Água com gás faz mal?

O verão bate à porta e é preciso atenção redobrada com a hidratação do organismo. Assim como a natural, a água gasosa não tem caloria e pode ser uma alternativa mais refrescante nos dias quentes

por Valéria Mendes 16/11/2015 10:00
SXC.hu / Banco de Imagens
"Para quem come por ansiedade, a água com gás gera uma plenitude gástrica que pode ajudar a diminuir o apetite e a sensação de fome" - Lúcia Flávia Carpilovsk, nutróloga (foto: SXC.hu / Banco de Imagens)
Quase tudo que se diz sobre a água com gás não se sustenta cientificamente. Se você já ouviu, por exemplo, que o consumo do líquido prejudica a saúde óssea, o vice-presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia, Gustavo Lamego, afirma que essa relação não se sustenta na literatura médica. Geralmente comparada aos refrigerantes, em razão da presença do dióxido de carbono, característica comum às duas bebidas, é aí que está a raiz das muitas informações equivocadas disseminadas popularmente. “A água com gás passa por um processo industrial igual ao dos refrigerantes para a retirada do oxigênio e o acréscimo de gás carbônico, um tipo de ácido fraco. É esse processo que a deixa borbulhante e efervescente”, afirma a nutróloga e endocrinologista Alice Amaral. As semelhanças param por aí. Segundo a especialista, a água com gás é uma bebida sem caloria, assim como a natural, e ambas hidratam o corpo da mesma forma.

A recomendação clássica do consumo diário de água é de dois litros ou oito copos. Como o corpo humano é quase 70% água, é muito importante mantê-lo hidratado para o bom funcionamento do organismo. Se a aparência da urina está mais escura do que o usual, nas cores amarelo-escuro, âmbar ou mel, pode ser um sinal de desidratação. A água ingerida durante o dia tem relação direta com a concentração urinária. Assim, quando a quantidade consumida é a correta, a urina fica bem diluída e com a cor amarelo-claro.

No entanto, apesar de existir um parâmetro indicado, o consumo ideal de água vai variar de pessoa para pessoa e de acordo com o clima. Quem vive em países mais quentes precisa de mais água. Quem pratica atividade física e, portanto, perde água na transpiração também precisa ser mais cuidadoso e tomar mais do que oito copos por dia. O corpo do idoso também é naturalmente mais desidratado que o de um adulto. Portanto, quem já passou dos 60 anos precisa redobrar a atenção com a hidratação. Para se ter como uma segunda referência, Alice Amaral recomenda, no mínimo, um litro de água por dia a cada 35 quilos de peso corporal. “Uma pessoa de 105 quilos deve tomar três litros de água por dia”, ilustra. E para quem tem dificuldade em atingir a meta diária, uma dica é usar algum aplicativo para celular que emita avisos sonoros e avise a hora de beber água.

Para Alice Amaral, a importância da água para a saúde é tão significativa que a hidratação deveria ser uma preocupação inicial em qualquer consulta médica. “No entanto, é difícil um paciente ir a um especialista e o médico abordar esse assunto. A hidratação está subentendida, mas sabemos que essa não é uma preocupação de todas as pessoas. Tanto é que há quem diga que não gosta de água”, pondera. É nesse ponto que a médica considera a água com gás uma opção interessante, já que, pela presença do gás, tem um efeito mais refrescante, ponto positivo principalmente nos dias quentes.

Endocrinologista do Hospital Adventista Silvestre, Lúcia Flávia Carpilovsky confirma que a água com gás é uma opção saudável, como a que sai do filtro, e também pode ser priorizada na hidratação. Isso porque mesmo os sucos naturais sem adição de açúcar têm os seus poréns. “Além de o suco natural ter caloria, ele deve ser consumido com moderação por quem tem diabetes. Já a água é uma bebida livre de contraindicação. A única exceção é a pessoa com algum problema renal grave de restrição hídrica”, afirma.

Dessa forma, para quem não é muito fã de beber água, a gaseificada pode, sim, substituir a comum, só não pode ser a única fonte de hidratação do dia. “Em excesso, a água com gás pode irritar a mucosa do estômago de pessoas predispostas a problemas gastrointestinais”, explica.

