Brasil abre primeira unidade cirúrgica para pacientes com síndrome de Down e outras necessidades específicas

Local já foi inaugurado e funciona no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ

por Agência Brasil 21/10/2015 10:36

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Reprodução Internet / Movimento Down
Clique aqui e acesse o 'Guia de Estimulação para Crianças com Síndrome de Down' produzido pelo Movimento Down (foto: Reprodução Internet / Movimento Down)
A primeira unidade cirúrgica do país para acolher pessoas com síndrome de Down e outras necessidades específicas já está em funcionamento. O local foi inaugurado na sexta-feira (16/10), no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Diretor-geral do hospital, Eduardo Côrtes afirmou nesta terça-feira (20/10) que não se trata de um centro cirúrgico específico para pacientes com Down, mas de uma unidade com mais privacidade para pacientes e familiares. “Nossas enfermarias são de quatro e seis leitos. Às vezes, as pessoas com síndrome de Down falam com muita dificuldade, engolem com muita dificuldade. Por isso, tem de colocar a família junto. A sala cirúrgica é comum, mas a unidade é um quarto espaçoso, com sofá-cama e espaço para toda a família ficar, inclusive com um banheiro específico.”

Segundo Côrtes, ainda não se sabe qual a demanda pelo serviço. “Isso nunca existiu, mas que o hospital está aberto para quem precisar. Não tem fila. Pode chegar que vamos atender. Pode procurar direto, mas o encaminhamento é mais adequado, porque a pessoa precisa de um hospital de apoio perto de casa. Então, é melhor procurar o posto de saúde para ser encaminhado. Mas não vamos burocratizar. Se a pessoa for lá, vamos avaliar e, se for um caso cirúrgico, vamos operar.”

O diretor lembrou que o hospital não tem atendimento ambulatorial para portadores da síndrome de Down, apenas a parte cirúrgica. Côrtes esclareceu que a ideia de abrir a unidade de internação surgiu quando o hospital atendeu uma paciente que tentou durante três anos uma cirurgia de vesícula e era recusada por outros hospitais da rede pública.

“Ela estava há três anos tentando a cirurgia. Já tinha tido quatro crises de vesícula e deu sorte de não ter morrido nessas crises, porque o cálculo migra e pode dar uma infecção. É uma paciente que não fala, não anda, não engole nada sólido e tem de ter comida líquida ou pastosa. É muito limitada a parte cognitiva.É uma pessoa dependente de cuidados especiais. Foi uma luta para a família. Isso nos inspirou a criar essa unidade e nos preparar para isso.”

A médica pediatra Ana Claudia Brandão, responsável pelo programa de síndrome de Down do Hospital Israelita Albert Einstein, informou que a condição genética gera aumento da frequência de algumas doenças nessa população, sem necessidade de tratamentos diferenciados.

“As crianças nascem com mais chances de alterações cardíacas, algumas com má-formação intestinal, problemas de tireoide, visão e audição. A puericultura não é diferente de todos os demais bebês, mas tem essas doenças que são mais frequentes. O médico precisa estar bem treinado para não perder o diagnóstico, porque tudo é tratável e se não tratar vai comprometer o desenvolvimento desse bebê, o desenvolvimento cognitivo dele.”

Segundo ela, que faz parte do Movimento Down, é preciso melhorar a formação do médico para lidar com portadores da síndrome. “Nesse sentido, acredito que, por enquanto, nossa população de médicos não está bem treinada para conhecer as especificidades das crianças e das pessoas com Down. Talvez seja interessante ter serviços clínicos específicos, de acompanhamento clínico de saúde, com realização de exames periódicos de avaliação para visão, audição e problema de tireoide, que são os problemas mais comuns das pessoas com síndrome de Down.”

De acordo com Ana Claudia, portadores da síndrome são mais propensas a desenvolver diabetes, doença celíaca, algumas leucemias e problemas ortopédicos. Côrtes acrescentou que também são comuns alterações dentárias, de drenagem nos seios da face e na coluna vertebral, que podem ser corrigidas cirurgicamente.

Conforme a médica, a síndrome de Down, também chamada de trissomia do cromossomo 21, não é uma doença, mas uma condição genética na qual os indivíduos apresentam três cromossomos 21 e não dois como na maior parte da população. De acordo com o Movimento Down, a estimativa é que existam 270 mil pessoas no Brasil com a síndrome.

Eduardo Cortês adiantou que o Hospital Universitário está organizando um simpósio sobre cirurgias em síndrome de Down para médicos e profissionais de saúde, além de palestras para as famílias. O encontro deve ocorrer em dezembro.