisa que fazem é limitar a ingestão de gorduras. Isso pode fazer sentido se você está tentando cortar calorias, mas a gordura é uma fonte comum de vitamina E. Então, a abordagem pode, na realidade, piorar ainda mais a deficiência do nutriente”, afirma Traber. Ela diz que uma solução razoável seria tentar aderir a uma dieta balanceada e saudável e tomar um suplemento multivitamínico que contivesse a quantidade recomendada de vitamina E (15mg por dia). Também é importante ingerir alimentos que são fonte de gordura saudável, como sementes e nozes.

Segundo Richard Bruno, professor de nutrição humana da Universidade Estadual de Ohio e coautor do trabalho, o fato de as pessoas com síndrome metabólica apresentarem menor absorção de vitamina E já era esperado por eles. “Mas nunca havíamos estudado isso e, portanto, não tínhamos um referencial para fazermos recomendações para essa população”, complementa. Ele afirma que o grupo investiga, agora, as melhores formas de indivíduos com obesidade conseguirem absorver a substância. “Nos Estados Unidos, um terço da população tem síndrome metabólica. Então, essa é uma questão verdadeiramente urgente”, avalia. No Brasil, dependendo do critério utilizado, estudos realizados com diferentes grupos populacionais encontraram prevalências que variam de 12,4% a 28,5% (homens) e de 10,7% a 40,5% (mulheres).

Proteção importante para os pulmões
Estudo da King’s College de Londres e da Universidade de Nottingham descobriu uma associação entre quantidades de vitamina E no corpo, exposição a poluição atmosférica e função pulmonar. Trata-se de mais um trabalho científico que sugere que as vitaminas podem proteger os pulmões contra partículas tóxicas inaladas. Embora não tenha demonstrado especificamente esse efeito, é o primeiro a apontar uma clara ligação entre as concentrações do micronutriente no sangue e a exposição às partículas finas formadas por gases poluentes na população em geral.

O material particulado (PM, sigla em inglês) é um dos principais poluentes atmosféricos a prejudicar a saúde humana. Estudos anteriores reportaram uma associação inversa entre a exposição ao PM e a função pulmonar. Contudo, os mecanismos por trás da contaminação do ar e o funcionamento do órgão ainda não são bem entendidos. O novo trabalho, publicado no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine, investigou a influência de uma variedade de metabólitos — assinaturas químicas circulantes no sangue — sobre a função dos pulmões e a relação entre eles e as concentrações de PM10 e PM2,4 (partículas menores que 20 e 2,5 mícrons, respectivamente) contidas no ar da casa dos participantes.

Os cientistas mediram 280 metabólitos no sangue de 5,5 mil voluntários, também submetidos ao exame de espirometria. Esse teste mede a capacidade pulmonar forçada, ou seja, a quantidade de ar que uma pessoa pode exalar com força depois de inalar o mais profundamente possível; e o volume expiratório forçado, que é a quantidade de ar exalado com a força após uma inspiração. Quinhentos voluntários vivem na região da Grande Londres e tiveram a exposição prolongada às partículas medidas por meio de um modelo computacional. Todos eles completaram um questionário sobre hábitos e histórico de saúde, incluindo a questão de ingestão de suplementos vitamínicos.

O trabalho revelou 13 metabólicos significativamente associados à capacidade pulmonar. Desses, oito também tinham forte relação com as partículas finas de poluentes. Quanto maior a exposição aos agentes tóxicos no ar, menores os níveis desses metabólitos e mais fraca a função dos pulmões. Entre as oito substâncias identificadas, duas são antioxidantes conhecidos: as vitaminas E e C. Mas a associação mais forte foi com a primeira. Indivíduos muito expostos a partículas poluentes exibem níveis mais baixos do micronutriente e têm pior capacidade pulmonar.

“Nosso trabalho é consistente com relatos anteriores que observaram baixos níveis de vitamina E em pessoas com condições pulmonares como asma”, disse Frank Kelly, chefe do Grupo de Pesquisa Ambiental do King’s College de Londres e coautor do estudo. Ele destaca, contudo, que ainda não se sabe especificamente quais partículas atmosféricas danificam os pulmões nem de que forma as vitaminas poderiam interferir com esse padrão para reduzir o nível de danos.