SACIEDADE
Um ponto positivo da água com gás como alternativa à hidratação é a sensação de saciedade provocada pela bebida. Isso porque, de acordo com o nutrólogo José Alves Lara Neto, ocorre uma distensão provisória da musculatura lisa do estômago. Para Lúcia Flávia Carpilovsky, esse aspecto pode ser interessante para quem deseja emagrecer. “Para quem come por ansiedade, a água com gás gera uma plenitude gástrica que pode ajudar a diminuir o apetite e a sensação de fome”, diz.

A especialista afirma também que já se chegou a acreditar que a água com gás ajudava a acelerar o processo digestivo e a bebida era, inclusive, utilizada por pessoas com algum distúrbio gástrico. No entanto, ela não deve ser usada como alternativa aos remédios para azia e má digestão, porque não vai melhorar os sintomas. “A sensação inicial é uma coisa, mas ela não vai perdurar”, pondera.

A nutróloga Alice Amaral concorda e diz que qualquer problema de digestão deve ser tratado como assunto de saúde e o recomendado é procurar um especialista. “O que ocorre é que a água com gás favorece a eructação (arroto), que dá uma sensação de alívio, porque diminui a pressão do abdômen. No entanto, quem sofre com azia ou má digestão é quem não está se alimentando bem. E não adianta comer mal, usar a água com gás para ‘tapar o sol com a peneira’ e criar uma cascata de problemas”, afirma.

Outro mito em relação à água com gás é que ela favoreceria o aparecimento da celulite. Novamente, essa ideia está sustentada na falsa comparação que se faz entre a bebida e os refrigerantes. “Os alimentos ricos em açúcar, como são os refrigerantes e os sucos de caixinha, é que são os responsáveis por esse problema estético”, esclarece Lúcia Flávia Carpilovsky.

Para Alice Amaral, o ponto positivo da água com gás é que ela limpa as papilas gustativas, realçando o sabor do alimento e aumentando a sensação de prazer. “Tomar um pouco de água com gás antes do vinho ou do café acentua o sabor do que se está experimentando”, observa. Já para José Alves Lara Neto, é importante dizer que, “tirando a sensação do prazer, a água com gás não tem nenhum benefício extra para a saúde, se comparada à natural”.

Todos os especialistas são unânimes ao afirmar que os refrigerantes não devem substituir a água para matar a sede. Em relação à água com gás aromatizada, a recomendação é que se opte pela bebida apenas se, na composição, não houver adição de açúcar. No caso de crianças, essa recomendação é ainda mais séria. “Até os 3 anos, não é recomendado oferecer açúcar às crianças, porque aumenta a chance de meninos e meninas crescerem com uma necessidade maior desse alimento. Nessa fase, o único açúcar que deve ser consumido é o que vem da fruta. Ou seja, nada de refrigerante”, alerta a nutróloga.

A sugestão dos especialistas em relação à água com gás para as crianças é não oferecer a opção gaseificada como alternativa à natural, já que é importante que, ainda na infância, se adquira o hábito e gosto pela água. “A natural é sempre melhor”, afirma a médica.

EMBALAGENS
A nutróloga Alice Amaral sugere aos adeptos da água com gás que deem preferência às embalagens de vidro, apesar de estarem cada vez mais raras. A especialista reforça que as de plástico contêm bisfenol A, substância que pode ser liberada pelo aquecimento da temperatura. “No próprio transporte do produto, por carreta ou caminhão, o sol aquece essa garrafa, que vai liberar o bisfenol A. Essa substância age como disruptor endócrino, desregularizando o sistema hormonal e favorecendo, por exemplo, o desenvolvimento de câncer de mama e de próstata. Também não se deve deixar garrafinha de plástico dentro do carro”, explica.


Para ser considerada água mineral, é necessário o mínimo de 500mg de minerais por litro de água e a água com gás pode ou não ser enriquecida por minerais. A água natural com gás é também chamada água carbonatada, ou seja, é aquela gaseificada naturalmente, que sai assim direto da fonte. Segundo Alice Amaral, é difícil envasar a carbonatada para comercialização, porque o dióxido de carbono se perde no processo de engarrafamento.